SAÚDE DO CORAÇÃO

DR. JOÃO JOAQUIM DE OLIVEIRA

Malvivência – A difícil tolerância da convivência

Viver a só não é tão complicado, coabitar, sim, torna-se de maior risco de não dar certo. Ter o solipsismo como modo de vida e solução para as desavenças de viver a duas ou mais pessoas juntas. Solipsismo é uma corrente filosófica que tem como realidade apenas a existência do eu. Por extensão significa também o estado de solidão.

Se a convivência de duas pessoas já é difícil, imaginemos então de três ou mais indivíduos. Definitivamente o risco de fracasso é muito alto. Há pessoas de tão difícil convivência que não deveria compartilhar o mesmo quarto, a mesma casa. Trata-se de uma persona não grata na convivência. Então calcule agora essa figura coabitar com outras pessoas ou o que é muito pior: compartilhar o quarto e a cama. Os casos de lesões corporais, danos emocionais, assédio moral e feminicídios estão nas páginas policiais como demonstrativos dos graves distúrbios que permeiam a convivência humana. São os casos de pessoas perturbadas em seu comportamento. Existe uma variabilidade muito grande quando se trata de humor, temperamento e caráter das pessoas. Esta consideração refere-se ao conjunto de pessoas normais. As ciências biológicas, a medicina e suas especialidades como neurologia e psiquiatria ainda não têm os critérios do que seja a normalidade quando a questão tratada é a saúde mental das pessoas. Falta catalogar muitas outras e termos um novo DSM (manual estatístico e diagnóstico das doenças mentais, edição americana).

Pode-se afirmar que de longe somos todos bons e normais. Ao se aproximar, com uma boa lupa e bons ouvidos dá para separar muito joio do trigo. Vamos tomar a parcela das pessoas tidas e havidas como normais em termos de sanidade mental. E essa estatística seria estarrecedora se sanidade mental levasse em conta nenhum uso de psicotrópico. Quem não usa algum medicamento de tarja preta ou vermelha? Entre eles: soníferos, antidepressivos, ansiolíticos, antiepilépticos e outros de efeito no sistema nervoso central. Como exemplos: Diazepan, Clonazepan, Rivotril, Citalopran, Sertralina, Zolpiden, Fluoxetina (Prozac), Duloxetina, Pregabalina, Carbamazepina, Fenobarbital.

Dificilmente tem-se uma família com alguém que não use algum desses medicamentos. No mínimo mais de 50% das pessoas adultas já usaram, usam ou usarão algum psicotrópico. O mecanismo de dependência desses medicamentos é o mesmo de outras substâncias lícitas ou não; álcool, nicotina, maconha e cocaína. Trata-se do subliminar princípio de que para funcionar o indivíduo tem que tomar alguma “droga”.

Assim, na visão das especialidades médicas, das políticas de saúde, de órgãos públicos, e, mais importante: no escrutínio da sociedade, todas essas pessoas usuárias de psicotrópicas ou não são classificadas como normais. Basta que cada um não seja assassino condenado, não seja drogadito de drogas ilícitas ou tenha cometido outro crime contra a vida humana. E ela é considerada “normal”. Assim, estabelecida o que é a natureza do ser humano com seus conflitos, dos dispares comportamentos dos indivíduos que compõem a sociedade fica claro o quanto se torna quase um fetiche ou fantasia a convivência amistosa e pacífica de forma contínua das pessoas. Em algum momento a fadiga, o enfado, o desgaste das relações vão surgir e as pessoas se revelam quem são, se normais ou não.

E então como corolário teremos todos os dissabores possíveis. Nesse sentido, dos conflitos, e mais grave e tormentoso, dos confrontos entre as diferenças, tomem-se os casos e descasos que são os descaminhos que surgem do casamento. Bom seria que as pessoas antes de o admitir fizesse um pacto de concordância de que casar é conectar diferenças pessoais. Ninguém é produzido em série. Diferenças e estranheza são marcas das pessoas.

As inarmonias e desavenças que surgem precoce ou tardiamente no casamento são demonstrativos robustos e incontestes do quanto é de alto risco a convivência entre muitas pessoas. Embora seja um animal gregário (vida em grupo), muitas pessoas desmentem essa natureza humana. Se em convivência são perturbadas e conflitantes quando coabitam mostram e praticam o quanto de ruim e malévolas são capazes.

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