CULTURA & EDUCAÇÃO

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‘Um olhar para a Natureza’ – Juracema Barroso Camapum

É noite, penso em muitas coisas. Medito sobre a infância, os enganos, o sol “escaldante” da minha cidade. A superioridade como deusa da Madre Superiora. As notas e deveres escolares. A chatice da minha avó sempre repetindo: “Fui filha de Senhor Dono de Engenho, casei em uma Capela na Fazenda”.

Olho para a vela que balança seu fogo tão vulnerável, e medito triste sobre a audácia humana. A petulância juvenil. A manhã é tão alegre por aqui, são tantos pássaros, cantos em diferentes ritmos, até o pica-pau vem bater na madeira. E a brisa matinal varre as folhas, o som é seco como de uma vassoura. A noite é muita escura, me perco em pensamentos. Queremos amar, sofremos por amar. Os sonhos? Temos que sonhar. A vida é tanta coisa, por que tantas importâncias sem importâncias?

Talvez agarrar ao que nos importa, deixando os pormenores, seja um caminho para a alma ardente que agora floresce. Quando encontro pessoas que amo, e vejo em seu rosto desespero, feições de rochas nas muralhas que nos acompanham na vida, sinto vontade de colocá-las no colo, levá-las para um passeio no Lago da Serra da Mesa. Aqui é o refúgio dos Deuses. Aquieta os impulsos que às vezes me invadem.

Noites tranquilas, puras, céu de numerosas  estrelas. Esse silêncio intenso… O final de tarde tão barulhento pelas aves que se recolhem assustadas, medo dos ataques noturnos. Desordenadamente louvo a natureza. Quantas ilhas para ancorar um barco. Sinto uma paz encantada. Flores do cerrado, lindas e frágeis, não devem ser tocadas. Passam dias, meses e anos. Necessito cada vez mais dessas belezas. E de voos, sons e sonhos. As amarras e amarguras vão cedendo e tornando a noite clara e úmida, com cheiros de longos rios. Vibro pelo clarão da lua cheia…

Só e lentamente abro a janela. Acho nobre esse prateado noturno. Sereno é o silêncio, como o ocaso na ponte do rio Maranhão… Tudo vai amarelando, até ficar só o azul da água e o escuro aproximando.

Novamente a noite.

 

Juracema Barroso Camapum, natural de Uruaçu, reside em Balneário Camboriú-SC. Transcrito, sem adaptações, do blog zecabarroso.blogspot.com (onde ganhou postagem em 05/08/2011), editado por José Carlos Camapum Barroso, irmão de Juracema

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