O casamento
Um feito ou feitos que têm me despertado atenção e curiosidade referem-se às cerimônias de casamento. Mais especificamente aos aparatos burocráticos, religiosos e festivos. De todos sabido, trata-se de uma instituição antiguíssima. A biografia de personagens nobres, ricos e burgueses registram e descrevem como foram os seus ritos esponsalícios.
A história nos descreve muitos casos de casamentos e seus desfechos, felizes ou não. Reis, rainhas e outras pessoas de grande visibilidade sempre tiveram registros históricos de seus rituais nupciais. Alguns exemplos: Cleópatra, Júlio César, Henrique VIII da França, Dom Pedro II. E tantos outros vultos dos tempos atuais, nobres, artistas, bilionários. O caso mais fresquinho é o do príncipe Harry, com a plebeia Meghan Markle, no Reino Unido. Casaram em maio/2018. Quanta pompa, quantos arranjos, luxos e riqueza. O casamento do príncipe Charles com a princesa Diana. Pais de Harry. O mundo todo sabe como se deu o começo, o fim do casamento e o fim da vida de Diana. O mundo todo ficou consternado com sua morte trágica.
Nesta breve digressão, sobre o casamento, este fato tão comum em todas as famílias, duas são as considerações a se fazer sobre este ato tão solene. A primeira questão seria o preparo material, a segunda de ordem social.
A questão social do casamento se principia no interesse interpessoal e tomemos como modelo a aproximação, contato, afetividade entre um homem e uma mulher. Embora na abrangência dos direitos humanos e nos modernos arranjos familiares, existem as já oficiais uniões estáveis homoafetivas e mesmo os casamentos entre indivíduos do mesmo sexo. Assim o decidiu a nossa suprema corte de Justiça, o Supremo Tribunal Federal. São diferenças, inovações e evolução social do ser humano (sic). Assim o declara os grupos de direitos humanos. Assim o amparam nossas leis. Ainda não consta da Constituição, mas de legislação infraconstitucional.
Se reveste de bom alvitre, em se falando de casamento, fazer um paralelo entre o casamento tradicional, dos idos tempos antes da internet e mídias digitais e o casamento dos tempos pós internet. Para uma melhor retrospectiva, torna-se de valor histórico revisitar de como se dava as uniões conjugais até início do século XX, décadas antes do surgimento da televisão, no Brasil. Como se dava a aproximação do rapaz e da moça? Havia muita participação das duas famílias. Mais precisamente dos chefes de família (regime patriarcal). Os pais desses jovens, muitas vezes, como que negociavam esse casamento. Muita vez, esses futuros namorados eram os últimos a saber do namoro e interesse das famílias nessa aproximação, no noivado e casamento. Um costume que ao crivo de hoje fere os sentimentos, e os direitos das pessoas da livre escolha, do gostar ou não de alguém, para daí se dar um namoro, as bodas nupciais. Casar nos moldes antigos, se parecia com um negócio entre dois proprietários. De um lado o pai do noivo, de outro o pai da noiva.
É bom que se registre que esse expediente de arranjo conjugal se dava em todas as classes sociais. Fossem as pessoas ou indivíduos comuns, plebeus, burgueses ou nobres. E talvez, tal costume tenha de fato sido copiado e imitado dos nobres e ricos, pela influência e grande visibilidade que sempre exerciam essas pessoas, na cultura e nos costumes.
O modelo de união conjugal com a participação da indicação e arranjo dos pais praticamente não se vê mais no início do século XXI. Em tempo, e vale como exemplo, o casamento de Dom Pedro II com Teresa Cristina de Bourbon, foi negociado antes dele conhecer a noiva. As bodas nupciais foram negociadas diplomaticamente.
A história nos conta que houve até decepção por parte do imperador quando recebeu a noiva. Coisas daqueles difíceis tempos de comunicação que eram meados do século XIX. Mas, enfim, eles casaram e viveram infelizes por muitos e muitos anos.
Muitas das formalidades, protocolos, questões decorativas do casamento tradicional ainda são vistas nos dias de hoje (era pós internet). São expedientes característicos os ritos religiosos, quando muito colorido, arranjo musical e indumentária protocolar são exibidos. São itens de alto custo monetário e muito envolvimento pessoal, a cargo e de responsabilidade majoritariamente da noiva. Existem empresas especialistas em casamento, em cerimônias conjugais.
Toda esse arranjo, rituais e protocolos do chamado casamento tradicional dos idos anos de 1900, até meados de 1950, vêm perdendo vez e espaço para as uniões conjugais dos tempos modernos virtuais. Referidas transformações se veem nas próprias relações iniciais de namoro.
A internet e suas ubíquas redes sociais, dos anos 2000, tornaram as comunicações pessoais mais rápidas, instantâneas e fluidas. Conforme teoria de Zygmunt Bauman (1925-2017), vivemos com a internet a chamada modernidade líquida, fluida, superficial. Isto significa o que? Que as relações humanas são frágeis, inseguras, sem os ritos protocolares rígidos de antes. No lugar daquele namoro prolongado, de conquistas, de admiração e encantamento pelo outro, os jovens adotaram o expediente do ficar juntos. Eles se encontram e têm contatos sem compromisso. Não deu certo esse relacionamento, partem para outras relações com outras pessoas; nada é permanente. É a modernidade líquida, fluída, solúvel.
O casamento tradicional, de ritos de conquista, de encantamento inicial vem se tornando um fato histórico. Com a modernidade líquida e digital, casa se até pela internet. Sem meias palavras, sem cerimônias, sem festas. Até os cartórios com o casamento civil vêm perdendo a vez e importância.
Causa-me também uma certa curiosidade, estranheza, perplexidade, às vezes, observar e assistir em nossos dias, o quanto certos casamentos revestidos de tanto luxo, protocolos, festividades, despesas, muitas celebrações, juras de amor eterno, de tanta cumplicidade e felicidade; e, passados alguns anos, tudo deságua em divórcios dramáticos, ódios, acusações, agressões pessoais ou físicas, entre outros dissabores.
Eu penso que o casamento deveria ser desburocratizado em tudo. Como tem sido as novas tendências da época digital. O que é mais importante é o pacto de cumplicidade e solidariedade entre os dois. Para que tantos protocolos, contrato civil, religioso, padrinhos, testemunhas, papeis, despesas vultosas, dívidas. Para que, se depois pode desandar tudo e ter que desfazer a sociedade? A mim, tais rituais sofrem, ainda, uma grande influência das igrejas, especialmente da Católica. Até quando?
São fatos e feitos dos tempos pós-internet. E pelo cheiro da brilhantina, vêm mais mudanças por aí. A conferir.
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