SAÚDE DO CORAÇÃO

DR. JOÃO JOAQUIM DE OLIVEIRA

Os trambolhos da vida

Trata-se de uma palavra pouco usada, mas de sentido explícito, trambolho. Logo que pronunciada a maioria das pessoas entende o exato significado. Também chamado de trambelho, trambolhão, estrovenga, estrupício, empecilho e outros termos. Atentem bem o quanto coisas e expedientes ou entes ruins, maléficos, nocivos, tóxicos têm muitos sinônimos. Exemplos: cachaça e diabo. Uma explicação é que as pessoas tentam até camuflar ou disfarçar o termo. Câncer é outro exemplo. Para cachaça, caninha; para o diabo, diacho, para o câncer, aquela doença! As pessoas, o vulgo, as sociedades buscam esses atalhos ou eufemismo para um sem-número de seres, estados e condições malignas.

Fiquemos aqui no trambolho. O instigante e curioso é o comportamento de tantas gentes que deliberantemente, voluntariamente, adotam certos trambolhos ou inutilidades em suas vidas. De novo, voluntariamente. O quanto de gente, por exemplo, nem tanto laboram, nem produzem, nem geram renda e algum salário que cubra ao menos a sua existência. Entretanto, por cima, esses indivíduos adotam certos trambolhos na vida, na casa onde moram, nos seus cenários de convivência. De ora avante o trambolho mais encontradiço é o aparelho de celular. Cá entreouvidos: o que para certos tipos sociais, um celular acrescenta em suas vidas? De proveito, de rendimento, de trabalho, de cultura, de participação social? Além de trambolho, inútil. Até nocivo a outras pessoas, pelo mau uso. O viciado e dependente de celular, está ali à mesa e plugado no celular, sentado em uma conversa e de olho no celular, com garfos e faca na mão e olho no celular. Perguntado de alguma coisa, vem uma resposta meio engasgada. O viciado em celular nem olha no rosto do interlocutor. Trambelho digital é o celular.

A pessoa possuir por exemplo um cachorro já é um trambolho. Em um apartamento (apertamento) o bicho se torna mais trambolho ainda. Agora imagine possuir dois ou mais bichos confinados na residência, onde mal cabem móveis, habitantes e visitas. Trambolho multiplicado. Não é mesmo! Imagine esse trambolho: dar de brinco, de brinquedo ou agrado um filhote de cachorro a um filho. Põe trambolho nisto, não é! Pense nesses itens de trambolho e insalubridade: alergias a pelos e saliva do animal, verminoses, ectoparasitoses do bicho e das crianças e adultos, transmissão de doenças como toxoplasmose, triquinose e ancilóstomos e outras doenças.  Ou seja, um rol de trambolhos. E quando o animal vai envelhecendo, o quanto de gastos com veterinários, medicamentos, cirurgia! Haja trambolhos. Atenção! Tudo voluntariamente!

Nesse caso social, aqui posto, surgirá com o tempo o desgaste e perda de interesse e entusiasmo no contato com o animal. Não há que negar esse fenômeno. A criança de começo expressa o entusiasmo pela novidade. Então quem vai cuidar serão os adultos, pais, avós. Porque o animal gera trabalho, despesa, cuidados de higiene, passeios diários. Ou então o bicho pode morrer de obesidade mórbida, tédio, depressão. Eles adoecem como os donos tutores: obesidade, diabetes, hipertensão, câncer.

De momento cito o caso social de uma funcionária minha. Ela mora em sua casinha adquirida do programa Minha Casa, Minha Vida. Bonito programa do governo. Uma neta, dessa minha funcionária doméstica deu a ela um cachorro. Animal que era da neta, do qual veio o enfado, o tédio e stress de cuidar e guarda do bicho. Porque além do mais é de médio porte. Alertei essa funcionária: pense bem! Você tem mais de 60 anos. Na sua velhice 76 anos, o animal também estará idoso, 15 anos. Uma idosa, cuidando de um cão idoso. Trambolho em dobro. Ela ficou de pensar e repassar o cão a alguém mais jovem e interessado.

De modo geral, o maior trambolho de momento é o telefone celular. Tão trambolho que ele faz parte da anatomia corporal da pessoa. Ninguém, mas ninguém mesmo sai, fica sozinho, deita, levanta, vai ao banheiro, entra em uma reunião, missa, culto religioso sem a maquininha e ligado, plugado na internet, online. Pensa a pessoa dependente do aparelho: Alguém pode ligar ou enviar mensagem. Vai que!… Quem será?.

E assim, segue a vida, seguem as pessoas em suas jornadas. É instigante, é curioso o quanto existem desses grupos de gentes dispostas, por livre e espontânea vontade a incorporar em suas vidas os objetos, as aquisições, o estilo de vida, a vida boa por vezes ao custo e expensas de terceiros (parentes, pais, mães, avós, irmãos); esses acréscimos e modo de vida como legítimos trambolhos. Sejam esses estorvos para si e para outros do convívio, da família. Do entorno social. E por falar em trambolhos, existem indivíduos trambolhos e estrupícios.

Quantas pessoas, namorados (as), companheiros, maridos, mulheres, irmãos, pais (alguns decrépitos e inválidos por voluntarismo e livre-arbítrio); quantos, tais e quais são enormes trambolhos e estrupícios por buscados prazeres nas esbórnias e estilo desregrado, dos baixos gozos e instintos digestórios. Mas, um dia vêm os efeitos nocivos, as doenças debilitantes, um AVC, uma sequela, uma fratura femoral, tumoral. O que se fica de noção é que depois do celular-trambolho, hás os homens trambolhos na vida de muitas mulheres. São as típicas malas sem alça. Homens maus, violentos, agressores e assediadores morais e sexuais de mulheres, feminicidas! Arre! Fuja de mim trambolho!…

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