Fotofalsidade – A falsidade ideológica estampada em fotos e cores
O que prevalece e fortalece mais a pessoa humana? Em outros termos, o que traz mais humanidade e distinção ao indivíduo? Seriam os seus valores e atributos internos, seu caráter, sua interação social e ambiental, seu conteúdo cultural e técnico? Ou ao contrário: sua imagem, sua aparência, sua pele, sua casca exibida em cores, roupas de etiquetas famosas, retoques estéticos, cosmética, implantes de toda ordem, plástica, pinturas, adornos, ornamentos, imagens e vídeos pictóricos e outros enfeites? O que nos torna mais humano? Contenção e moderação? Ou uma incontida e perene exibição? Estão postas essas questões.
Jean-Paul Sartre em sua teoria do existencialismo disse que a existência precede a essência. Isto significa que primeiro o homem é, existe, depois ele se faz, ele cria o seu destino. Cada pessoa constrói a sua rota, seu estilo de vida, suas relações sociais.
Um pouco da história, da existência, da essência, da aparência, da imagem, da exibição. Nos tempos pré-fotografia a noção que se tinha do indivíduo era através da iconografia. As profissões para essa prática eram os artesãos e pintores. Eram esses artistas do lápis e tinta que faziam “retratos” do indivíduo, copiando seus traços, características físicas, feições e mímica facial. Tal arte ainda persiste até os dias de hoje, quando muitos artistas plásticos fazem gravuras, obras de arte representando a pessoa. Isto se dá reproduzindo visualmente e presencialmente o indivíduo ou se guiando por uma fotografia. Exemplo, a iconografia poética de Nonato Coelho, artista plástico goiano.
Muitas personagens da história da humanidade não deixaram pinturas ou gravuras que lhes mostrem ou retratem a imagem real. Tomem como exemplos os pensadores gregos como Platão e Sócrates. Jesus Cristo e Maria. O que se tem de algum desses ícones históricos são meras fabulações, pinturas supositivas. Afinal, como eram as suas feições, sua pele, cabelos, porte físico? São meras criações e fantasias, para se criar um liame, uma conexão imagética. Nada além disso.
A invenção da fotografia se fez com o físico e pintor francês Louis Daguerre (1789-1852). Em 1839, ele lançou a primeira máquina fotográfica (daguerreótipo). Foram os primeiros rudimentos na arte da fotografia. E só existia de forma monocromática até os anos de 1912. Depois colorida (não popularizada) em filmes, e por fim, digital, em alta resolução, como as da era da internet.
Em se falando de pintor retratista, teve destaque no Brasil Jean-Baptiste Debret (1768-1848). Ele se destacou em pinturas e desenhos e retratou de forma muito fiel as cores, a geografia do Brasil. Suas obras de arte descrevem muito bem as pessoas, tanto as aristocráticas e escravos do Brasil Colônia e do Império.
A contribuição da fotografia como perpetuação da história da sociedade e do País – É inegável a relevância do registro fotográfico de uma Nação, de sua gente, de seu povo, dos costumes, dos hábitos, do estilo de vida, da evolução industrial, tecnológica e cientifica. De igual importância os personagens de uma história, das famílias, da evolução pessoal.
Por fim, duas considerações na retratação fotográfica, uma a realidade imagética, outra a falsidade imagética. A realidade da foto se verifica quando a pessoa não sabe que está em foco. Na falsa a pessoa cria uma postura (pose) artificial magnificando sua aparência de estética e beleza; ao menos, esta a intenção de quem se deixa ser fotografado. Com a fotografia digital, existe ainda o recurso de retocar as fotos, o Photoshop tem sido o recurso virtual mais empregado para criar uma imagem falsa, jovial, colorida, sem rugas, sem as marcas da idade. É o faz de conta de eterna juventude, quanta falsidade.
Assim caminhou a história do registro da imagem das pessoas, das coisas, da natureza e do mundo e chegamos à era da imagem e da foto digital. Se nos primórdios da era digital a existência precedia a essência, hoje tudo nos mostra ao reverso. A criança ao nascer, cria-se-lhe o cenário o mais colorido e pictórico imaginado; ao sabor de um paraíso. As pessoas, em especial as mulheres, têm na pele, no seu invólucro, na casca, na estética, nas plásticas, nos implantes, nas lipos, toda a abundância e resumo de seus atributos. Tudo se encerra em um cenário de fantasia, de faz de conta, de uma falsidade ideológica, porque ninguém posta infelicidade. Só risos, cores, alegria, comida, festas, libações e tudo quanto de orgia. Viva o mundo da fantasia, das fotos e das imagens.
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