‘Sinvaline Pinheiro: mulher negra e indígena’ – Edson Arantes Junior
Como escritora autodidata de Uruaçu, Sinvaline realiza um trabalho antropológico significativo com comunidades tradicionais e foi gestora do Memorial Serra da Mesa.

‘Para ela, aprender é um exercício mágico. O homem civilizado deve aprender com os povos indígenas a educar sem violência’ – Fotos: Acervo/Sinvaline Pinheiro
Culturas europeias valorizam a aprendizagem visual, enquanto culturas indígenas da América e da África têm epistemologias distintas, conectando-se com a natureza. Neste contexto, Sinvaline Pinheiro, nascida em 3 de outubro de 1955 em Uruaçu, vem de uma família modesta. Seu pai, construtor autodidata, teve projetos importantes, como a torre da Catedral de Sant’Ana. Apesar de sua mãe analfabeta, a educação era incentivada, e Sinvaline estudou no Colégio Nossa Senhora Aparecida (CNSA), onde enfrentou preconceito por ser cristã.
Na escola, era chamada de “Crentinha” por não recitar a Ave Maria, o que a isolou, mas também a fez mais curiosa sobre o mundo. A alfabetização foi para ela um milagre, permitindo-lhe acessar um vasto universo literário. O guarda-livros do pai, cheio de romances e temas controversos, despertou sua curiosidade, e ela devorava os livros, escondendo isso da mãe. Lembra-se com carinho do primeiro livro que leu, Santa, o destino de uma pecadora, e acredita que a Bíblia lhe deu suas primeiras noções de cuidado com o meio ambiente.
Na tradição ocidental, a prosa é frequentemente vista como oposta ao verso, embora essa dicotomia não seja rígida, como mostram os estudos de José de Alencar. No Brasil profundo, a prosa reflete conversas descontraídas, evidenciadas nas expressões “vamos prosear” e “café com prosa”. O texto de Sinvaline Pinheiro segue essa linha, apresentando parágrafos curtos e dinâmicos, cheios de significado. Como escritora autodidata de Uruaçu, Sinvaline realiza um trabalho antropológico significativo com comunidades tradicionais e foi gestora do Memorial Serra da Mesa. Para cuidar do Memorial, a escritora aprendeu a embalsamar animais. Seu olhar carinhoso para Uruaçu revive mitos locais e transforma espaços simples em patrimônios culturais, como a antiga capela de Sant’Ana e a Festa do Caju.
Sinvaline valoriza os marginalizados e os esquecidos pela sociedade, destacando personagens como pescadores e idosos. Além disso, é ambientalista, atuando em ONGs para promover a consciência ambiental, que une cultura e natureza. Sua visão ressalta a interconexão entre os seres humanos e o meio ambiente, enfatizando que cuidar do planeta, cuidar de si mesmo, é fundamental. Esta escritora tem grande interesse pelas culturas indígenas brasileiras. Seu primeiro contato com os índios foi durante uma pesquisa no território dos Krahôs, em Tocantins. No Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, ela percebeu que sua agenda em defesa da vida se alinhava com a dos indígenas. O respeito pela água, terra, animais e plantas ressoava com seus valores sobre o respeito aos mais velhos e crianças.
Para ela, aprender é um exercício mágico. O homem civilizado deve aprender com os povos indígenas a educar sem violência. O amor e respeito devem guiar nossas relações. Não é uma visão idealizada; é uma constatação de que o consumismo pós-Segunda Guerra levará ao colapso do planeta.
Por sua defesa da natureza e promoção da paz entre os povos, recebeu o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade Estadual de Goiás. Atualmente, cuida de uma chácara ecológica, a Toca Vó Quirina.
Edson Arantes Junior é professor do programa de Pós-graduação em História da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Doutor em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG)
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