SAÚDE DO CORAÇÃO

DR. JOÃO JOAQUIM DE OLIVEIRA

Pecado, Que pecado!

É hoje, é hoje! Vou me refestelar daquelas comidas. Chiques iguarias que me indicou o Farias. Mandioca, farináceos, arroz de toda cor, branco, integral, cremoso. Massas! Tragam massas, eu quero massas. Carnes! Hum, que delícias, suculentas, cheirosas, ao molho, na panela, temperada. Há coxas! Assadas, grelhadas. Cupim, tem? E do bom, assados, escaldantes. Picanhas. Pi-ca-nha. Que delícia e calibrosa. Hum. É hoje. Vou-me refestelar. E ao final? Aqueles doces, todos, cremosos, com chocos, com caramelos. Hum! Às urticas quem achar que incremento os meus adipos!

Já de antanho se sabe e mais consolida essa ciência, de onde vieram os hábitos do homem ocidental de tanto prazer, felicidade, satisfação, realização e sensação orgástica nos esbaldares, refestelar, em refeições orgíacas, no expediente useiro e vezeiro de se comer, de se empanturrar de vacas, mandioca, farináceos, gorduras, açúcares, leite e derivados. Vaca, galinha, leitoa, porco, massas, carnes de toda ordem. Mais doces, chocolates, bebidas, bebericar, libar, etc.

As ciências, em seus vários ramos de busca, nos mostram a ancestralidade desses instintivos hábitos, porque o homem primitivo, o neandertal, o pitecantropo, nosso liame mais próximo com os hominídeos das cavernas; esse já evoluído primata trazia uma necessidade de ao obter comidas, proteína animal, tubérculos, tuberosas, frutas. Esse indivíduo muito comia porque não sabia a hora da próxima refeição. Havia então uma razão de sobrevivência. Mas, o homem ou mulher de hoje não verte razão. Há comidas em abundância.

Temos então aqui, com muita propriedade e substância, uma explicação do porquê muitos indivíduos têm na comida essa fonte primeva de alegria, diversão e felicidade. Quantas e quantas não são as pessoas que encerram seu prazer e instinto digestivo no prato, na sobremesa, nos bolos, nos doces, nos açúcares. São o gozo e saciedade, de forma orgíaca e animalesca de se realizar, comprazer! Quanto menos crítico e aculturado, mais inclinação a esse gozo! Assim, o dizem a Antropologia e Sociologia. Ciências e ensaios não mentem. Doam a quem doer, se assim, o gorro lhe servir.

Fazendo um nexo mais recente e também ligado à ancestralidade humana. Havia na Europa, o Império Romano no seu auge e esplendor. Imperadores, prosperidade, supremacia. Uma atividade de destaque e relevo social eram as comidas ingeridas. Quanto mais cheirosa, mais apetitosa, mais inebriantes e embriagantes, mais importante e elegante, rico e próspero era o sujeito, ou parecia sê-lo. A bulimia tem origem nessa época. O sujeito comia como um boi (bulimia), ia ao banheiro ou quintal, provocava vômitos e se empanturrava de novo. Comer, vomitar, comer mais e vomitar. Pouco animalesco! Não? Então tudo se derreteu, degenerou, descaídos romanos, decadência imperial. Deu no que deu. Basta ler História Geral, para quem ainda lê.

Muitas outras Nações da Europa e fora copiaram esses hábitos dos romanos. Brasil no pacote. Comer, se refestelar! Eis a fonte maior de realização, de prazer e felicidade de muitos brasileiros. Acríticos e aculturados glutões e glutonas. Glutonaria. Basta entrar em um rodizio ou padaria. Tudo a caráter.

Na França, essa cultura do gozo e orgias da comida e libações etílicas foi de tamanho peso no status social, que houve obras nesse contexto. Sátiras, paródias, comédias. À exaustão. Algumas: pantagruel e gargântua de François Rabelais. Hajam, coxas, nacos, doces, galinhas, perus. Cruel pantagruel, como se acha atual. Lá como cá, pouca diferença. Apenas mais chique.

Temos que ir naquele rodízio de carnes! Há também o de pizzas. E depois sobremesas, sucos apetitosos e saudáveis. Adipos famintos. Às urticas quem o vê. Dizem que ao cabo podem vir dislipidemia, diabetes 1 e 2, litíases renais e biliares, adipos em abundância, tensões arteriais e coronárias. Que importa. Se tudo isto advier, sendo homem ou mulher inventaram até lipoaspiração, transpiração, bariátricas e balões. Que me importa, bom mesmo é repimpar de vaca, atolada ou solta no meu digestório, meu promontório. Ah. Vida boa!

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