OPINIÃO

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‘EDITORIAL’ – Edição 310 (16 a 31/07/2019) – ‘Corrupção: das antigas’

Hélio Rocha, jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras (AUL), na edição do jornal O Popular (Goiânia-GO), de 21 de junho de 2019, teve este artigo publicado. Importante, ganha espaço no Editorial do JORNAL CIDADE:

 

Tão velha corrupção

 

Impressionante é o grau de repercussão a respeito do vazamento de conversas relacionadas com o hoje ministro da Justiça, Sérgio Moura. É explicável a razão – esse personagem se tornou símbolo da luta contra a corrupção e por isso se tornou uma espécie de mosqueteiro contra o mal.

Para quem imagina que a corrupção no Brasil é historicamente fato mais ou menos recente, vale lembrar que este tema frequentava os sermões do padre Antônio Vieira (1608-1697), em meados, ainda, do século 17. Esse notável orador jesuíta, que nascera em Lisboa e viera ainda menino para o Brasil, vivendo na Bahia, ficava indignado com a falta de decência e o enriquecimento ilícito. Criticando certa vez funcionários portugueses que vinham ao Brasil e faziam fortuna, ele disse: “Eles chegam pobres nas Índias ricas e voltam ricos das Índias pobres”.

Houve períodos com maior decência política no Brasil, mas a corrupção é antiga demais, a rigor tem cinco séculos. “A corrupção chegou ao Brasil com as caravelas”, escreveu Herbert Carvalho, citando o também o escritor Hernâni Donato, que conta o caso do capitão-da-costa Pero Capico, designado logo após o descobrimento pelo rei Dom Manuel, de Portugal, para evitar o desvio de seus direitos sobre o comércio do açúcar, do pau-brasil e de escravos. O funcionário veio pobre em 1516 e voltou rico para Lisboa.

Nos tempos dos imperadores Pedro I e Pedro II, período no qual muito pesou a influência de José Bonifácio, um estadista bastante íntegro, a corrupção não se manifestou em grande escala. Mas o oportunismo e atos corruptos voltariam a se manifestar depois da Proclamação da República.

As últimas décadas registram uma crônica tão extensa de práticas corruptas que isto exige agora uma reação em elevada escala dos políticos que formam uma espécie de reserva moral. Eles não podem se licenciar. Deveriam estar fazendo parte de um movimento vigoroso contra a corrupção, usando espaços como o horário dos partidos na televisão, a tribuna do Senado, da Câmara dos Deputados, das Assembleias Legislativas e das Câmaras Municipais. E se a eles se juntarem as entidades representativas dos segmentos da sociedade teríamos em movimento uma espécie de cruzada pela decência.

Não se pode negar o exemplo dado por Sérgio Moro como juiz e a boa influência que isso traduziu junto ao setor judiciário de modo geral. Os corruptos agora não estão podendo mais agir folgados como antes. E que isso não seja modificado de agora em diante.

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