SAÚDE DO CORAÇÃO

DR. JOÃO JOAQUIM DE OLIVEIRA

Filhos e filhas ares-condicionados

A Psicologia Social e as terapias comportamentais e ocupacionais vêm se deparando com certos tipos sociais ou síndromes sociais de difícil solução. São as chamadas desadaptações sociais e funcionais. São tipos humanos que atingidos certas idades (adultos) nada há o que fazer. Esse indivíduo está plasmado em seu modus vivendi. Trata-se de um organismo social e comportamental já compactados, consolidados. Com pouco o que de melhorar.

Quando muito esse indivíduo pode ter um freio, um contrapeso, uma coerção naquilo que ele pode e não pode fazer. Limites éticos da convivência humana: a duas pessoas, a três, coletivamente, com o meio corporativo, com o ambiente e ecossistema. Assim, criou-se o Estado (Thomas Hobbes, Leviatã), assim criaram leis, Constituição, Códigos diversos, de Postura, Penal, Civil.

Vamos às causas e defeitos originários. Há de se levar em consideração que o indivíduo é o resultado de sua educação familiar. Quem são as primeiras referências da criança? Rigorosamente a mãe. Que se se torna diretriz, educadora, exemplo de atitudes e comportamento nos albores da vida do filho. Porque esta criança nasce amoral, analfabeta, ignorante, muda e incapaz de discernimento. Traz apenas instintos: sugar, comer, excretar, chorar. Nada mais.

Temos aqui de forma cristalina e meridiana e até de compreensão infantil, a teoria da tábula rasa ou lousa em branco. Nessa continuidade, da lousa em branco, quer dizer, o cérebro, a memória, as sinapses cerebrais da criança vão sendo informadas vias sensoriais, percepção visual, auditiva, tato, memorial de tudo que a cerca. Novamente, quem são os primeiros referenciais dessa criança? A mãe, o pai, a babá, os tutores, as pessoas do convívio, os contatos sociais, e por fim, as escolas.

Em frente, porque espaço e tempo são frementes. Duas são as heranças na formação do indivíduo: uma genética (pouquíssimo modificável, mas moldável); e uma herança social familiar ou familiar social, porque a família vem primeiro. E como se dá a criação e formação ética e social e cultural da pessoa? Pela educação imposta e impingida pelos pais, com treinamento constante, com imposição de limites de comportamento, no que pode fazer essa criança, esse adolescente e jovem, inclusive nesta era digital, de Redes sociais, uma terra sem marcos, sem normas e sem lei.

E chega-se a termo com essa dedução: quantos e quais não são as mães e pais que criam os filhos e filhas no chamado regime privilegiado, principesco? São os filhos mimados, os filhos cheios de regalias, de objetos da moda, sequer sabem respeitar os idosos e avós. Meninos e meninas que ganham as roupas de grife e da moda, os melhores celulares, os carros e motos (no caso dos ricos e abastados). Até nas escolas, são poupados e mimados, é proibido reprovação.

São filhos e filhas que não vivem sem ares-condicionados nos quartos de dormir, nos carros que os transportam, não comem comida reaproveitada do almoço, tudo deve estar pronto na hora. As melhores bebidas! Imagine! Até bebidas. Portanto, conclui-se que nenhum motorista de Porsche ou BMW assassino nasceu motorista assassino. Ele foi feito assassino pela criação que lhe impuseram. Em parte, ele não tem culpa sozinho. Nessa hora, os pais que criaram esse filho deveriam também e de igual modo serem chamados, inquiridos e processados.

Esses tais e quais sujeitos constituem os desadaptados sociais e éticos. São disfuncionais, sim! E representam o corolário da educação canhestra, mambembe e sinistra da família. Príncipes e princesas, ou os chamados filhos ares-condicionados. Cheios de mimos, comida farta e da boa e sempre, nos “bem bons das bolhas domésticas”. Quartos e carros com ares-condicionados, água gelada e comida fresca, nunca requentada. “Mãeiê, você me vê a toalha?”, “Onde está o meu sapato?”, “Traga o meu tênis!”.

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