RELIGIÃO

DR. PADRE CRÉSIO RODRIGUES

Você conhece o Mandamento Novo?

O mandamento do amor ao próximo, conhecido no AT mesmo em meio à Lei do Talião, recebe de Jesus novo impulso, uma nova meta (como eu vos amei) e uma nova função (nisto saberão que sois meus discípulos); leia-se: João 13,31-35.

Jesus é o amor por essência enquanto ser divino, mas pôde aprender na prática o amor humano no lar de Nazaré, sua casa no tempo. Teve uma vivência normal em seu vilarejo, certamente com amigos leais e parentes bondosos, desfrutou do amor de uma mãe zelosa e de um pai cuidadoso. Sobretudo, praticou o amor desde criança, era submisso a Maria e a José não por pressão; viveu aquele amor que haveria de ensinar com autoridade de mestre.

Vemo-lo, em sua vida adulta, ensinando com gestos e atitudes, amando a todas as pessoas indistintamente, atento aos enfermos do corpo e da alma, aos injustiçados, aos carentes de assistência e atenção. Vemo-lo em seu discurso de despedida ordenando o amor ao próximo. Qual amor? Já que esta palavra está desgastada e às vezes é mau usada. Qual a identidade do amor de Jesus, o que Ele ensina?

O evangelho afirma que quando Judas saiu da sala–cenáculo para entregar Jesus, para trair o amigo, Ele diz ter sido glorificado e que o Pai o glorificará mais. Que gloria é esta? Sofrer traição? Enfrentar o sacrifício? A glória de Jesus é oferecer redenção, dar vida aos outros ainda que isto signifique sua imolação. Ao contrário da lógica mundana e egoísta em que predomina a frase “Vita mea, morte tua”, Jesus abraça e ensina a lógica do altruísmo: “Morte mea, vita tua”. Na prática egoísta cada um procura vantagens imediatas, se autoproclama mais importante que os outros, busca aplauso e exaltação às custas do sacrifício alheio… Eis a raiz dos conflitos, a lógica da guerra! Se a glória verdadeira é desgastar-se para salvar outras pessoas, o contrário disto é vanglória, da estrada larga, que leva ao precipício.

O amor que Jesus viveu, ensinou e ordenou como meta é realmente uma novidade: leva a qualidade do sacrifício e confia na justiça divina que dá o fruto a seu tempo, amor que nada reserva quando está em jogo o bem alheio… Eis o fundamento da paz, ensinada também por Gandhi, Luther King, Teresa de Calcutá e outros mais.

Após exemplificar que o amor genuíno é provado até na forma da morte, Jesus manda que, ao Seu modo, seus seguidores amem uns aos outros, atitude que lhes conferiria a identidade de discípulos Seus. Três séculos depois, é o convertido Agostinho quem declara: “A medida do amor é amar sem medida”. Sim, eis o distintivo cristão, o amor a todos e sempre, cf. último versículo! A oração, as virtudes humanas todas se convergem no amor terreamente desinteressado e incansável. Ele é forte como a morte, aliás, nem a morte pode com esta suprema virtude, pois a fé e a esperança passarão, mas o amor permanecerá.

Jesus deu a vida e foi glorificado! Um fenômeno de ontem, hoje e sempre (Jo 12,32): em torno do mistério de seu amor milhares e milhões de pessoas se ajuntaram; já quem busca a própria glória acaba só. Os ídolos deste mundo têm uma glória efêmera, fechada em si mesmos, alimentada por fãs equivocados. Não nos agarremos ao passageiro, a falsos mestres, a sentimentos mesquinhos e enfermiços como o ódio, a inveja, o ciúme, a avareza… É hora de perdoar, ser solícito e seguir adiante, olhos fixos em Jesus, o mestre do amor.

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