SAÚDE DO CORAÇÃO

DR. JOÃO JOAQUIM DE OLIVEIRA

DEPENDE – A RELAÇÃO DAS PESSOAS COM AS DOENÇAS

Muito me intriga a relação que estabelecem as pessoas com as doenças. De momento estamos vivendo sob o império da pandemia da infecção do novo coronavírus. Esta Covid-19 vem mostrando não só a sua face misteriosa, funesta e traiçoeira, como também o espectro comportamental das pessoas. E esse painel multifário, de mil faces das pessoas é que tratará o presente artigo. Do negativismo das pessoas em relação a uma verdade já provada por todos os ramos do conhecimento, por estatísticas e ciências. Neste momento vivemos a infestação dos negacionista da pandemia da Covid-19.

No caso da pandemia, negacionismo refere-se àquela disposição e convicção de uma pessoa em negar a gravidade da infecção e até mesmo sua existência. Na mesma tendência, em negar a eficácia das vacinas. Temos ainda a disposição mental e espiritual em aceitar e ter a convicção de que as vacinas para muitas doenças fazem mal e geram até outras moléstias e estados mórbidos. Refere este conjunto de percepções ao que denominamos superstição. Por definição é a crença em alguma coisa sem fundamento racional ou demonstração científica. São fatos meramente recorrentes ou reincidentes nos quais se crê como certos, fixos e reais.

Nesta ameaça à saúde e à vida, provocada pela Covid-19, temos presentes dois sentimentos ou duas disposições de espírito das pessoas. São dois sentimentos contraditórios. De um lado o negativismo ou negacionismo em relação a um fato, a uma verdade provada de forma cartesiana, com métodos científicos. Em ciência não se crê. Trata-se de uma concordância e aceitação de um fato ou conhecimento incontestável porque demonstrado com provas materiais, documentais e ensaios científicos.

A convicção do negacionista se dá não apenas como no evento da pandemia da Covid-19. O fenômeno se oferece no comportamento das pessoas para muitos outros eventos. Sejam sociais, profissionais, e como agora bem evidente na ameaça do novo coronavírus. Negar ou afirmar uma doença, de modo geral, agora, fica na dependência do que resultará de benefício ou perda, ou ofensa, ou discriminação para a pessoa.

Para bem caracterizar a disposição das pessoas no expediente intitulado negacionismo basta observar essas mesmas pessoas em épocas naturais, normais, fora da ameaça de uma Covid-19. Atribuir a uma pessoa um diagnóstico de obesidade, de um diabetes, de uma hipertensão, de uma arritmia cardíaca, de uma asma, de um AVC. Qual seria o impacto? Negacionismo, eufemismo, minimização. Tanto no diagnóstico quanto no prognostico. Porque assim estabelecido, tal verdade ou diagnóstico, vai gerar um centro estigma.

Não é incomum ouvirmos de certos obesos e obesas as justificativas mais esfarrapadas para seu excesso ponderal e obesidade mórbida; como exemplos temos: Eu engordei porque tomei muito soro quando jovem, usei corticoides, usei anticoncepcional, tomei muitas vitaminas, etc, e nunca mais consegui perder peso. Esse negacionista ou eufemista não assume que tem na comida uma grande fonte de prazer e felicidade..

O processo de eufemismo ou minimização em épocas de bonança epidemiológica notamos com os termos início de doença e o sufixo inho. A pessoa então não teve um infarto, mas o início de: Não foi AVC, foi uma ameaça; Não é diabetes, mas um diabetizinho; Não tem doença de carótidas, mas uma leve obstrução sem consequências clínicas, uma plaqueta de gordurinha..

E por fim, mude o contexto do diagnóstico. Para atestados falsos de ausência do trabalho, para aposentar, para um benefício do INSS, para receber um seguro, e agora para a vacina anti Covid-19, todos querem um diagnóstico que se enquadre nas chamadas comorbidades do SUS.  Não importa o diagnóstico. Ninguém se importa de ser obeso, de ter uma hipertensão, de ser asmático, diabético. Adeus discriminação, adeus estigmas, adeus escrúpulos! Tudo fica na dependência do contexto dos diagnósticos e prognósticos das doenças. Se houver alguma vantagem nesses termos, e daí, que me importa ser rotulado de obeso, de gordinho, de diabético, de asmático, de ter uma doença cardíaca!

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