Empatia e voluntarismo

É bastante certo que os sentimentos de simpatia, filantropia e empatia podem ter dois componentes: um fator genético e constitutivo do bojo físico e ético do indivíduo; entretanto, não se pode desprezar a consistência que são os atributos que entram no processo educacional, de instrução e formação do indivíduo. Genética e educação, portanto. E com uma simples ênfase e lembrança: todos nascemos no formato e estética de uma lousa em branco. Ao nascer eu e você somos analfabetos absolutos. De tudo; cada criança porta apenas os instintos primitivos de todo animal, sobrevivência: comer, comer, excretar, sugar, sentir frio ou calor e dor. Por isso as reações de choro e inquietude de um recém-nato.

Quando se lê a tese de Aristóteles sobre ética e moral, é de se ver que o filósofo (Aristóteles foi cognominado O Filósofo, dada sua importância para a filosofia ocidental) cravou que ética se ensina e treina com a criança, desde as primícias da vida; do berço. Ética a Nicômaco é um opúsculo simbólico do que era a ética para Aristóteles, obra escrita para a educação do próprio filho, Nicômaco.

Ao trazer estas chispas de conhecimento sobre as relações éticas e sociais para os dias de hoje, havemos de trazer à luz, o quanto a educação de berço, aquela impingida e imprimida pela mãe, principalmente, vai ser determinante no arcabouço, ou sistema de relações dessa criança como futuro cidadão/cidadã. Todo o perfil social, ético, de honestidade, de boas ou más interações/relações dessa criança, perfil esse, reitere-se, repassado pela família/em especial a mãe, como protagonista, será um determinante para essa criança (infante) na vida adulta.

Ao se trazer essa temática nesse texto, o que se pode expressar como exemplos concretos. Tome-se a chamada mini sociedade ou núcleo social familiar. Não existe melhor laboratório experimental em estudo ético e social do que essa célula mater da sociedade. As características das relações familiares do indivíduo/ele já adulto mostram essas duas influências referidas na abertura do artigo: o fator genético e o fator educacional. Vem dessa certeza um princípio: quer saber por que o sujeito porta esse e aquele caráter, tendência, comportamento? Saiba quem é sua família, nas pessoas da mãe/do pai e/ou cuidadores.

Não é incomum, em se concernindo sobre esse primeiro e determinista núcleo social, A Família, encontrar filhos e filhas, netos e netas, irmãos e irmãs, com absoluto desprezo, desídia e incúria no trato com os próprios membros parentais. São indivíduos que não se comovem com a fragilidade e o sofrimento de uma pessoa desvalida e inválida. Por vezes um pai, uma mãe, um irmão. Doente, incapaz e dependente de cuidados. Falta a essas pessoas negligentes e indiferentes, essa educação primeira, o de berço, a instrução, o treinamento ético e de voluntarismo. Falta, enfim, os sentimentos de civilidade, de generosidade e até de civilidade e humanidade primária.

SÃO indivíduos que lembram o personagem de O Estrangeiro, de Albert Camus. Mersault descobre que a sua mãe falecera e decide então tirar dois dias de licença para poder fazer o luto e tratar dos pormenores do funeral. “Hoje a minha mãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem. Recebi um telegrama do asilo”.

Assim, é o que assistimos e constatamos em muitas pessoas, de antes e de hoje. Muito a depender de sua genética e de sua escola familiar, a educação de berço. Assistindo às gerações da era digital; fica a sensação de que o extremo apego e a adicção (nociva e deselegante) ao celular catalisam ainda mais essa desconexão das famílias com a educação correta e disciplinar dos filhos e filhas. São pessoas/novas gerações, insensíveis e desprovidas do senso da vida social fraterna, civilizada e de voluntarismo. Sem empatia, sem apego ao outro.