‘Tem um lugar aqui ó’ – Inorbel Maranhão Viégas
Metrô lotado. 6:40 da manhã.
Gentilezas escassas. Solidões, pressas, incertezas, ansiedade, tranquilidade, sono, cansaço, expectativa e esperança.
Cada um ali dentro, cada passageiro carrega em si, enquanto o trem se desloca, enquanto as portas abrem e fecham ao sinal, um sentimento único, pessoal e intransferível.
Um bebê chora nos braços de uma mãe jovem e negra. Em princípio, parece ter dor. O choro dói como se fosse em mim. Nada acontece. Nem o choro para. Ninguém dá espaço (porque não há mesmo), ninguém desce.
Um senhor toca em meu braço. Distinto, me pede pra trocar com ele de lugar. Me espremo e vou. Ele agradece. Mais adiante, pede a alguém que abra uma pequena janela de vidro pra que o ar entre e alivie o abafado do interior do trem. O bebê segue chorando.
As estações, as luzes, os túneis, o sinal sonoro, outra estação, mais luzes, pequenos solavancos que exigem de mim um exercício de equilíbrio.
Equilíbrio. É o que a vida pede nesse instante. Dois irmãos, jovens gêmeos, estudantes, dividem um banco. Se alternam no sono. Enquanto um dorme, o outro vigia. Depois, a um sinal, tempo combinado, o sono troca de ser. O que estava acordado cochila, o outro vigia a mochila. O bebê chora.
Haveria o que fazer? Seria dor? Vontade de não estar ali, ainda que não tenha tal nível de consciência?
Ninguém sabe. Até que alguém se dá conta. Levanta. E fala bem alto: ei, mãe, tem um lugar aqui ó! Sente aqui com ela.
As pessoas se espremem, abrem passagem no impossível espaço. O bebê chora. A jovem mãe se move com dificuldade. Mas alcança o assento. Senta.
O choro passa.
Luzes, sinais, estações, túneis. A estação final se aproxima. Daqui a pouco, lá fora do trem, as mentes se ocuparão com outras histórias. O dia segue. O trem para e se esvazia.
Inorbel Maranhão Viégas (Brasília, 28/05/25). Inorbel, nascido ‘na Madre Deus, em São Luís do Maranhão’ e residente em Brasília-DF, é jornalista, escritor e poeta. Instagram: @inorbel. Blog: maranhaoviegas.blogspot.com
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