O racismo e preconceito têm a idade do próprio homem
A Copa mundial de futebol, a Copa FIFA Rússia 2018, se engajou na campanha contra o racismo. Em vários jogos da competição, no telão dos estádios e faixas exibidas antes das partidas lia-se o slogan Say No To Racism. Em tradução livre: Diga Não ao Racismo. E com isso eu faço o presente artigo.
Na historicidade do problema do racismo poder-se-ia buscar as suas origens na teoria do criacionismo ou da evolução do gênero humano. Mas, por questão mais abrangente e mais universal, tomemos a questão na abrangência do evolucionismo. Teoria do cientista britânico Charles Darwin.
Para tal reportamos ao homem nos seus idos tempos de vida nas cavernas. Era então o homem primitivo, de vida livre, nativo que para sobreviver se valia do extrativismo natural, frutas, peixes e caças de animais igualmente a ele, selvagens. Assim duríssima era a sobrevivência desses ancestrais humanos. Além de extrativista natural, tinha que ser exímio caçador com instrumentos naturais, pau, pedra, rede de pescar, arco e flecha e as próprias mãos. Essa homem original viveu cerca de 40 mil anos atrás.
O sujeito era ora caçador, ora caça. Nessa etapa evolutiva o homem tinha como rivais ou emuladores muitos outros animais selvagens, os grandes predadores da natureza. Basta relembrar, havia as feras vegetarianas ou herbívoras e os carnívoros estritos. Como exemplos dos grandes herbívoros citam-se os macacos de grande porte. Entre os carnívoros estritos tinham-se os grandes felinos, onças, tigres, etc. Ou seja, só com esses dois grupos de predadores, fica patente como era difícil, competitiva e de alto risco a vida nesses primitivos tempos da evolução e adaptação humana em habitar o planeta.
Nesse cenário evolutivo, predatório e competitivo, não eram as feras e predadores selvagens os maiores inimigos e rivais do homem primitivo. Iniciam-se a formação de grupos humanos. Têm-se a formação de tribos, a diversidade étnica e racial. Tem-se ali a atividade competitiva, rivalista, a emulação dentro da própria população hominídea. Há uma busca acirrada, exploratória e bélica, nos moldes primitivos, por espaço, território, comida, extrativismo natural, caça e abrigo, cavernas, a melhor caverna e proteção para as famílias. Desses primitivos humanos.
É nesse ambiente original que nasce o racismo. A primeira manifestação e comportamento racista. É o homem primitivo expressando o seu primeiro expediente, a sua primeira verbalização de oprimir o outro homem, representante da mesma espécie. É o olhar sobre o outro como se esse outro e ao mesmo tempo o da mesma espécie como diferente, desigual; e aqui vem o nó desse sentimento, uma reação de inferiorização de um integrante e membro da mesma tribo global, a tribo dos humanos, representantes do homo sapiens sapiens. Esse indivíduo deixa provas consistentes de sua existência, conforme o atestam os estudos de arqueologia, paleontologia e antropologia e exame macro e necroscópico.
Enfim, o racismo tem suas raízes, sua gênese na primitiva rivalidade do próprio homem contra outros humanos. Dando um salto na trajetória evolutiva da espécie humana. Analisemos então o homem já civilizado. Homem esse já munido de ferramentas, capaz da exploração da terra, o cultivo do solo, a agricultura, a produção de bens para a subsistência, o extrativismo mineral, o acúmulo e comércio de bens agrícolas.
Para tanto o que fez o homem contra o próprio homem? O escravizou. Quem majoritariamente foram escravizados? Os povos do continente africano. A África foi a bola primeira e da vez por ser um continente atrasado, pobre e primitivo no processo evolucionista e civilizatório. A questão poderia ter se dado ao contrário, se uma Ásia, uma América, uma Europa tivessem a infelicidade e destino do atraso, subdesenvolvimento.
E pior que isto: a escravidão e racismo ali já eram praticadas primitivamente por chefes tribais. Um fenômeno e um sistema que informalmente ocorrem até hoje com a displicência, conivência e participação de muitos chefes de Estado. Para tanto basta revisitar a história recente e atual de muitas Nações africanas.
Na verdade o racismo, a discriminação, o preconceito contra o negro ou afrodescendente nascem dentro da própria evolução e civilização humana, na sua intestina e instintiva reação de rivalidade em emulação com os mesmos integrantes da mesma espécie. Nessa natureza e corrente de reação, de comportamento há uma obra muito pertinente e atemporal, a magnifica obra de Thomas Hobbes, Leviatã, que fala justamente da luta de classes, do homem como lobo do próprio homem.
Daí, afirma Hobbes, a necessidade da criação do Estado para impor regras, limites, leis e punição aos infratores das normas e legislação do Estado. Faz muito, faz todo sentido o código penal cominar a injúria racial, o racismo como crime inafiançável. Como de resto a toda injúria e preconceito contra a opção sexual, ao indígena, ao estrangeiro, ao pobre, ao deficiente físico, ao analfabeto, ao obeso e qualquer pessoa fora dos padrões considerados como bons ou melhores pela sociedade. Sociedade esta instigada, movida pelo sistema capitalista, consumista irracional e exploradora do outro.
O mais intrigante e esdrúxulo é observar, constatar que a questão do racismo ocorre dentro dos próprios grupos étnicos. Quantos não são os indivíduos afrodescendentes, ditos famosos, ricos, bem sucedidos, midiáticos (jogadores bem pagos, artistas de cinema, etc), que raramente se casam com mulheres negras? Basta ler a biografia e comportamento desses tais. Ou seria mera coincidência? Fica essa primeira impressão de preconceito ou rejeição da própria cor da pele.
O que se pode registrar e consignar é que o racismo, a discriminação, o preconceito, nos dias de hoje, se tornaram um comportamento abominável, intolerável, inaceitável. Quem assim o procede está expressando nada mais do que sua idiotia e imbecilidade. Neste sentido faz muito bem e oportuno cada Nação classificar o racismo ou intolerância étnica como um crime repudiável e inafiançável.
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