OPINIÃO

DIVERSOS

O LÚDICO E A APRENDIZAGEM: UMA PARCERIA DE SUCESSO – Elísia de Souza Vasconcelos

O LÚDICO E A APRENDIZAGEM: UMA PARCERIA DE SUCESSO

 

Vasconcelos, Elísia de Souza

Licenciatura Plena em Pedagogia – UEG

Especialização – Metodologia do Ensino de Linguagem-UNOPAR

Graduanda em Licenciatura Plena em Educação Física – IPEMIG

elisalfll@hotmail.com

RESUMO

Marcellino (1990) defende a escola como espaço de liberdade de criação e menciona que a sociedade, como um todo, ao ditar padrões capitalistas transformou a escola num ambiente sombrio de reprodução dos interesses do grupo dominante. Porém, a escola deve ser vista como um ambiente prazeroso e atrativo, onde tanto o educando como o educador possa realizar trocas de experiências e conhecimentos. Assim, o presente estudo teve como objetivo principal compreender como o lúdico pode refletir na qualidade do ensino nos primeiros anos do Ensino Fundamental. A metodologia utilizada enquadra-se dentro de um estudo de caso, característica de uma abordagem qualitativa descritiva. Como escola campo foi escolhida a Escola Municipal Vilanir de Alencar Camapum, localizada no município de Uruaçu/GO, tendo como foco de observação o 2º ano A, do turno vespertino, onde foi realizada também a pesquisa de campo. Através do registro sistemático da prática docente desenvolvida na classe em estudo e da coleta de dados sob forma de entrevistas com educadores e gestores foi possível perceber que a ludicidade é uma alternativa para assegurar o sucesso do processo ensino-aprendizagem. Porém, para que haja ações verdadeiramente lúdicas, torna-se necessária a formação da comunidade escolar, visto que jogos, brinquedos e brincadeiras não devem ser utilizados apenas como forma de lazer, em ambientes separados, e sim nas salas de aula como recursos pedagógicos para a construção de uma aprendizagem mais significativa e prazerosa, tornando a escola um ambiente alegre e atrativo.

 

1.   INTRODUÇÃO 

A qualidade de ensino reflete na formação de educadores e educandos, pois a construção da aprendizagem acontece num processo de parceria que envolve todo o contexto escolar e familiar da criança. Sendo assim, aulas inovadoras e atraentes são importantes para os alunos.

Neste sentido, a importância do uso do lúdico, nos primeiros anos do Ensino Fundamental é essencial para garantir ações gratificantes, onde o aluno passa a ser protagonista de sua própria aprendizagem. Além disso, não há como a escola, principalmente nos anos iniciais, romper com a ligação da criança com ações lúdicas, uma vez que as brincadeiras e os brinquedos são marcantes em seu cotidiano.

Assim, cabe à escola, dar continuidade ao espaço criativo do aluno, através do uso do lúdico que é uma forma de conviver com o prazer e a alegria do brincar, transformando o ensinar e o aprender, pois o ato educativo não se restringe à simples relação do ensinar – aprender, seu alcance está para além dos muros da escola.

Devido à relevância desse tema, este estudo apresenta algumas reflexões sobre a ludicidade, através da abordagem de diferentes autores. Aborda, também, a importância da ludicidade para a aprendizagem e traz o registro do estudo de caso realizado na sala de aula do 2º ano A, da Escola Municipal Vilanir de Alencar Camapum, do município de Uruaçu/GO.

Através deste trabalho, foi possível perceber que a educação lúdica é realmente o caminho para garantir a permanência do aluno com sucesso na escola. Com o desenvolvimento do mesmo, espera-se responder à problemática que deu origem ao estudo e conhecer a aplicabilidade do lúdico em sala de aula.

 

2.   A LUDICIDADE E SUA IMPORTÂNCIA NA APRENDIZAGEM 

É preciso resgatar o lúdico, uma vez que este é uma forma de desenvolver um trabalho voltado para a diversidade cultural e despertar na criança o prazer e a vontade de aprender.

Neste sentido, existem algumas situações onde a ludicidade, independente da metodologia utilizada pelo professor se torna fundamental para a aprendizagem da criança, existindo ainda, a possibilidade do lúdico como meio de conseguir a participação ativa das crianças na construção do próprio conhecimento. Assim, pensar na utilização de atividades lúdicas no cotidiano escolar implica em repensar a prática pedagógica, desenvolvendo mudanças significativas no ambiente educacional.

Dessa forma, entende-se que o uso constante de atividades lúdicas no contexto escolar, pode promover a aprendizagem e melhorar a qualidade das aulas, de um modo geral, uma vez que, tornam a sala de aula mais alegre e favorável à aprendizagem. De acordo com Dohme

 

As atividades lúdicas podem colocar o aluno em diversas situações, onde ele pesquisa e experimenta, fazendo com que ele conheça suas habilidades e limitações, que exercite o diálogo, a liderança seja solicitada ao exercício de valores éticos e muitos outros desafios que permitirão vivências capazes de construir conhecimentos e atitudes. Quais, como e quando usar estes instrumentos lúdicos é tarefa do professor, que determinará os objetivos e o planejamento de como irá alcançá-los (2003, p.113).

 

Dohme (2003) ainda acrescenta que este planejamento deve ser feito seguindo a mesma estrutura de um planejamento tradicional, mas usando atividades lúdicas como metodologia. Por isso, necessário se faz uma auto-análise, pois é preciso, em primeira instância que o professor queira adotar uma nova prática, que permita assumir uma postura metodológica, apostando no lúdico como estratégia para assegurar aulas mais dinâmicas e envolventes.

Dessa forma, aprender terá um significado único, particular, pois cada aluno irá internalizar o processo e abstrair conceitos diferenciados sobre a atividade desenvolvida. Esses conceitos, quando partilhados no grupo, poderão enriquecer a bagagem de conhecimentos tanto do professor quanto dos alunos.

Assim, desenvolver atividades lúdicas pressupõe também a utilização dos espaços disponíveis no ambiente escolar, fugindo da rotina da sala de aula, pois o ambiente é fundamental se oferecer as condições favoráveis para o desenvolvimento de atividades lúdicas.

Sobre a sala de aula, Fazenda (1994) afirma que ela deve ser um ambiente em que o autoritarismo deve ser trocado pela livre expressão da atitude interdisciplinar.

Já Masseto (1992) expressa seu desejo de que as aulas sejam vivas e num ambiente de interrelação e convivência. Porém, para que isso aconteça, o professor precisa estar qualificado e preparado para reestruturar sua prática pedagógica, jogando fora conceitos arcaicos sobre a educação.

Várias pesquisas realizadas sobre a aprendizagem constataram que com o uso de atividades lúdicas, a criança explora de forma mais intensa a sua criatividade, além de obter melhoria também no processo ensino-aprendizagem e elevar sua autoestima.

Neste sentido, o lúdico deve estar presente em todas as fases da vida do ser humano, pois oportuniza momentos prazerosos de aprendizagem tanto para as crianças como para os adultos. Na infância, nos primeiros anos de escolarização assume a importante função pedagógica. Muitas vezes, a criança não gosta de estudar e não quer permanecer na escola porque esta se apresenta triste e monótona, ou seja, não é prazerosa.

Sobre a aprendizagem através de atividades lúdicas, Kishimoto afirma que

 

Brincando     as     crianças     aprendem    a cooperar com    companheiros, a obedecer as regras do jogo, a respeitar o direitos dos outros, a acatar a autoridade, a assumir responsabilidades, a aceitar penalidades que lhe são impostas, a dar oportunidades aos demais, enfim, a viver em sociedade (KISHIMOTO, 1993, p. 110).

 

Com estas palavras, o autor deixa bem claro que ao utilizar atividades lúdicas, além de oportunizar uma aprendizagem dos aspectos cognitivos, o professor oportuniza ao aluno também o desenvolvimento de habilidades emocionais e afetivas, fazendo com que o mesmo consiga interagir de forma saudável no grupo em que está inserido.

Marcellino (1990) defende a escola como espaço de liberdade de criação e menciona que a sociedade, como um todo, ao ditar padrões capitalistas transformou a escola num ambiente sombrio de reprodução dos interesses do grupo dominante.

Assim, é preciso fazer com que a escola defenda não somente os direitos de um pequeno grupo, mas que se torne um espaço privilegiado de criação e descobertas, onde a criança tenha liberdade de manifestar todas as suas reais potencialidades, criando, pensando, refletindo e agindo, de forma a se tornar sujeito ativo na construção de seu conhecimento.

Mas, isso não significa que a escola não seja um espaço sério, porém nem por isso precisa ser castradora. A seriedade deve ser em relação à qualidade da educação e formação da criança, mas não na forma de interação com os alunos que devem sentir prazer de freqüentar a escola. Um dos caminhos para atrair o aluno é resgatar o lúdico, pois assim, o aluno se sentirá envolvido pelo processo ensino-aprendizagem.

Porém, para que a escola se torne um espaço que privilegia a ludicidade é preciso se reestruturar, sobretudo no que diz respeito à prática educativa e metodologia desenvolvida pelo corpo docente. Segundo Nóvoa (1995), tudo se decide no processo de reflexão que o professor leva a cabo sobre sua própria ação.

Por isso, necessário se faz uma auto-análise sobre a metodologia utilizada nas salas de aula, pois é preciso, em primeira instância que o professor queira assumir uma postura lúdica, para assegurar aulas mais dinâmicas e envolventes.

Mas, assumir uma postura lúdica não é somente utilizar jogos e brincadeiras em sala de aula. É desenvolver a sensibilidade e promover uma mudança interna e afetiva, pois a ludicidade exige que o educador, além da fundamentação teórica necessária para seu trabalho, que ele forme novas atitudes e que abandone os conceitos tradicionais já internalizados.

Para Fortuna (2001), em uma sala de aula ludicamente inspirada, convive-se com a aleatoriedade, com o imponderável; o professor renuncia à centralização, à onisciência e ao controle onipotente e reconhece a importância de que o aluno tenha uma postura ativa nas situações de ensino, sendo sujeito de sua aprendizagem; a espontaneidade e a criatividade são constantemente estimuladas.

Assim, o aluno participa ativamente de todas as etapas da aula, passa a fazer parte da tomada de decisões, estabelecendo em parceria com o professor, o planejamento, o desenvolvimento e também a avaliação da aula. Dessa forma, o aluno abandona a situação passiva, de ficar apenas escutando e passa à ação, tornando-se sujeito e protagonista de sua própria aprendizagem.

De acordo com Elias (2000, p.198 apud DOHME, 2003, p.117), o educando (criança ou adulto) não é passivo, mero receptor, mas está em constante atividade, tudo quer conhecer, cabendo à escola não anular esta vivacidade e esse interesse de imposições e, sim, ativá-los constantemente.

Dessa forma, é preciso que a escola trabalhe no sentido de atender a essa expectativa de conhecer e não desmotivar o aluno, com aulas desprovidas de significado para ele. É preciso conhecer a bagagem de experiências de vida que o aluno traz para a escola e apresentar situações desafiadoras onde ele possa partilhar essas experiências com outras crianças e ao mesmo tempo ampliar seus conhecimentos, pois a aprendizagem torna-se uma via de mão dupla onde o ensinar e aprender caminham sempre juntos. Neste sentido, afirma Santos (2002):

 

Ao valorizar as atividades lúdicas como um meio a mais na alavancagem dos processos de desenvolvimento e aprendizagem, requer concomitantemente pensar a preparação daqueles que se dispõem atuar neste campo emergente, qualificando os instrutores (pedagogos em geral) que deverão atuar com os atuares (crianças, jovens, adultos e idosos) nas mais variadas faixas etárias (SANTOS, 2002, p. 83).

 

Com essas palavras, o autor enfatiza que as atividades lúdicas podem ser trabalhadas em todas as faixas etárias e não somente com as crianças. Mas, para que isso se torne realidade é preciso investir na formação dos educadores que ainda oferecem resistência para desenvolver atividades lúdicas por acreditarem que as mesmas comprometem o desenvolvimento dos conteúdos da matriz curricular.

É preciso entender, porém, que a atividade lúdica não representa apenas as características de prazer para a criança. Segundo Rosamilha (1976. apud SANTOS, 2002, p.75) importa destacar, sim, que o significado da vivência do elemento lúdico da cultura da criança não é único, mas múltiplo. Significa evasão e inserção da realidade, embora alguns autores destaquem somente este último aspecto.

Assim, o autor reafirma a ideia de que, através do lúdico a criança libera sua criatividade, expressando de forma livre seus anseios e expectativas, o que facilita a construção de novos conhecimentos.

Além disso, alguns aspectos precisam ser levados em consideração no processo de ensino-aprendizagem, como também no uso do lúdico, uma vez que esse não deve ser utilizado de forma aleatória, sem planejamento prévio ou objetivos específicos, como enfatiza Zabala:

 

É necessário prestar atenção à adequação entre as propostas e as possibilidades reais de cada menino e menina. Esta necessidade de adequação diversificada dos desafios obriga a questionar a excessiva homogeneidade das propostas que facilmente, pelo fato de implicar para todos o mesmo trabalho, podem excluir aqueles que não encontrem sentido num processo que, supostamente, não lhes trará nenhuma satisfação. (1998, p. 97).

 

Neste sentido, cabe aos professores a sensibilidade de trabalhar a partir da diversidade lúdica, buscando envolver seus alunos nas atividades de forma criativa sem medo de errar e se isso acontecer, existe o tentar de novo, o refazer com mais experiência e criatividade. Nas atividades lúdicas, o erro não é condenável, pois ele se torna a referência para a reflexão e planejamento de novas ações, de uma reestruturação de metodologia para conseguir o sucesso na aprendizagem.

Ao oportunizar ao aluno o convívio com novas situações e novos desafios, o professor estará ao mesmo tempo oferecendo-lhe a oportunidade de um crescimento intelectual como também a conquista de sua autonomia.

De acordo com Faria (1997, p.10) “se a criança desenvolve a imaginação e se ela tiver a curiosidade desenvolvida, ela poderá romper as várias situações que surgirão durante a vida e solucionar problemas futuros”.

Neste sentido, as atividades lúdicas tornam-se um excelente recurso, pois instigam a curiosidade e motivam o aluno para participar das aulas e criar novas situações de aprendizagem. Outro aspecto que se deve considerar é que a ludicidade oportuniza o desenvolvimento da auto-estima e da autoconfiança do aluno, uma vez que ele se envolve por inteiro, sem medo de errar. A autoconfiança é fundamental para que a criança tenha um desenvolvimento saudável e adquira maturidade para o enfrentamento dos desafios que se colocam diariamente à sua frente.

Desse modo, brincando a criança vai construindo e compreendendo o mundo ao seu redor, vai construindo hipóteses e criando situações problemas que nortearão para uma verdadeira aprendizagem.

Entende-se assim que o lúdico está relacionado a tudo o que possa nos dar alegria e prazer, desenvolvendo a criatividade, a imaginação e a curiosidade, desafiando a criança a buscar soluções para problemas com renovada motivação.

Assim, a sala de aula deve se tornar um ambiente favorável à brincadeira, de modo que o professor consiga conciliar os objetivos pedagógicos com as expectativas do aluno. Encontrando o equilíbrio entre o seu fazer pedagógico e o interesse do aluno, o professor estará contribuindo para a formação de um indivíduo autônomo e responsável.

De acordo com Piaget (1978) as crianças só são livres quando brincam entre si, dentro de suas faixas etárias: é nesta ocasião que, verdadeiramente, criam e desenvolvem sua autonomia. O melhor brinquedo didático para uma criança é outra criança da mesma faixa de desenvolvimento.

Neste sentido, a sala de aula torna-se o ambiente adequado para o desenvolvimento de brincadeiras, uma vez que reúne um grupo de crianças da mesma faixa etária. Assim, ao brincar, as crianças estarão, ao mesmo tempo, construindo conhecimentos que lhe serão úteis em situações reais de aprendizagem.

Para entender a importância da brincadeira para o desenvolvimento da criança é preciso observá-la brincando. Através da brincadeira, a criança cria seu próprio aprendizado, forma sua personalidade, cria situações que oportunizam a elaboração de conceitos importantes para a construção do conhecimento. Por mais simples que possa parecer os atos de uma criança na brincadeira, estes representam muito para o desenvolvimento cognitivo, uma vez que a sensibilidade lúdica da criança lhe permite fantasiar, criar e estabelecer comparações.

A escola precisa aproveitar mais o aspecto educativo da ludicidade, pois esta, além de assegurar a aprendizagem, cria a oportunidade de interação e socialização com outras crianças e com os educadores, estabelecendo laços de afetividade, tão importante para o desenvolvimento intelectual da criança, uma vez que as áreas afetivas e cognitivas estão intimamente interligadas.

Assim, segundo Dohme (2003), o professor é visto como gerente do processo educacional, pois é ele que tem habilidade de distinguir as características de cada aluno e desenvolvê-las para, como um maestro, harmonizar cada um de “seus instrumentos” de forma que a música apresentada seja bela e aproveite os melhores acordes de cada um.

Dohme (2003) afirma que as atividades lúdicas, pelas suas próprias características, podem possibilitar o convívio com as mais diversas habilidades. Elas poderão atender tanto as crianças que têm pendores para a arte, como aquelas que possuem destreza física.

Assim, o aluno terá oportunidade não somente de manifestar suas habilidades, mas de exercitá-las, aprimorá-las e até descobri-las, fator fundamental para obter sucesso na sociedade globalizada em que estamos inseridos, onde o esquema social gera um acelerado aumento de oportunidades, uma enorme concorrência e o surgimento de novas profissões, onde novas habilidades passam a ser absorvidas.

Cabe ao professor buscar alternativas diversificadas para oportunizar o desenvolvimento integral do aluno para que ele possa exercer de forma consciente seu papel de cidadão. Neste sentido, as atividades lúdicas representam uma ótima alternativa, pois poderão auxiliar tanto no desenvolvimento sócio-afetivo quanto cognitivo, fazendo com que o aluno construa seu conhecimento de forma prazerosa.

 

3  DESCRIÇÃO DO ESTUDO DE CASO 

A prática pedagógica dos educadores ainda se encontra pautada no tradicionalismo, pois muitas vezes, o educador não se encontra devidamente preparado para assumir uma mudança de postura e trabalhar de forma mais livre e criativa, adotando uma linha de atuação mais lúdica. Assim, para refletir sobre esta problemática e também para fazer uma confirmação entre o referencial teórico e a realidade escolar do município de Uruaçu, foi realizada uma pesquisa de campo do tipo descritiva exploratória.

 

3.1  DESCRIÇÃO DO CASO A SER PESQUISADO 

Para compreender a importância de se trabalhar de forma lúdica, foi necessário conhecer a opinião de vários educadores e gestores que atuam no Ensino Fundamental da Escola Municipal Vilanir de Alencar Camapum. Assim, cinco professores e três representantes do grupo gestor desta instituição constituem o grupo de educadores que contribuíram para a realização desta pesquisa.

 

4  COLETA DE DADOS 

Como instrumento de pesquisa, foi utilizado um questionário que possui perguntas abertas, aplicadas sob forma de entrevista pessoal aos educadores e gestores da escola campo, localizada na periferia do município de Uruaçu.

Desta forma, as entrevistas realizadas foram imprescindíveis para aprofundamento da temática em estudo, pois vieram responder a problemática e hipóteses elencadas no início das investigações.

Como instrumento de pesquisa foi utilizado um questionário que constou de seis perguntas subjetivas, aplicadas sob a forma de entrevista pessoal a cinco professores do Ensino Fundamental e representantes do grupo gestor da Escola Municipal Vilanir de Alencar Camapum. Após a explicação sobre a finalidade do estudo, os professores e gestores colaboraram bastante com a realização da mesma.

Assim, o universo deste estudo foi representado por oito educadores, sendo cinco professores regentes dos anos iniciais e três profissionais do grupo gestor, do sexo masculino e feminino.

 

5  ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS

O uso do lúdico para assegurar a aprendizagem significativa e prazerosa dos alunos nos anos iniciais do Ensino Fundamental é primordial. Neste sentido, esta etapa apresenta o resultado da pesquisa de campo e estudos de caso, uma vez que apresenta situações reais e de fácil aplicação de atividades lúdicas em sala de aula.

Embora    represente    apenas    uma    pequena   amostra    das    infinitas possibilidades diárias no cotidiano escolar, as reflexões aqui apresentadas têm o objetivo de afirmar que a escola pode se tornar um ambiente alegre e agradável.

Assim, um aspecto de bastante relevância no uso de atividades lúdicas para os primeiros anos do Ensino Fundamental requer a verificação dentro da escola e da própria sala de aula. Saber como são executadas as atividades para os alunos é primordial na defesa deste trabalho, pois aproxima a pesquisa bibliográfica com a realidade da prática educativa.

Neste sentido, a observação foi de forma total, porém serão registrados apenas fatos que poderão contribuir na perspectiva transformadora do uso de atividades lúdicas para os alunos dos primeiros anos do Ensino Fundamental.

Para essa ação foi utilizada como escola campo, a Escola Municipal Vilanir de Alencar Camapum que atende o Ensino Fundamental do Jardim ao 5º ano, nos períodos matutino e vespertino, localizada na periferia do município de Uruaçu.

Trata-se de uma classe formada por alunos semi-alfabetizados, pois com o processo de aprovação automática do 1° ano para o 2º ano, os alunos na referida turma se encontram em heterogeneidade bastante acentuada, sendo que alguns alunos apresentam dificuldades de aprendizagem. Cabendo assim, aos professores a mais complexa tarefa de ensino e aprendizagem, principalmente no que concerne a alfabetização.

A observação da turma selecionada para a pesquisa aconteceu durante o mês de fevereiro de 2022. Neste período, foram observados todos os aspectos referentes ao universo educativo dos alunos, seus contextos, a atuação do professor, o acompanhamento e o desenvolvimento dos alunos como também toda a escola.

As estratégias utilizadas para observação foram realizadas de forma sistemática e intensiva deixando claro aos professores os objetivos da pesquisa, que busca com o trabalho diário, registrar o que há de relevante em se tratando de atividades lúdicas, deixando claro que tudo que é realizado com prazer se torna lúdico. Sendo assim, até uma aula expositiva se for envolvente, torna-se lúdica.

Dando continuidade aos trabalhos com esta pesquisa, priorizando o uso de atividades lúdicas, foi observado que em todas as aulas de Educação Física há boa participação dos alunos. As atividades são realizadas no pátio e às vezes na quadra. A professora de Educação Física trabalha com conteúdos completamente recreativos, apesar de ser apenas duas aulas de 45 minutos por semana.

É lamentável que não haja ligação com as atividades da sala de aula, tornando assim um trabalho separado e fragmentado. Bom seria, se todas as aulas fossem planejadas de forma interdisciplinar, pois assim, haveria maior aproveitamento das ações lúdicas, unindo o que se faz dentro da sala de aula com as brincadeiras recreativas no pátio. Alguns exemplos das atividades realizadas nas aulas de Educação Física são: futebol, queimadinha, pula corda, o mestre mandou três marinheiros, seu ratinho, estátua e outras.

As escolas da rede municipal de Ensino Fundamental recebem diretamente da Secretaria da Educação os programas de ensino a serem seguidos, em cada bimestre, nele constam todos os conteúdos com as habilidades e competências a serem desenvolvidas com os alunos. Sendo assim, os professores se encontram obrigados a cumprirem o programa a eles enviado de cima para baixo e não encontram tempo para buscar inovações que possam ativar a criatividade e competências dos alunos. Porém, mesmo com todas as cobranças citadas, o bom professor é capaz de fazer a diferença.

Em uma atividade de Língua Portuguesa, a professora da sala de aula observada utilizou dois textos infantis, enfocando que se tratava de textos narrativos com um único título e diferentes versões. A professora realizou as leituras com bastante entusiasmo e logo em seguida, questionou bastante a turma sobre qual das alternativas eles mais gostaram, pediu que recontassem cada uma das versões.

O texto tem como título “A Cigarra e a Formiga”, tratando-se de um conto popular. Em um deles a formiga bateu a porta na cara da cigarra quando a mesma lhe pediu ajuda com a chegada da chuva, pois não tinha nenhum abrigo, na outra versão a formiga abrigou a amiga cigarra dizendo que o seu canto a alegrava enquanto trabalhava.

Após todos os comentários direcionando a interpretação oral dos dois textos, a professora dividiu a turma em dois grupos e pediu que um grupo ficasse em defesa da primeira versão da história, colocando todos os pontos que levou a formiga a não atender a cigarra, pois quem não trabalha não consegue ter casa, comida, conforto, dentre outros. O outro grupo defendia a cigarra dizendo que o trabalho da mesma é cantarolar alegrando a todos e que a atitude da formiga na segunda versão é que estava certa.

Assim, o debate aconteceu em um clima bastante satisfatório, envolvendo todos os alunos, criando neles um espírito solidário, participativo e de forma clara mostrou a importância dos mais variados tipos de trabalhos passando neste momento para uma aula interdisciplinar, explorando tipos de profissões, esclarecendo também que todos nós temos nossos compromissos e tarefas a executar.

Com essa atividade a professora levou os alunos a falar questionar, discutir, observar e, o que é melhor, participar dos vários conteúdos com prazer, efetivando assim, uma aula lúdica.   Para encerrar, a professora perguntou a todos os alunos se gostaram da aula e que dissessem o que aprenderam, logo de imediato, muitos alunos levantaram a mão para responder.

Uma aluna disse que havia gostado muito, porque aprendeu que devemos ajudar sempre a quem precisa e que cada um tem o seu jeito de trabalhar, uns trabalham cantando, outros dançando ou estudando.

Logo, outro acrescentou que também havia gostado muito, pois viu que até os animais têm o seu trabalho aqui na terra, e achava que eles só estavam aqui à toa, que não tinham nada pra fazer além de servir de comida para outros animais e nos assustar, pois alguns dão medo. E afirmou que tem medo de cigarra.

Dessa forma, vários alunos falaram e por fim a professora pediu como tarefa de casa, que eles registrassem para cada uma das versões da história, dois motivos que levaram a personagem da formiga a agir daquela forma.

Os professores devem ter claros os seus objetivos ao introduzir cada conteúdo, assim poderá aproveitar a interdisciplinaridade em cada aula. Deve interligar também os seus objetivos com os objetivos dos alunos que no geral é aprender. Ao fazer isso, estará dando oportunidade para que os mesmos cresçam e aprendam a gostar da escola, pois ela estará atuando dentro dos seus anseios, dos seus desejos e isso é lúdico.

Vale ressaltar, mais uma vez, que quando o professor tem claro o que quer nos seus objetivos é capaz de realizar um bom trabalho. Dessa forma, os professores dos primeiros anos do Ensino Fundamental devem sempre trabalhar com entusiasmo, procurando meios que facilitem a aprendizagem, pois os alunos são espertos e querem clareza, para que possam realizar cada uma das atividades.

Durante o período de observação, as aulas foram conduzidas, de forma a apresentar situações concretas de aprendizagem. Sempre que possível, entre uma disciplina e outra, os próprios alunos pediam um tempinho para uma brincadeira, talvez para relaxar, descontrair e quem sabe até para fugir um pouco dos conteúdos programados. A professora sempre procurava atender às expectativas dos alunos, mas sem se afastar muito do seu planejamento.

Na sequência às atividades realizadas com a turma em observação, na aula de Educação Física, a professora realizou vários exercícios com o objetivo de avaliar o processo de absorção e execução de comando a cada ordem dada. Levou todos os alunos para a quadra de esportes, marcou três linhas retas colocando os mesmos próximos a primeira marca e disse: “Quando ouvirem o apito todos deverão correr até a próxima linha marcada. Agora deverão andar devagarzinho. Agora com apenas um pé, agora para a direita e assim por diante”. Através destes comandos, trabalhou lateralidade, movimentos fortes e suaves, locomoção de animais, espaçamento e outros. Foi interessante ver o comportamento e a participação de todos os alunos.

Com relação às entrevistas realizadas neste estudo, as respostas foram bem interessantes e vieram consolidar a importância de se trabalhar o lúdico na escola.

Dentre as pessoas entrevistadas nessa pesquisa, a professora de Educação Física respondeu que trabalhar o lúdico é muito importante para o desenvolvimento do potencial da criança, proporciona condições adequadas para o desenvolvimento motor, físico, emocional, cognitivo e social. A criança, ao estar brincando, expressa seus conhecimentos, assimila outros e constrói sua realidade. Acrescenta ainda, que procura ler e pesquisar formas inovadoras para passar os conteúdos aos alunos para que suas aulas se tornem sempre mais interessantes.

Outra educadora afirmou em sua entrevista que atividades lúdicas são recursos pedagógicos riquíssimos e que por intermédio das mesmas, a criança encontra o equilíbrio entre o real e o imaginário, pois o lúdico oferece oportunidade de desenvolvimento, de maneira prazerosa para a criança.

Aqui se confirma que um aspecto relevante no trabalho envolvendo o lúdico é realmente deixar a criança expressar seus conhecimentos, conduzindo também a novas assimilações, assim, as ações terão maior sentido para cada um dos alunos.

Vale acrescentar que grande maioria dos entrevistados alegou que ainda encontra sérias dificuldades para incluir atividades lúdicas no seu planejamento diário, devido a diversos fatores como falta de preparo profissional, disciplina da classe e matriz de habilidades rígida, que não permite que o professor “perca” tempo em sala de aula com atividades alheias ao conteúdo.

Todos os entrevistados para este trabalho abrangendo: gestores, professores, e os próprios alunos colaboraram bastante com a conclusão deste estudo. Não há como relatar as respectivas respostas de cada entrevistado devido à grande extensão que se tornaria esta pesquisa, porém tudo o que consta aqui, foi com base nas entrevistas, estudo de caso, bibliografias e conhecimentos do cotidiano dos envolvidos.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Com base nos autores citados neste trabalho observa-se que o uso do lúdico é primordial nos primeiros anos do Ensino Fundamental, pois o aluno nesta fase deve pertencer à escola e esta para ele deve ser um ambiente completamente agradável, interativo e inovador.

Nos primeiros anos do Ensino Fundamental, fase em que a escola acolhe as crianças, é necessário ações lúdicas nas aulas, uma vez que o lúdico não é apenas entretenimento, como jogos, brincadeiras ou brinquedos e sim, ações educativas que dão prazer. Deixar também as brincadeiras ou brinquedos apenas para horários recreativos separados dos conteúdos escolares não é o indicado, pois a ludicidade deve estar presente dentro do contexto do processo ensino- aprendizagem, em todos os momentos, para que as crianças se envolvam no que fazem, aproximando o pensar do fazer e do sentir.

O lúdico abre oportunidades para formação e desenvolvimento pessoal, pois trabalha com a astúcia, a memória, a identificação de semelhanças, diferenças, composição, habilidades que desafiam o cognitivo, entre outras.

Dessa forma, cabe aos educadores buscar conhecer vivências lúdicas, para dar continuidade ao processo criativo, que se faz presente no mundo infantil e no seu próprio mundo como professor orientador.

O resgate de ações lúdicas para educandos e educadores é urgente e necessário, pois a falta desses conhecimentos para o processo de construção do conhecimento continuará encontrando resistência, pois muitos acham que é desordem ou falta de um bom planejamento.

Para esta prática, é necessário romper velhos paradigmas, daí a necessidade de cursos de formação que valorizem a vivência lúdica com uma visão clara do uso de jogos, brincadeiras e brinquedos para a vida da criança, do jovem e do adulto. É preciso que a escola trabalhe para atender as expectativas dos educandos e educadores, com situações desafiadoras onde possam partilhar experiências e novos conhecimentos.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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FARIA, A. L. G./ PALHARES, M.S. (orgs). Educação Infantil pós – LDB: rumos e desafios. Campinas: Autores Associados, 2005.

 

FAZENDA, I. C. (1995) A Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa.

Campinas/SP, Papirus.

 

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KISHIMOTO, T. M. Jogo, Brinquedo, Brincadeira e a Educação. 2º ed, São Paulo: Cortez, 1998.

 

MARCELLINO, Nelson Carvalho. Pedagogia da Animação. Campinas, SP: Papirus, 1990, Coleção Corpo e Motricidade.

 

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NÓVOA, A. (1995). (coord.) Os professores e a sua formação. 2ª ed. Lisboa Dom Quixote.

 

PIAGET, J. A formação do símbolo na criança – imitação, jogo e sonho; imagem e representação. 3ª ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 1978.

 

SANTOS, Santa Marli Pires dos (org.). Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos. 8ª Ed. Petrópolis: RJ: Vozes, 1997.

 

ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: ARTMED, 1998.

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