SAÚDE DO CORAÇÃO

DR. JOÃO JOAQUIM DE OLIVEIRA

O indivíduo social e profissional bipolar

Naquele simpósio científico a sessão que mais despertou interesse e audiência foi a exposição concernente à constituição social e moral do ser humano. Presentes à exposição, sociólogos, psicólogos positivistas, anatomistas e jurisprudentes e/ou jurisconsultos.

São muitos quesitos apresentados e de forma breve e prática algumas ficam aqui registradas. Com muito rigor e substância falou-se o quanto é determinante na construção do homem e cidadão os legados recebidos da educação familiar. De forma massiva, maciça e paciente os ensinamentos, instrução, treinamento e práticas oferecidas pela mãe e pelo pai como cuidadores genéticos (expressão esta enfática do expositor). Pai e mãe de quem se espera todo vigor e energia na formação dos filhos, a partir das primícias da infância. É a família, o meio domiciliar, o ambiente do indivíduo como seus determinantes na formação ética e cultural. Depois vêm outros complementos: a formação escolar, o estímulo das habilidades inatas, a música, os esportes, os ensinos de convivência social e ética com as pessoas, os idosos, os professores de escolas e com o próprio meio ambiente. Falou-se por exemplo em ética ambiental, é a formação consciente e participativa do indivíduo na preservação da vida animal e vegetal.

Nunca é exagero e inútil sublinhar que a pessoa humana como um sujeito anatômico (não leram errado), independente e participativo é o resultado bem ou mal acabado de todos esses fatores em discussão, quais sejam os padrões éticos, culturais e científicos do ambiente familiar. Muito além e mais substancial do que a simples criação, crescimento e robustez física, a pessoa se faz e é feita pelos pais e pelo ambiente domiciliar com instrução, conscientização de seu papel e responsabilidade, de formação ética e social, de habilitação técnica e cientifica e profissional de qualidade e produtiva.

Um aparte ou adendo quando a questão é a formação técnica e profissional do ser humano. Notadamente quando lidamos com a constituição, com a natureza dos latinos, tendo como modelo o povo brasileiro. Existe uma cultura coletiva e individual de que formação escolar, universitária ou técnica se resume a estudar os manuais e diretrizes das escolas, as matérias constantes da grade curricular. Obter a nota mínima de 5 (50%) e pronto. Está encerrada a formação do estudante. E nada a mais ser exigido. Ledo e imbecil engano!

Agora, avaliemos criticamente este cidadão e profissional no mercado de trabalho e suas relações sociais, profissionais e com o meio ambiente e social onde ele vive e trabalha. Sua formação se deu naquele curriculum escolar básico, com exigência de nota de corte cinco, mínima. Recebido o Certificado, o habilitado ao trabalho como médico, dentista, advogado ou engenheiro. Ele se apresenta porque se formou com os chamados manuais elementares de instrução. Apenas. Não estudou e aprofundou além das caixinhas e quadradinhos das escolas, os livrinhos indicados, as apostilhas tais, prova padrão. Sua formação e qualificação vão se manifestar no seu exercício profissional. Médicos, cirurgiões plásticos, estéticos, dentistas, advogados, engenheiros. Os feitos e resultados desses profissionais se revelarão por si mesmos e a quantas anda a nossa formação social, ética e profissional (atenção pais, crianças e jovens).

Por fim, vale esta exposição atinente à constituição moral e de caráter do indivíduo. Muitas pessoas existem portadoras de uma duplicidade de índole e comportamento. São indivíduos de “duas éticas e duas condutas”. Explica-se: conforme análise da neurociência, o sujeito tem os chamados vícios e sestros originários. O que vem a ser esses atributos e defeitos? Uma influência genômica (transmissão de pais) e uma influência hereditária social familiar. Exemplo clássico: o sujeito tem formação superior, se torna um funcionário até qualificado e responsável. No exercício profissional, público ou privado é correto, assíduo, honesto. E assim o é porque há normas, regimento interno, “compliance” corporativa, fiscalização. Existe o temor da vigilância e punição. Fora do trabalho formal, o sujeito (homem ou mulher) é um folgado, inadimplente, salafrário, golpista, caloteiro. Esses tais padecem da chamada moral dúplice ou de caráter bipolar, no trabalho é honesto, no meio familiar e informal um golpista e folgado.

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