Pesquisa da UFG revela como os idosos convivem com o HIV

Tese busca descobrir o impacto da doença na trajetória de vida de pacientes com mais de 60 anos e como gênero e geração influenciam.

 

Envelhecimento e síndrome da imunodeficiência adquirida (aids) são temas de uma pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Goiás (UFG), intitulada Pessoas idosas vivendo com HIV em Goiás: um estudo de gênero, sexualidade e subjetividade, realizada por Márcia Andréa Rodrigues Andrade. Fato que não pode ser ignorado uma vez que a população brasileira está envelhecendo, assim como a dos demais Países.

A tese procura descobrir qual o impacto do HIV na trajetória de vida dos participantes da pesquisa, se a descoberta do HIV modificou algo em suas vidas, e como gênero e geração influenciam na relação entre envelhecimento e HIV. A pesquisa de campo do estudo se concentrou no acompanhamento de um grupo de 15 pessoas, dez homens e cinco mulheres, com idades entre 60 e 78 anos, usuárias regulares dos serviços ambulatoriais do Hospital Estadual de Doenças Tropicais Doutor Anuar Auad (HDT). Alguns convivem com o vírus há 20 anos e outros receberam o diagnóstico da doença há um ano e meio.

Os interlocutores foram selecionados mediante alguns critérios, tais como: deveriam ter 60 anos de idade ou mais; viver com HIV, independente do ano em que foi feito o diagnóstico, morar no Estado de Goiás, estar em tratamento contínuo no HDT (exceção de um entrevistado), estar em condições físicas e psíquicas favoráveis para a realização da entrevista, aceitar participar da pesquisa de maneira voluntária mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TLCE).

Se por si só os pacientes que vivem com o HIV já existem à margem, quando essas pessoas estão em um estágio de vida chamado velhice, o contexto adquire ainda mais especificidades. A solidão dos idosos e idosas com HIV é um tema de saúde pública e, por isso, necessita ser discutido todos os dias do ano e não apenas no Dia Mundial de Combate à aids, 1º de dezembro.

De acordo com a pesquisadora, é necessário “refletir sobre o lugar do idoso na sociedade, sobre as diferenças de gênero, sobre os impactos do HIV nas experiências de vida e também sobre a valorização da vida sob novas formas de aprendizado” e essa é uma questão urgente, visto que, a cada ano a sociedade envelhece mais ao mesmo tempo em que esses indivíduos veem-se cercados sob um manto de invisibilidade do qual não conseguem sair apenas com o repetido e problemático discurso da “melhor idade”.

Outras questões são trazidas à tona com a finalidade de compreender se a sociedade como um todo está pronta para discuti-las. É necessário, conforme afirma Márcia, romper o mito da velhice bem sucedida, “aquela em que os idosos gozam de plenos direitos, tem saúde e uma boa aposentadoria, mas que, infelizmente, não abrange a maioria dos idosos brasileiros”.

 

População envelhece

Em 1950 os idosos representavam apenas 8% da população mundial, em 2000 esse número aumentou para 10% e as projeções para 2050 é que chegue a 21%. Mais da metade desses idosos viverá na Ásia, cujo acúmulo é de 54% de pessoas idosas. Segundo os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o percentual de pessoas com mais de 65 anos no Brasil está cada vez maior, em 1991 eram 4,8%, 5,9% em 2000 e finalmente 7,3% em 2010.

A projeção do IBGE é de que em 2060 esse grupo passe a representar 25,4% da população brasileira. Conjuntamente, há as taxas ocasionadas pela morte de adolescentes, poucos nascimentos, migração e a somatória de brasileiros com até 14 anos que era de 24,69% em 2010, passando para 21,35% em 2018, com projeção de cair para 14,72% em 2060.

 

Boletim epidemiológico

Já com relação às pessoas que vivem com o HIV, com base no Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde (2014), órgão que disponibiliza dados relacionados a saúde dos brasileiros, observou-se que em 2013, cerca de 2.922 pessoas acima de 50 anos viviam com o HIV na região Centro-Oeste, cuja razão entre os sexos era de 2,1 homens para uma mulher.

Desde 2013, até maio de 2015, foram atendidos 976 indivíduos com HIV no HDT de Goiânia. Destas, 33 são pessoas com idades entre 60 e 69 anos, dez entre 70 e 79 anos e duas pessoas acima de 80 anos. Aqueles com mais de 70 anos tiveram um aumento significativo, passando de um caso em 2013 para oito em 2014; já no das pessoas com mais de 80 anos, o aumento foi um pouco menor, pois em 2013 não houve nenhum caso registrado, enquanto que em 2014 foram diagnosticados dois idosos. O grupo que teve diminuição de casos englobou as pessoas entre 60 até 69 anos, cuja queda foi de 18 para 13 casos no período.

 

(Informações: Secretaria de Comunicação Social [Secom] da UFG)

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