Ele

Sonhou com as alturas, a política, a paixão

Visionário batido nas vascas da escuridão

Vila Boa fechara-se-lhe como um poente

As dobradiças seculares rangendo dolentes

 

Para trás o púlpito, o Congresso, os discursos

Adiante a vingança, a chacina, os apupos

No Sobrado, a caligrafia doida vai por cima

Paredes sangram em riscos – a literatura da chacina

 

Um mar de céu se desdobra na miragem da campina

Sob o pálio do dossel a poeira da neblina

O campo pisoado, as trincheiras, os confins

Enfiam-se as veredas pelo brejo sem fim

 

Rolando dos picos outeiros, ao viés das vertentes

No releixo dos abismos, volta o Homem com mais gente

A cintura dos cerros, os penhascos ao derredor

Galga ao cavalo os abismos entalado com seu nó

 

Palco da morte e do desforço, a vindita de um vulcão

Abre o círculo formidável das trincheiras em espaldão

O recontro faz-se breve, mortos os reféns no Sobrado

Atados ao mesmo tronco, partem Nove p’outro lado

 

Da fazenda selvagem, nos confins do Buracão

Chega tarde a manobra, batem em fuga, solidão!

Uma chuva fina marca o término da estação

Os poderes desfecharam todo o golpe da ilusão.

 

Adeus aos anelos, às glórias, aos amores

Cai brilhando como sol lá na fímbria dos pendores

A Bahia lhe quer mais, em Barreiras é Prefeito

A Anápolis deu o nome, Dianópolis foi seu leito

 

À Terra das Dianas também nomeou, foi prefeito honrado

Foi três vezes deputado, noutras duas depurado

Candidatou-se à história, em belo aprumo foi eleito

Parece ter vindo ao mundo como um ser que nasce feito

 

Distribuído em praça pública, como semente de multidões

Biografado para o mundo, sem as jaças das paixões

Fez-se o bronze encarnando a estátua viva da história

Foi Juiz e advogado insculpido em suas Memórias

 

Orgulho e valor para os seus pósteros

Como dizia o filósofo, há homens que já nascem póstumos…