CUCURBITÁCEAS – Abóboras e Melancias
Falar de assuntos e coisas muito sérias é tarefa complexa porque exige complexidade de expressão. E eu não estou de momento disposto a queimar meus fosfatos nem adenosinas. Aquilo que é recorrente, que é trivial vai saindo ao saber da dança da esferográfica. Além do que aquilo nas linhas do ordinário já o vemos, já o lemos e ouvimos pelas redes coais como face, no Twitter, no WhatsApp. E a gente pode começar esta digressão exatamente por esse emaranhado de falas, de truísmos, de platitudes e outras cucurbitáceas de mesma natureza e gênero.
Bem antes ali do nascimento do telefone celular, da internet e das redes dociais, era comum o quê? Quando eu tinha dúvida sobre determinado tema, alguma matéria, etc, eu buscava essa informação onde ou com quem? Nas enciclopédias disponíveis. Barsa, Mirador, por exemplo. Ou com um livro e especialista no ramo do conhecimento desejado. Eram as vias normais, acreditáveis e oficiais.
Hoje, como se dá? Basta pegar o celular e acha-se especialistas aos milhares. Todos dão opinião de tudo. Vai do ciclo menstrual ou cio da cadela, aos casamentos e separação das telenovelas e transas e vilanias dos reality shows. Ou seja, fala-se desde a dieta do chuchu, passa-se pelo melão, das abobrinhas e morangas até a melancia, a cucurbitácea de que mais gosto.
Todas essas informações vêm acompanhadas de acréscimos, apensos e anexos de fofocas. Na internet e nessas redes sociais existem os especialistas, os analistas e catedráticos para tudo, para qualquer assunto. Analistas em saúde, em questões de família, em conflitos conjugais, em relações de filhos com os pais, em desavenças e desafeições com os cunhados. Basta uma palavra-chave e pronto. Tudo na telinha, explicadinho. De preferência com imagens, vídeos, fotos e reportagens, porque escrever e elaborar dá trabalho, gasta energia mental. Muito interessante é que no WhatsApp pode-se ter os grupos fechados. O que um do grupo posta os outros recebem, instantaneamente. Espécie de panelinha ou Clube do Bolinha. A internet e as redes sociais são muito democráticas. Nenhum critério, nenhum controle. A regra implícita é justamente essa: sem controle de qualidade.
Uma cena curiosa e repetitiva da internet e das redes sociais se dá com a banalidade no estilo de vida das pessoas. Basta tirar alguns momentos e conferir as páginas dos internautas. Quanta platitude, quanta truanice e janotice se vê no que as pessoas trocam entre elas. Algumas dessas pérolas valem reprisar. A história contada por certa madame das viagens que fazia, levando seu cachorrinho: as burocracias no preparo e exigências da empresa aérea para a viagem, os atropelos pelo stress sofrido pelo bichinho, o desconforto causado aos outros passageiros pelo animal. Há o relato também daquela internauta contando da rotina maçante e antissanitária como cuidadora, ou melhor, como mãe de sua cadelinha já idosa.
E não ficamos só nessas essências que se postam nas páginas das pessoas. Como modelos temos as expressões de gente casquilha com suas veleidades e “vanitas”. Haja “vanitas”, hajam vacuidades. A “vanitas” cerebral é tanto que raramente as pessoas escrevem ou elaboram alguma coisa. Tudo se faz prêt-à-porter. São os vídeos, as fotos, as legendas, as imagens já legendadas. Assim são os almoços, as festas, os pratos, as lingeries, as viagens, os resultados dos enxertos, dos silicones, das cirurgias plásticas.
Enfim, quer truanices, quer digressões, quer pele, quer tegumento, quer superfícies lisas e brilhantes? Acesse as redes sociais.
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