CULTURA & EDUCAÇÃO

DIVERSOS

‘Chama e Fumo’ – Manuel Bandeira

Amor – chama, e, depois, fumaça…

Medita no que vais fazer:

O fumo vem, a chama passa…

 

Gozo cruel, ventura escassa,

Dono do meu e do teu ser,

Amor – chama, e, depois, fumaça…

 

Tanto ele queima! e, por desgraça,

Queimando o que melhor houver,

O fumo vem, a chama passa…

 

Paixão puríssima ou devassa,

Triste ou feliz, pena ou prazer,

Amor – chama, e, depois, fumaça…

 

A cada par que a aurora enlaça,

Como é pungente o entardecer!

O fumo vem, a chama passa…

 

Antes, todo ele é gosto e graça.

Amor, fogueira linha a arder!

Amor – chama, e, depois, fumaça…

 

Porquanto, mal se satisfaça

(Como te poderei dizer?…),

O fumo vem, a chama passa…

 

A chama queima. O fumo embaça.

Tão triste que é! Mas… tem de ser…

Amor?… – chama, e, depois, fumaça:

O fumo vem, a chama passa…

 

Manuel Bandeira, registrado Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (19/04/1886 [Recife-PE]-13/10/1968 [Rio de Janeiro-RJ]). Publicado em Bandeira de bolso: uma Antologia Poética – Porto Alegre-RS: L&PM, 2012. p. 27

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