SAÚDE DO CORAÇÃO

DR. JOÃO JOAQUIM DE OLIVEIRA

Doença das carótidas e AVC

A formação dessas placas obstrutivas se faz de forma lenta, gradual. Em resposta às perguntas a mim feitas pelo jornalista Jota Marcelo, editor-geral do JORNAL CIDADE, de Goiânia/Uruaçu, faço-o como uma prestação de utilidade pública.

Imagem: baraovascular.com.br

 

Para contextualizar é útil lembrar que o sistema circulatório é composto de coração – artérias – capilares arteriais-veias – capilares venosos. A doença arterial pode ocorrer em qualquer tecido ou órgão. Quanto mais vital o órgão, mais grave é a doença. Em geral são obstruções por placas de colesterol, embolias ou trombose. Trombose pode ser arterial ou venosa, todas de muita gravidade.

Discorro, neste artigo, de forma objetiva sobre a doença das artérias carótidas, os principais vasos do pescoço responsáveis pela nutrição, irrigação e oxigenação do sistema nervoso central, composto de tronco cerebral, cérebro e cerebelo. Reiteramos que o nosso aparelho circulatório é composto pelo coração, como uma bomba central, as artérias que saem do coração (aorta) e seus ramos e as veias que recolhem o sangue de volta aos pulmões (sangue que se oxigena) e volta ao coração para circular e nutrir todo o organismo.

Artérias conduzem sangue oxigenado, depois de passar pelos pulmões e receber oxigênio do ar atmosférico. Veias conduzem sangue pobre em oxigênio e rico em gás carbônico (CO2). Este processo nos pulmões se chama hematose, a oxigenação do sangue; quando expiro expilo CO2, se inspiro aspiro O2.

As carótidas e artérias vertebrais (da parte posterior do pescoço) conduzem sangue rico em O2 e nutrientes para o cérebro, órgão este de muita nobreza funcional, muito exigente de O2 e nutrientes como a glicose. Trata-se do órgão mais sensível, frágil e vulnerável na falta de O2 e nutrientes. A ausência destes elementos por mais de cinco minutos leva à morte cerebral, um estado de coma irreversível ou estado vegetativo.

A palavra carótida vem do grego karós, significa coma, torpor, sono profundo. Na Antiga Grécia havia esse conhecimento de que comprimindo os vasos do pescoço (carótidas) de um animal ou pessoa provocaria coma e até a morte, se essa manobra fosse por mais de cinco minutos; o que é uma verdade cientifica e não fake news.

Quando se fala em doença arterial (ex-doença das carótidas) na grande maioria das vezes está a se referir à obstrução dessas artérias por uma placa de colesterol e outros lipídeos (triglicérides, por exemplo).

Duas são as consequências principais dessas placas (depósitos de lipídios): a obstrução pura e simples pela placa e a consequente isquemia (baixa circulação de sangue arterial com O2). Outra grave consequência é o desprendimento de fragmentos dessa (s) placa (s) de gordura. Esses fragmentos são as chamadas embolias; todas de muita gravidade porque elas vão obstruir artérias menores, ramos menores à frente do vaso doente com a placa de gordura; no cérebro vai causar o acidente vascular cerebral (AVC), de graves consequências.

Como referido, uma das consequências da doença das carótidas é o AVC, com graves riscos pelos efeitos paralisantes, comprometimento de fala, de memória e até óbito. Existem vários fatores de risco ou comorbidades que favorecem a formação dessas placas, causas da doença carotídea e os AVCs. Entre essas causas estão a hipertensão arterial, o diabetes mellitus, o tabagismo, as taxas altas de colesterol e triglicérides, o sedentarismo, o alcoolismo, a obesidade e as causas genéticas. A prevenção ou o tratamento dessas comorbidades é a melhor estratégia contra a doença carotídea e os AVCs (derrames).

Para o diagnóstico da doença carotídea, em pessoas acima de 55 anos, basta fazer um exame dos vasos do pescoço, o ultrassom ou doppler-scan de carótidas. Em pessoas normais e sem sintomas ou história familiar da doença basta o exame a cada cinco anos. A formação dessas placas obstrutivas se faz de forma lenta, gradual. Uma informação importante: uma obstrução de até 50% não representa nenhum risco e é normal a partir dos 60 anos. Não exige tratamento específico, apenas cultivar hábitos saudáveis.

Quando a placa é mais significativa faz-se a sua retirada cirurgicamente, via cateter e/ou implante de uma prótese intra-arterial, um stent, o mesmo que se coloca nas coronárias. Neste exemplo o uso contínuo de medicamentos é a regra, para a prevenção da recidiva, reorganização das placas.

Em resposta às perguntas a mim feitas pelo jornalista Jota Marcelo, editor-geral do JORNAL CIDADE, de Goiânia/Uruaçu, faço-o como uma prestação de utilidade pública. JORNAL CIDADE, que sempre traz excelentes matérias de interesse geral, cultural e de Saúde Pública. Matérias com a rubrica de excelentes profissionais, de todas as áreas, staff a que tenho a honra de pertencer e trazer meus modestos textos.

Pergunta-me Jota Marcelo:

  1. O que provoca obstrução nas coronárias? Resposta: em 95% dos casos são placas de gordura (colesterol e triglicérides os principais).
  2. Quem mais se encontra propenso a ter tal problema de saúde? Resposta: pessoas mais idosas, acima de 60 anos, portadores de qualquer idade dos chamados fatores de risco ou comorbidades, como hipertensão, tabagismo, diabetes, colesterol e triglicérides altos, sedentarismo, obesidade.
  3. Como evitar o problema de se agravar? Resposta: evitar e/ou tratar os chamados fatores de risco aqui já citados.
  4. Convém fazer exames com qual frequência? Resposta: de modo geral, pessoa saudável, acima de 60 anos, um ultrassom de carótidas de cinco/cinco anos. Se houver uma história pessoal ou familiar, faz-se necessária uma consulta médica para orientação de prevenção.
  5. Qual é a eficiência da afirmação que comprometimento inferior a 50% basta controlar com medicamento e bons hábitos, envolvendo alimentação, atividade física? Resposta: trata-se de uma verdade baseada em ensaios e pesquisas clínicas. Em uma pessoa saudável acima de 60 anos, essa placa de 50% significa parte do envelhecimento natural. Apenas bons hábitos de saúde, como prevenção.
  6. Comente a relação coronárias (doença de coronárias) e AVC. Resposta: uma doença não implica a existência da outra. Ambas podem ocorrer ao mesmo tempo. Mas, não obrigatoriamente. A gênese delas é a mesma, obstrução por placas de gorduras. Em 100 indivíduos com AVC, podem ocorrer alguns sofrer infarto (doenças de coronárias) e vice-versa. Porque os fatores de risco ou comorbidades são comuns nos dois exemplos e estão presentes em ambas as doenças.

Por fim, um alerta: não se usa aspirina (AAS) como prevenção de nenhuma doença cardiovascular em pessoa saudável. Trata-se de um medicamento de prescrição médica, evite automedicação. O risco é maior que o benefício. O melhor remédio para qualquer pessoa saudável é uma consulta com o médico de confiança de ano/ano.

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