LOAS a um notável brasileiro – BRUNO COVAS MORREU SEM IMUNIDADE
Há pessoas que deveriam ter imunidade contra morte. Sim, há pessoas tão úteis, tão benfazejas, tão laboriosas que deveriam ter a prerrogativa da vida eterna, ainda nesta existência terrena. São pessoas que nascem não para si, mas para os outros, para a meio ambiente, para o próximo, para o bem-estar de todos, do meio social onde vivem e para a proteção e saúde do planeta.
Na data de 16/05/2021, faleceu o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (abril 1980-maio 2021). Ele era neto do ex-senador e ex-governador de São Paulo Mário Covas (1930-2001). Bruno herdou do avô muitas virtudes como pessoa. E levou essas virtudes e predicados de honestidade e honradez para sua trajetória política. Atributos em escassez em nosso País desde muitos anos e nestes tempos, em todos os âmbitos da Administração pública e privada.
“Infeliz a Nação que precisa de heróis”. São palavras do escritor alemão Bertolt Brecht (1898-1956). O que vem a ser um herói? Seria uma espécie de semideuses, um Demiurgo. Enfim, um personagem capaz e apto a feitos e proezas épicas. Entre outras virtudes: bravura, coragem, desprendimento, altruísmo, solidariedade.
Vamos aqui de forma singela, analisar essa tese ou princípio do grande dramaturgo e escritor alemão. Fica como primeira noção, a ideia de que um povo, um País, uma Nação; uma sociedade qualquer, ao precisar de um herói esta mesma sociedade é composta de pessoas incapazes, frágeis, subservientes e o que é mais aviltante: dependente de pessoas superiores, operosas, laboriosas, trabalhadoras, produtivas. Com esses argumentos resumidos, fica, de fato, a impressão de que se eu necessito de alguém para viver e subsistir eu só posso me sentir infeliz mesmo; porque sou pequeno, inferior e subalterno. Ou preciso de outro para a minha sobrevivência.
Uma outra noção que traz a afirmação brechtiana é a da subserviência. É de conhecimento histórico que o Brasil sempre foi um País patrimonialista e clientelista. Tais adjetivações se referem à seara política, das relações do público com o privado; dos interesses que permeiam as ligações dos agentes públicos de cargos eletivos com os eleitores. Uma relação de mercancia e venalidade. Eu candidato sou rico e posso comprar o seu voto. Eis o princípio dissimulado.
Muitos são os agentes públicos que só chegam aos cargos administrativos pela subserviência de quem (eleitor) os elege. Muitas são as promessas utópicas, irrealizáveis, falsas. Porque são incompatíveis com sua concretização, outras tantas não cumpridas, embora factíveis. Muitos são os gestores públicos, governadores, parlamentares, presidentes da República que se elegem pela exclusiva subserviência dos eleitores. O cidadão vota naquele candidato que compra o seu voto. Como se dá essa compra? De muitos artifícios travestidos e camuflados de legalidade. Promessa de emprego, de cestas básicas, de combustíveis, de cargo no gabinete depois de eleito. E até mesmo pela compra do voto em dinheiro. Em tempos de doenças como a pandemia da Covid-19, até vacina e cloroquina são trocados por votos.
Daí a razão de elevação de algumas poucas figuras públicas, à categoria de heróis. Vivemos tempos tão conturbados, de insegurança, de corrupção e descrédito nas pessoas de nossas instituições públicas que temos carência e necessidade de homens com espírito, com energia, brio e trabalho semelhante ao de heróis.
Nossa homenagem a esse grande homem público que foi Bruno Covas, falecido tão precocemente (41 anos). Ele merece um assento no panteão e galeria dos que não deveriam morrer. Porque fazem muita falta. Quer saber a importância de uma pessoa? Quando esta pessoa morre. Se alguém der falta dela, ela teve importância; na proporção da falta que ela fará. Algumas são tão desimportantes que a sociedade nem percebe que elas morreram.
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