RELIGIÃO

DR. PADRE CRÉSIO RODRIGUES

Coração de Maria, Imaculado

Especialmente os poetas, mas é consenso na linguagem dos povos, proclamar o coração como o local dos sentimentos mais românticos, a sede das emoções positivas ou não, a fonte do pensamento em algumas culturas, lugar de decisão e o simbólico sítio da fé para a religião.

Dentro da Bíblia esta palavra, citada 826 vezes, começa no Gênesis e termina no Apocalipse de forma negativa, ligada ao pecado: “Os pensamentos de seu coração estavam voltados para o mal” (Gn. 6,5) e “Disse Babilônia em seu coração: estou no trono como rainha” (Ap 18,7). Mas o coração humano é principalmente mencionado como lugar de encontro com o Divino (Jr. 31,33 e Salmos 31,11 e 32,11).

A Diocese de Uruaçu tem como patrono o coração imaculado de Maria. Por quê? E qual a origem desta devoção?

Em 1849, Santo Antônio Maria Claret fundou a Congregação Cordis Mariae Filius. Os claretianos, primeiros padres a pregarem o Evangelho na região de Niquelância, Uruaçu e Goianésia, escolheram Maria, sob o título de Imaculado Coração, como padroeira no ato da criação da Diocese de Uruaçu em 1956, substituindo a Prelazia do Alto Tocantins (Niquelândia), sendo Dom Francisco Prada seu primeiro bispo.

Após o sacratíssimo coração de Jesus (Mt 11,29), o de Maria sua mãe é entendido no catolicismo como o mais puro e digno de ser imitado: ela é a cheia de graças que medita em seu coração as manifestações de Jesus, desde o nascimento (Lc. 2,19). Há, aqui, uma riqueza teológica e fundamento seguro da devoção a Nossa Senhora, preservada santa pelos méritos do Redentor que ela trouxe em seu ventre e deu a luz neste mundo para afugentar as trevas (Lc. 1,31-32). Não é casualidade que a Bíblia fale de Maria 152 vezes.

Enquanto específica piedade popular a devoção foi incentivada por São João Eudes, no século XVII e o Papa Pio VII deu permissão para a festa, ano 1805. Em 1913 a portuguesa Me. Virgínia Brites da Paixão teria recebido uma particular revelação do Senhor: “Minha filha, o meu Divino Coração tem ardente desejo que o coração da minha puríssima Mãe seja conhecido e amado”. Em seguida, foi a mística Beata Alexandrina Maria Costa de Balasar (1935) quem teria recebido outra revelação particular onde o Senhor lhe indica que se proceda a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria, feito pelo Papa Pio XII em 1942. Outro impulso a esta religiosidade ocorreu quando Ir. Lúcia diz ter ouvido de Nossa Senhora em Fátima: “Para salvar as almas, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração… Se fizerem o que eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão a paz; a guerra vai acabar”.

A fé católica não declara Maria como salvadora, e sim unicamente seu filho Jesus Cristo. O papel dela é aquele escolhido por Deus Pai: Ela é a medianeira entre nós e Jesus Cristo, função que não diminui em nada a dignidade do único Senhor e Salvador. Como Deus fez grandes obras em Maria (Lc 1,49), e pelo fato dela ser a humilde serva d’Ele, todas as gerações devem proclamá-la Bem-Aventurada. Deste modo, como ensinou São Luís de Montfort, “Maria é o meio mais seguro, fácil, rápido para se chegar a Jesus Cristo”.

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