SAÚDE DO CORAÇÃO

DR. JOÃO JOAQUIM DE OLIVEIRA

DR. JOÃO JOAQUIM DE OLIVEIRA é especialista em Medicina Interna e Cardiologia, Assistente do Serviço de Cardiologia e Risco Cirúrgico no Hospital das Clinicas – Faculdade de Medicina / Universidade Federal de Goiás (UFG) – Goiânia-GO; membro Sociedade Brasileira de Cardiologia; e, estudante de Filosofia.

Contatos: joaomedicina.ufg@gmail.com. Acesse: www.jojoaquim.blogspot.comwww.jjoaquim.blogspot.com.br

Dietas e enganações terapêuticas para obesidade

Nesta preleção, o objetivo é falar sem rodeios sobre o fracasso de milhões de pessoas que buscam, de forma fortuita e por surtos as muitas opções de dieta de emagrecimento. São os alimentos com efeitos miraculosos e imediatos, orientação dos profissionais dos ramos de nutrologia, alimentação e mercados que se propõem, que se propagam e propalam em vender facilidades para os obesos, os sobrepesos, os obesos mórbidos, os sedentários. Para tanto são os clientes que seguem o lema Antes tarde do que nunca. Os que num surto de mudanças de estilo de vida resolvem que precisam perder peso, de buscar aquele corpo com anatomia normal e emagrecer rápido. Alguns porque terão que se mostrar menos obesos, que terão que caberem nos ternos e vestuário já apertantes, etc. Aquele casamento, aquela cerimônia de formatura, as fotos, os vídeos. Ah, vaidade das vaidades!

O excesso de peso como doença. A obesidade é uma das mais perversas pandemias. Ao longo da trajetória da humanidade ela mata muito mais do que a Covid-19, as Coronaviroses, a Sars – Cov 2 e outras pandemias que tais (ebola, gripe H1N1, dengue).  Ter um corpo roliço, estar x, tantos quilos acima do peso ideal, saudável e desejável, não se encerra em mera questão do perfil anatômico tido e havido como belo, apolíneo e atlético. Isto vale sobretudo para os homens jovens, mas também para as mulheres.

Não e não. A obesidade vai muitíssimo além disso. Trata-se de uma doença endócrina, inflamatória, com marcantes alterações metabólicas, com um perfil lipídico (colesterol e triglicerídeos) supra desnivelados, com glicose alta ou já em estágio de diabetes tipo II e outros marcadores inflamatórios. Além de artrose, desgaste de cartilagens e ligamentos que a carga corporal impõe. É uma doença progressiva que molesta e mata, que desperta rejeição e discriminação social e trabalhista. Somos uma sociedade preconceituosa!

Sobreposto a esses fatores internos e assintomáticos e intrínsecos, invisíveis, mas muito nocivos, invariavelmente todos os obesos trazem um espectro de alterações clínicas que representam potencial para outras doenças. Entre estas, a hipertensão arterial, as doenças cardiovasculares, as doenças de tireoide, as doenças de coronárias (infarto agudo de miocárdio), derrames cerebrais e câncer. Mulheres obesas por exemplo trazem a propensão ou risco aumentado para mais câncer de mama e colo de útero.

A tragédia da pandemia da Covid-19 veio alertar o mundo o que é esta gravíssima pandemia de sobrepeso e da obesidade. Agora todas as evidências vêm sendo trazidas à baila, o quanto de grave é esta comorbidade nos doentes de Covid-19. O coronavírus tem este terrível efeito: o de ativar uma cascata de substâncias inflamatórias. Cascata essa que na presença da obesidade, se soma em gravidade, porque a obesidade constitui uma doença com marcadores inflamatórios sistêmicos de toda ordem de ruindade.

Assim, há uma soma de duas graves doenças que deterioram o sistema imunológico, reação inflamatória de pulmões, da circulação sanguínea e outros órgãos vitais como coração, rins, fígado e sistema nervoso central. O excesso de peso somado a qualquer outra doença se torna um agravante significativo. Exemplos: com diabetes tipo I ou II, com hipertensão arterial, com pneumopatia crônica, com reumatismo, com cardiopatia.

As estatísticas vêm demonstrado o quanto a obesidade representa o mais poderoso e deletério fator de risco em se tratando de contágio com o coronavírus. Ela se encerra em uma das piores comorbidades nos infectados pela Covid-19. O pulmão do obeso já tem alguma restrição ventilatória. Agora imagine, o doente de Covid-19, acamado, restrito a um leito e com uma pneumonia viral. São combinações mórbidas das mais perversas.

No fecho da presente matéria vemos uma legião de clientes e pacientes que buscam, como referido, de forma eventual, ou pelo chamado efeito surto os tratamentos para obesidade, sobretudo para obesidade já com graves limitações estéticas e funcionais, a mórbida. E o nome já dá medo e asco. Constitui aqueles indivíduos cujo perfil é um de estilo de vida sedentário, com abuso e orgias nos seus hábitos alimentares e sedentarismo. A pessoa passa a vida inteira com o seu estilo de viver com essas características. De repente, por vaidade, ou alerta de algum familiar, alguma limitação física no trabalho, no caminhar, por uma certa discriminação social ou profissional. Acredite, existem empresas que rejeitam contratar os gordinhos e gordões. Porque sabem que sua performance física e risco de adoecer é grande. E eis que então essa criatura em avançado estágio de adiposidade desperta para a vida, a realidade, e busca uma solução imediata, rápida, com dietas, “canetas de emagrecimento”, medicamentos miraculosos.

Em certa fase da vida, essa pessoa já adulta e velha, às vezes, o faz por surtos, ela busca uma consulta com nutricionista, um personal trainer, uma academia. E aqui já há um engano, porque o ideal para se perder peso é atividade aeróbica, aquela que a pessoa vai transpirar, suar a camiseta, cansar, fatigar. Não, mas há médicos de obesidade. Um endocrinologista. Essa pessoa obesa se encontra, muitas vezes em estágio precário de condições de peso e metabólicas. Todas as taxas com marcas patológicas. Essa pessoa ou cliente, quer uma solução rápida, meio milagrosa e de eficácia garantida sem nenhum esforço, sem suar as roupas, sem muita aderência a uma atividade física continuada, que é o ideal de saúde.

E mais, ela encontra os profissionais que enganosamente fazem o seu desejo, o seu objetivo. Dieta prescrita, suplementos de algumas baboseiras, proteínas disso e daquilo, ômegas e alfas tais, na quantidade e peso tais e outras embromoterapias, suplementos proteicos, nas doses tais. São tabelas de vegetais, carboidratos e carnes. Balancinhas para pesar os alimentos, balança de peso corporal, restrição disso e daquilo. São os tratamentos por surto, por impulso social, profissional, da namorada, da família. De um modelo anatômico e físico imposto pelo marketing de beleza e estética, dos mercados da beleza.

E para concluir, a maioria desses tratamentos de engodo, de nutricionista, de até injeções para emagrecer (exemplos: liraglutida ou victosa ®, mounjaro ®, osempic ®), de endocrinologista, de academia, de personal trainer; assim como a cirurgia bariátrica; a maioria tem eficácia temporária, tampão. Porque chega um momento em que a pessoa sentirá tédio, uma comichão e desejos de voltar a comer de tudo, aos pratões, em farras e orgias, a la pantagruel, como se o prazer, o regalo, a felicidade estivessem ali, justamente, naquele insalubre, deletério e repimpado estilo de viver e comer.

Tudo volta à estaca zero. Nada feito. Quando não, alguns e algumas ganham até mais peso do que antes daquelas eventuais e surtivas condutas adotadas por clientes e profissionais. Estes tais profissionais das enganoterapias e embromoterapias, até gostam porque imaginem, se não fossem essas fraquezas humanas, o que seria dos personals, dos nutricionistas e endocrinologistas. Não fariam sucesso e mudariam de especialidade.

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