SAÚDE DO CORAÇÃO

DR. JOÃO JOAQUIM DE OLIVEIRA

Ser médico

Todas as profissões podem ser muito, pouco ou nada humanas na medida em que os seus agentes (profissionais) se fazem passar por pessoas muito, pouco ou nada humanas. Pode até sugerir um paradoxo ou nonsense esta locução “pessoa humana”. Mas, o sentido é figurado. Há indivíduos tão maniqueístas, tão egoístas, tão autômatos nas suas relações sociais (sociais?) que sua formação e conduta parecem ser destituídos dos atributos humanos; quais sejam a fraternidade, a gentileza, o respeito ao outro (ou diferente), a compaixão, a humildade; enfim sem tantos sentimentos e virtudes, marcas maiores de nossa humanidade.

Eu vou buscar o exemplo onde eu atuo, a medicina, pela vivência e experiência de três décadas. A medicina representa em campo de atuação, onde os profissionais que a escolhem deveriam fazê-lo por absoluta vocação e sacerdócio. É difícil fazer um estudo estatístico sobre o motivo desta escolha. Eu nunca vi alguma pesquisa a este respeito. Contudo, de forma empírica e por observação, posso afirmar com muita convicção que muitos médicos fizeram esta opção profissional levando em conta outros quesitos que não o vocacional.

Sem dúvida que o trabalho do médico ainda é revestido de muito glamour, ** de muita distinção social. Basta lembrar que por uma questão cultural, médico e advogado são chamados de doutor sem de fato deter esta formação acadêmica. Isto demonstra o quanto a sociedade cultua admiração e respeito pelo médico. Esta, sem dúvida, constitui um dos motivos de a medicina ser ainda uma das profissões mais procurada por nossa juventude.

Nos quesitos remuneração e retorno financeiro duas considerações a fazer. Em se tratando de serviço público, médico é tratado e pago como outro profissional qualquer. Para os gestores públicos, saúde e educação não geram muita visibilidade para o patrão (governo), não trazem muitos votos. Portanto, são profissões pouco valorizadas pelos políticos.

No âmbito privado o retorno financeiro vai depender da especialidade escolhida e qualificação profissional. Se o médico tiver uma ótima formação ética e técnico-científica em por exemplo cirurgia plástica, oftalmologia ou em exames de imagem de ponta, com certeza ele será muito bem remunerado na profissão.

Reporto-me à profissão como uma vocação e sacerdócio. Das várias profissões humanistas, eu tenho a medicina como a de maior relevo e nobreza. Basta realçar que ela envolve uma missão do cuidado, do amparo, da compaixão, do lenitivo, do alívio da dor, do consolo e da cura. Nada aproxima mais o médico de Deus do que dar saúde a outro homem, dizia Cícero (filósofo romano).

Independentemente de ter uma remuneração digna e justa o médico deve atender de forma ética e científica a todo paciente sob sua orientação; não importam os atributos físicos ou cívicos e sociais dessa pessoa. O compromisso maior do profissional de saúde deve ser com a saúde e vida do paciente. O bom médico nunca deve se considerar um herói ou semideus, pelos seus feitos em remediar, aliviar a dor ou salvar o paciente. Vaidade e vedetismo são vícios de caráter que não devem compor a postura profissional. A relação médico/paciente deve ser pautada sempre na cumplicidade e confiança mútua. A natureza e fisiologia de cada pessoa são grandes aliadas em qualquer tratamento, e elas se revigoram nesta relação de confiança e respeito.

Eu costumo, sempre que inquirido, dizer que me considero um médico privilegiado e abençoado por Deus e pelo destino. Sou pago para fazer o bem e ajudar da melhor forma possível os melhores pacientes, cercados dos melhores estudantes e dos melhores pares de profissão. Isto porque trabalho em um dos hospitais universitários dos mais humanizados de Goiás. O Hospital das Clínicas da UFG. Se ali carece de mais atenção dos gestores de saúde, de mais conforto na estrutura física e equipamentos médicos, não faltam o empenho, a dedicação, o amor, a melhor, a mais humana e comprovada qualificação profissional e ética de todos os membros das equipes de saúde.

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