ESSAS VELUDOSAS VOZES
Vilzinha chegou macia e súplice e foi logo perguntando:
-Onde vamos jantar hoje?
Sem fremir ou estremecer, aquela irmã de arrimo, sempre cordata se afastou de seu marido, que era um gentil-homem. Foi aboletar-se na sua alcova para dialogar mais reservadamente. Era assim, o cotidiano dessa parietal sobredita. Ela era em essência as teorias rousseaunianas da formação social dos humanos, de qualquer estirpe e caráter.
A vivenda de Vilzinha compunha do maridão e de uma açafata de beleza e cosmética. No toucador, tinha desde belas alfais a outros linimentos e corretivos. Sua pequerrucha já contava 12 anos. Constituía assim um lar normal e padrão, nas balizas de nossa personagem.
Vilzinha fazia Sociologia e estudava os grupos de catervas ou turbas de pessoas de periferia de Catumbi, vinda recente da Barra de Tijuca-RJ, seus hábitos, cultura, costumes. Foi nisto que se ouviu um estrupido de animal de cavalgadura. Era um estrepito que lembrava cavalgadura campolina. Em seguida foi servido Genebra. E todos bebericavam alegremente. Eram convivas e alunos na passagem de dez anos de atividades docentes.
Ninguém na tertúlia era morigerado. Cáspite! Que lugar umbroso! Que madrigal é esse! Exclamou Donizete, acólito contumaz dos encontros.
-Nunca havia ouvido semelhante canção.
Todo aquele magote de pessoas, não muitos, elogiava Vilzinha. Professora eficiente que era. Ela já havia recebido a grã-cruz como distinção honorifica.
Nisso prorrompeu uma tempestade inesperada.
-Vamos ouvir um Te Deum. É uma forma de gratidão ao sucesso de nosso curso. Ordenou nosso anfitrião, chefe daquele orates da cultura.
Nesse instante Vilzinha se postou sobranceira no púlpito. Ela contou de sua criação, de sua infância. Da desapiedada mucama que cuidou de sua primeira educação. E ela não reprimia essa já defunta professora de primícias letras.
Pela reação de alguns convivas, percebeu-se que a bebida servida era sopitável. Há componentes nessas libações sujeitas a sopitar as pessoas a ponto de soporíferas sensações; quem bebe torna-se soporoso. Nisto adentra outro conviva na sessão solene.
Entra Conegundes. Era um aluno de repetidos encontros. Ele trazia nas mãos a obra O Coração das Trevas, de Conrad, Joseph Conrad. Magnífico livro, um best seller da literatura mundial. Em sinopse, este livro representa a narração das narrações. Personagem principal, Charles Marlow. Que em suma, um alter ego de Joseph Conrad. Este foi empregado na companhia Belga, a trabalho do rio Congo. Este rio africano, do Congo ou antigo Zaire era como que selvagem, mata fechada, de água e mato para todos os lados.
Curioso que esse rio corre em formato de uma serpente, serpenteia pelas matas fechadas.
Trata-se de uma narrativa pungente, de exploração do ser humana, de violência de toda ordem, em nome do poder econômico, de lucros; com laivos e sugestões de explícito racismo.
Todos participaram daquela tertúlia. E nossa anfitriã despediu-se dos presentes e fim de história.
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