‘Poema à boca fechada’ – José Saramago
Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
José Saramago (1922-2010) foi um escritor português que deixou importantes obras, como O Evangelho segundo Jesus Cristo e Ensaio sobre a cegueira. Prêmio Nobel de literatura de 1998 e, Prémio Camões (1995), antes de se dedicar apenas à literatura, exerceu as funções de serralheiro, desenhista, funcionário público, editor e jornalista. Poema do livro Poemas Possíveis, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1981. 3ª edição
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