‘Aboio’ – Chico Perna
Oh, Jerusalém!
A palestina sangra na menina dos teus olhos.
E pálida fica a tarde aturdida pelos canhões
amortecidos nos corpos espalhados pelo rio dos meus sentimentos.
Sentir o arranque do carro,
a distância da bala consumida pelo peito inocente da menina que vende flores em Copacabana.
Praga se faz aqui,
E em toda primavera nos sentimos invadidos
pelos soldados da incompreensão,
que marcham enraivecidos como os canhões na praça vermelha;
como os pássaros nas torres gêmeas;
quando as suas caras pálidas transbordam incertezas,
soldados que estão na própria máquina que conduzem.
Deuses do próprio umbigo,
amaldiçoados em rastros de ferro e fogo.
Famintos,
Os governantes desconhecem as águas na quais se banham.
Infelizes, não se comovem com o aboio da terra maltratada,
estriada, ressequida.
Infames, são a pura erva que mata o gado que somos.
Muitas outras dores passam a largo,
E não há remédio que possa acalmá-las.
Muitos outros gritos repercutem,
Como a mulher que grita desesperada
Pelas ruas de Bagdá.
Cavalos marcham em disparada.
Fora os ídolos!
Somente a ideia dos reis em marcha,
Os santos quebrados a cada um que se desfaz.
As aldeias estão às escuras,
A estrela não brilha mais,
E os homens gravitam no velho ábaco.
Olvidados o grito da terra,
Os sons metálicos das dores milenares,
e a menina órfã é rasgada como brinquedo de exploradores,
tão sedentos como os senhores da guerra.
Cravam-nas, as lanças, fardo de suas misérias capitalistas,
no corpo ingênuo da menina
de pernas finas,
bracinhos frágeis,
ventre deformado,
gestando o martírio de cana e etanol.
Oh, malditos!
Cearão a lama que produzem,
Nadarão nos tanques dos seus martírios.
Depois, embriagados chorarão a fome
A miséria da alma,
Os sons da fúria de uma cegueira ensaiada.
Oh, infames!
Visionários da própria destruição.
Assestarão os seus olhos para além do que podem entender,
E não enxergarão nada mais do que terra degradada,
Silêncio em decomposição,
Saudade e desmantelo
Na dor profunda do cerrado que se desintegra.
Ei boi! Ei boi! Ei boi!
Chico Perna (nascido em 24/11/63) é natural de Miracema do Norte-TO. e reside em Goiânia-GO. Obra do livro Visgo Ilusório, 2009 (editora Kelps/UCG [Goiânia]), coleção Prosa e Verso, da Prefeitura de Goiânia
- 23/06/2025 22:18:07 - LIVRO – Marilai
- 23/06/2025 22:14:58 - ‘Tchaco’ – Tonho Matéria e Reni Veneno
- 23/06/2025 12:23:52 - Goiás marca presença no ‘Capital Moto Week’ com as bandas Rock4Jam e WormZ Slipknot Cover
- 15/06/2025 19:01:46 - ‘Tem um lugar aqui ó’ – Inorbel Maranhão Viégas
- 15/06/2025 18:57:01 - ‘Tô dizendo’ – Charlles André
- 01/06/2025 16:00:39 - Sinvaline Pinheiro: ‘Não saberia viver sem a poesia e a escrita’
- 20/05/2025 11:17:45 - ‘Hélio Miranda’ – Hélio Miranda [JORNAL CIDADE
- 20/05/2025 11:11:44 - ‘Eu menti’ – Adalto Magalha e Pedrinho da Flor
- 10/05/2025 23:23:28 - ‘Paredão da D20’ – Laila Barros
- 10/05/2025 23:20:00 - ‘De repente vem você’ – Carica, Luiz Cláudio Picolé e Prateado
- 27/04/2025 21:05:13 - ‘ALMA EM VERSOS’ – Earendel (Pseudônimo)
- 27/04/2025 21:01:41 - ‘Tanajura’ – Netinho de Paula e Charllinhos
- Ver todo o histórico