‘Honrando o Meu Pai, Diogo Ponce Leones’ – Elvira Carvalho Leones
‘Meu pai foi um pouco de tudo nesta vida. Tintureiro, mestre de obras, e um empreendedor audacioso, ele geriu o Bar e Mercearia Rubro Negro, um espaço que se tornou referência na cidade’.
Em um lugarzinho do norte de Goiás, onde o sol se despedia em tons de laranja e o vento sussurrava histórias, nasceu meu pai, Diogo Ponce Leones. Filho de uma família grande, com oito irmãos a compartilhar risos e dificuldades, ele trazia em seu sobrenome as raízes de uma descendência europeia, mas foi ali, em Uruaçu, que sua vida se desenrolou em meio à lida e à austeridade. Desde pequeno, aprendeu o valor da honestidade e da ética, princípios que moldaram seu caráter e de seus irmãos e se tornaram a base da sua existência.
Meu pai foi um pouco de tudo nesta vida. Tintureiro, mestre de obras, e um empreendedor audacioso, ele geriu o Bar e Mercearia Rubro Negro, um espaço que se tornou referência na cidade. Ali, os melhores assados de peixe saíam de suas mãos, e seu amor pelo Flamengo ecoava nas conversas animadas com amigos e vizinhos. Ele não apenas influenciou uma geração de torcedores, mas deixou uma marca indelével no coração de todos que o conheceram.
A música, no entanto, sempre foi seu verdadeiro amor. Ele era o melhor seresteiro que já conheci, um autodidata com um ouvido exímio e uma voz grave, bonita e afinada. Cantou e encantou em festas, janelas de donzelas, inclusive da minha mãe seu grande amor. E nas ondas do rádio, levando alegria a muitos corações. Lembro-me das noites em que, com sua tropa de amigos de fé, como o Plínio do Cavaquinho, ele transformava a cidade em um grande palco, onde a música era a linguagem do amor e da amizade.
Meu pai era sério, taciturno e sistemático, mas seu coração transbordava carinho e cuidado. Ele se esforçava para nos educar, mesmo errando muitas vezes, sempre com a intenção de nos fazer pessoas de bem. E, no final, ele conseguiu. Lembro-me de suas broncas impacientes ao ouvir barulho e gritaria de crianças, mas também do beijo que sempre estava pronto para me dar, como um afago que dissipava qualquer dúvida sobre seu amor.
Estava sempre presente, nas minhas apresentações de ballet, na escola da Dona Maria Helena, na coroação de Nossa Senhora na catedral de Uruaçu. A cada nota que eu cantava, seu orgulho brilhava em seus olhos. Ele me incentivava no coral da igreja, compartilhando suas músicas e me ajudando a encontrar a afinação. E, em seu quarto, com seu violão de sete cordas, éramos dois sonhadores, perdidos em melodias que ecoavam no tempo. Destemido, ele ergueu nossa casa na roça, muitas vezes sozinho, sob o sol escaldante. Eu o observava, maravilhada, enquanto ele assentava tijolos, construindo não apenas paredes, mas um lar com dificuldades, mas repleto de amor e memórias.
Hoje, lamento não saber tanto sobre sua descendência, sobre meus bisavós e as histórias que moldaram nossa família. A trilha que nos trouxe até aqui tem fases que é um mistério que me intriga, e as histórias dos meus avós na chegada a Uruaçu se perdem nas brumas do tempo.
E assim, mais um dia se passa, repleto de saudades. Já se foram tantos anos desde sua ausência, mas a falta que sinto ainda é imensa. Te amo, Pai. Obrigada por cada lembrança, por todo carinho e amor. Você vive em mim, em cada nota que canto, em cada sonho que realizo, em cada conquista que alcanço, nos valores que nos passou, em cada gesto de amor que ofereço ao mundo. Sua história é a minha história, e eu a guardarei eternamente em meu coração.
Elvira Carvalho Leones, natural de Uruaçu, reside em Goiânia. Filha de Diogo Ponce Leones e Nair Carvalho Leones, caçula de seis irmãos, é empresária, administradora e fotógrafa. Casada com Natan Andrade, é mãe dos filhos Herlan e Diogo Leones de Andrade
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