As exportações da América Latina e Caribe devem crescer neste ano. Apesar disso, a região ainda encontra diversos desafios para se posicionar melhor na economia mundial. Os países precisam buscar uma maior integração regional, com transações e trocas entre eles, para melhorar o desempenho frente aos concorrentes no comércio global.
Essas avaliações estão entre as principais conclusões e recomendações do relatório Perspectivas do Comércio Internacional da América Latina e Caribe (ALC), lançado pela Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) hoje, 6 de dezembro, em Brasília.
Segundo o documento, as exportações de bens da ALC devem fechar o ano crescendo 9,7%. A estimativa aponta para o segundo ano seguido de recuperação nesse quesito. Após brusca queda na crise de 2008, a região teve aumento de mais de 30% na comercialização de mercadorias para fora. Nos anos seguintes, o desempenho foi caindo, até ficar estável, sem crescimento, entre 2012 e 2014. Em 2015 e 2016, as exportações sofreram uma retração e só vieram a teríndice positivo a partir de 2017.
Mas essa ampliação projetada pela Cepal de quase 10% em 2018 deve se dar sobretudo em razão de aumento de preço: esse fator deve ser responsável por 7,6% do índice, enquanto 2,1% deverão ser provenientes da expansão do volume de itens comercializados com o exterior. Nas sub-regiões, a majoração das exportações de bens deverá ser maior no Caribe (12,1%) e América do Sul (10,1%).
Já as importações deverão crescer praticamente na mesma proporção, 9,5%. Deste índice, 4,9% serão resultado do maior volume de bens vendidos a outras nações e 4,6% de preços maiores. Pelas estimativas da Comissão, as sub-regiões que deverão puxar a compra de bens de fora serão a América do Sul (11%) e o Caribe (9,1%).
Brasil
Conforme o relatório, o aumento das exportações no caso do Brasil deve ser maior, chegando a 12,5%. Diferentemente do perfil da região, aqui o índice será puxado mais pela majoração do volume de bens comercializados (9%) do que pelo preço (3,5%). Entretanto, as importações também devem crescer, e de maneira muito superior à projeção da ALC.
A compra de bens estrangeiros deve ser 21,9% maior do que em 2017, sendo 16,9% em decorrência de mais produtos e 5% decorrentes de aumento dos preços.
Comparação com o resto do mundo
A despeito dos índices, o desempenho da região nas exportações deve ficar aquém na comparação com outros locais do globo. A expectativa é que a média mundial para esse indicador alcance 12,8%. A projeção também indica variações maiores para a União Europeia (15,8%) e Ásia e Pacífico (10,7%). A estimativa para a América Latina e Caribe, contudo, deve igualar os resultados dos Estados Unidos, que o documento supõe terminar o ano com exportações de bens 9,6% maiores em relação a 2017.
De acordo com o estudo, a melhoria do volume de exportações (2,1%) deve ser menor do que a metade do mesmo índice no caso dos países em desenvolvimento, que segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC) deve fechar o ano 4,6% maior. A média mundial para esse indicador também está prevista para índice maior, de 3,2%.
Desafios e integração regional
O relatório da Cepal aponta como um dos problemas da região a alta dependência de uma pauta de exportações primária, calcada em produtos agrícolas e minerais. Na composição dos segmentos comercializados com países estrangeiros, os bens primários são o grupo com maior peso, com 34% da pauta. Em seguida vêm os bens manufaturados de médio desenvolvimento tecnológico (28%) e as manufaturas baseadas em recursos naturais (17%). Os equipamentos de alta tecnologia respondem por apenas 11% da pauta de exportação da região.
Quando observadas as sub-regiões, o papel dos bens primários fica ainda mais forte na América do Sul, sendo responsável por 55% da pauta. Segundo o relatório, essa dependência é prejudicial aos países, uma vez que as receitas variam pouco enquanto as despesas com outros tipos de produtos, como as manufaturas de alta tecnologia e de alto valor agregado, variam mais, pressionando a balança comercial das nações para resultados negativos.
“Superar essa restrição interna requer uma inserção dinâmica no comércio internacional. Os países que alcançaram um alto crescimento durante um período longo conseguiram sobre a base de uma maior expansão das exportações do que das importações”, pontua o texto. Uma estratégia central para essa inserção é a ampliação da integração regional.
O secretário-adjunto de Assuntos Internacionais do Ministério do Planejamento, Renato Baumann, citou como exemplo deste quadro o fato de o Brasil importar poucos insumos dos demais países da região e defendeu o aprofundamento dessas relações comerciais e de projetos integrados nos continentes para dar maior competitividade às economias nacionais.
“Os bancos regionais deveriam ter atuação mais específica na superação dos problemas de infraestrutura. É preciso proatividade com os grandes investidores que querem investir na região”, destacou. O estudo da Cepal colocou oportunidade em meio à guerra comercial entre Estados Unidos e China, uma vez que a imposição mútua de barreiras alfandegárias pode abrir caminhos para importações pelas duas nações de produtos da América Latina e Caribe.
Na avaliação do diretor do Departamento de Integração Econômica Regional do Ministério das Relações Exteriores, Michel Arslanian Neto, o Brasil precisa valorizar as relações com os países da região. “A gente exporta mais pra América Latina do que para os Estados Unidos. É uma frente importante dos nossos investimentos e para pequenas e médias empresas. Quando a gente vê essa realidade, é um grande potencial que temos em uma base que já temos”, pontuou.
(Informações, sem adaptações: Por Jonas Valente – Repórter Agência Brasil [Brasília]. Edição: Sabrina Craide)