Em carta, Luiz Schwarcz propõe ‘rede de solidariedade’ a editoras e a cultura do livro
Crise das grandes livrarias já levou a demissões e redução na produção de livros, segundo presidente da Companhia das Letras.
O processo de recuperação judicial decretado pelas livrarias Cultura e Saraiva expôs não apenas o colapso de um modelo de negócios, mas reflete também a realidade atual do setor editorial. Em resposta a essa crise, o editor e presidente da Companhia das Letras, Luiz Schwarcz, divulgou nessa terça-feira (27) uma carta aberta de “amor aos livros”, em que invoca alternativas de sobrevivência e a solidariedade entre pequenos e grandes grupos editoriais.
Segundo Schwarcz, as editoras, de um modo geral, têm diminuído o número de lançamentos, colocando em segundo plano escritores com vendas menores e demitindo funcionários em todas as áreas. “Passei por um dos piores momentos da minha vida pessoal e profissional quando, pela primeira vez em 32 anos, tive que demitir seis funcionários que faziam parte da Companhia há tempos e contribuíam com sua energia para o que construímos no nosso dia a dia”, lamentou.
Em sua carta, publicada no blog da editora, o presidente da maior editora brasileira destaca a “capacidade financeira pessoal” dos sócios destes grupos e o idealismo de autores e leitores, de todos os gêneros e categorias de livros, como meios para a superação da crise. “As redes de solidariedade que se formaram, de lado a lado, durante a campanha eleitoral talvez sejam um bom exemplo do que se pode fazer pelo livro hoje”, propôs.
Confira o texto de Luiz Schwarcz na íntegra
Cartas de amor aos livros
O livro no Brasil vive seus dias mais difíceis. Nas últimas semanas, as duas principais cadeias de lojas do país entraram em recuperação judicial, deixando um passivo enorme de pagamentos em suspenso. Mesmo com medidas sérias de gestão, elas podem ter dificuldades consideráveis de solução a médio prazo. O efeito cascata dessa crise é ainda incalculável, mas já assustador. O que acontece por aqui vai na maré contrária do mundo. Ninguém mais precisa salvar os livros de seu apocalipse, como se pensava em passado recente.
O livro é a única mídia que resistiu globalmente a um processo de disrupção grave. Mas no Brasil de hoje a história é outra. Muitas cidades brasileiras ficarão sem livrarias e as editoras terão dificuldades de escoar seus livros e de fazer frente a um significativo prejuízo acumulado.
As editoras já vêm diminuindo o número de livros lançados, deixando autores de venda mais lenta fora de seus planos imediatos, demitindo funcionários em todas as áreas. Com a recuperação judicial da Cultura e da Saraiva, dezenas de lojas foram fechadas, centenas de livreiros foram despedidos, e as editoras ficaram sem 40% ou mais dos seus recebimentos — gerando um rombo que oferece riscos graves para o mercado editorial no Brasil.
Na Companhia das Letras sentimos tudo isto na pele, já que as maiores editoras são, naturalmente, as grandes credoras das livrarias, e, nesse sentido, foram muito prejudicadas financeiramente. Mas temos como superar a crise: os sócios dessas editoras têm capacidade financeira pessoal de investir em suas empresas, e muitos de nós não só queremos salvar nossos empreendimentos como somos também idealistas e, mais que tudo, guardamos profundo senso de proteção para com nossos autores e leitores.
Passei por um dos piores momentos da minha vida pessoal e profissional quando, pela primeira vez em 32 anos, tive que demitir seis funcionários que faziam parte da Companhia há tempos e contribuíam com sua energia para o que construímos no nosso dia a dia.
A editora que sempre foi capaz de entender as pessoas em sua diversidade, olhar para o melhor em cada um e apostar mais no sentimento de harmonia comum que na mensuração da produtividade individual, teve que medir de maneira diversa seus custos, ou simplesmente cortar despesas. Numa reunião para prestar esclarecimentos sobre aquele triste e inédito acontecimento, uma funcionária me perguntou se as demissões se limitariam àquelas seis. Com sinceridade e a voz embargada, disse que não tinha como garantir.
Sem querer julgar publicamente erros de terceiros, mas disposto a uma honesta autocrítica da categoria em geral, escrevo mais esta carta aberta para pedir que todos nós, editores, livreiros e autores, procuremos soluções criativas e idealistas neste momento.
As redes de solidariedade que se formaram, de lado a lado, durante a campanha eleitoral talvez sejam um bom exemplo do que se pode fazer pelo livro hoje. Cartas, zaps, e-mails, posts nas mídias sociais e vídeos, feitos de coração aberto, nos quais a sinceridade prevaleça, buscando apoiar os parceiros do livro, com especial atenção a seus protagonistas mais frágeis, são mais que bem-vindos: são necessários. O que precisamos agora, entre outras coisas, é de cartas de amor aos livros.
Aos que, como eu, têm no afeto aos livros sua razão de viver, peço que espalhem mensagens; que espalhem o desejo de comprar livros neste final de ano, livros dos seus autores preferidos, de novos escritores que queiram descobrir, livros comprados em livrarias que sobrevivem heroicamente à crise, cumprindo com seus compromissos, e também nas livrarias que estão em dificuldades, mas que precisam de nossa ajuda para se reerguer.
Divulguem livros com especialíssima atenção ao editor pequeno que precisa da venda imediata para continuar existindo, pensem no editor humanista que defende a diversidade, não só entre raças, gêneros, credos e ideais, mas também a diversidade entre os livros de ambição comercial discreta e os de ambição de venda mais ampla.
Todos os tipos de livro precisam sobreviver. Pensem em como será nossa vida sem os livros minoritários, não só no número de exemplares, mas nas causas que defendem, tão importantes quanto os de larga divulgação. Pensem nos editores que, com poucos recursos, continuam neste ramo que exige tanto de nós e que podem não estar conosco em breve. Cada editora e livraria que fechar suas portas fechará múltiplas outras em nossa vida intelectual e afetiva.
Presentear com livros hoje representa não só a valorização de um instrumento fundamental da sociedade para lutar por um mundo mais justo como a sobrevivência de um pequeno editor ou o emprego de um bom funcionário em uma editora de porte maior; representa uma grande ajuda à continuidade de muitas livrarias e um pequeno ato de amor a quem tanto nos deu, desde cedo: o livro.
(Transcrito, sem adaptações, do site www.redebrasilatual.com.br)
- 13/11/2024 12:17:50 - ‘Dançarina particular’ – Mark Knopfler
- 29/10/2024 16:36:33 - Geraldo Rocha lança mais um livro, nesta quarta 30
- 16/10/2024 12:05:09 - ‘É com ela que eu estou’ – Juliano Tchula, Marília Mendonça e Hugo Alberto Vecchio
- 16/10/2024 12:00:16 - ‘Só fé’ – Grelo
- 01/10/2024 13:45:49 - ‘Quanto você não vem…’ – Jaime Jotta Jr
- 01/10/2024 13:39:50 - ‘Extra’ – Gilberto Gil
- 16/09/2024 00:12:20 - ‘APENAS VIVA!’ – Hélia Marzado
- 16/09/2024 00:07:39 - ‘Esquece e vem’ – Nico Rezende e Paulinho Lima
- 07/09/2024 10:03:07 - ‘7 de Setembro’: histórico e importante!
- 01/09/2024 00:10:12 - ‘QUEM DERA E PUDERA’ – Antonio Gustavo
- 01/09/2024 00:03:08 - ‘Mania de você’ – Rita Lee e Roberto de Carvalho
- 24/08/2024 11:30:55 - ‘Leitura...’ – Ana Cristina Fernandes
- Ver todo o histórico