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‘100 anos do hino de Goiás’ – Jales Guedes Coelho Mendonça

O hino é um dos três símbolos do Estado de Goiás, em conjunto com a bandeira e as armas. Ao longo da história, tivemos dois hinos: o primeiro, instituído há 100 anos (1919), vigorou por mais de oito décadas; e o segundo, de 2001, que encontra-se vigente há quase duas décadas.

No entanto, poucos sabem que nessa trajetória secular, a Assembleia Legislativa aprovou um projeto de lei em 1973 adotando a conhecida canção “Noites Goianas” como o hino goiano. Submetido ao crivo do governador, Leonino Caiado entendeu por bem não sancioná-lo sob a seguinte e única justificativa: o primeiro hino já perfazia mais de meio século, tornando-se assim tradicional.

Há poucos anos, num dos aniversários da capital de Goiás – não por acaso celebrado no dia 24 de outubro (vitória da Revolução de 1930) – compareci a uma apresentação da orquestra filarmônica, no Teatro Goiânia. No último ato do evento, após a execução de um vasto repertório, inclusive clássicas composições de Beethoven, o maestro solicitou ao público que escolhesse uma das músicas interpretadas para ser novamente ouvida. Na sequência, a ampla maioria da plateia que lotava o auditório elegeu “Noites Goianas”, que mereceu então nova execução e foi cantada com incontida emoção. Para mim, restou patente o alto grau de identidade entre a música e a população, condição essa que elevou o cântico revolucionário “La Marseillaise” a hino francês.

Em contrapartida, posteriormente, participei de uma solenidade no Instituto Histórico e Geográfico de Goiás. Ecoado no recinto o atual hino, notei que sua letra, apesar de seus méritos, mesmo entre os reconhecidos cultores da memória, ainda continuava desconhecida, a ponto de muitos se valerem das reproduções providencialmente distribuídas, inclusive eu. Tal fragilidade representou o principal motivo para o abandono da versão de 1919, registre-se.

O quase vintenário hino para alcançar o nível de pertencimento atingido pelas “Noites Goianas” exigirá dilatado tempo e esforço. Não seria a hora de sua substituição por uma canção já consagrada? Emociona ver uma melodia dessa espécie cantada civicamente, como ocorre no Rio Grande do Sul. Por fim, para quem acha que uma música não pode transformar-se em hino, eis uma informação: a nona sinfonia de Beethoven é o hino oficial da União Europeia.

 

Jales Guedes Coelho Mendonça é promotor de Jusitça, doutor em História pela UFG e membro do IHGG. Transcrito do jornal O Popular (Goiânia-GO), de 22/08/2019

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