SAÚDE DO CORAÇÃO

DR. JOÃO JOAQUIM DE OLIVEIRA

A pessoa ser ou estar obesa

Este mini artigo é daqueles textos e falas feito sem rebuço e sem receio de melindrar quem quer que seja. É evidente que esta carapuça vai servir a muitos gordinhos e gordinhas, termo gordinho aqui já um tanto mordaz e sardônico. Porque na verdade nesse filão ou grupo de pessoas, muitos se enquadram no critério de doentes. Tanto que mórbidos, pré ou pós mórbidos. Estilo escarninho e sarcástico, à parte, falemos de forma protocolar, técnica e cientificamente, como se segue, sem rodeios e sem retroalimentar o autoengano, em que vivem muitos pacientes desses consultórios de nutrição e endocrinologista. O objetivo desse parecer, técnico e direto se fundamenta em ciências, trabalhos científicos, não mera opinião.

O porquê a maioria das pessoas obesas, nos seus variados graus da doença não emagrecer? Primeiro ponto, que nós os profissionais de saúde devemos ser solidários, transparentes e francos com esses indivíduos. Grande parte dos obesos não são obesos por vontade própria. Tipo: Ah, quer saber! Eu vou entrar para a tribo dos obesos ou gordinhos!. Ninguém diz isto. Não é bem assim!

A doença é multifatorial e multitudinária. Ou seja, uma questão genética e constitucional, que abarca em geral, vários membros parentais. Numa nítida evidência de nexo hereditário, um vínculo quase matemático, pais obesos, filhos obesos.  Existem, como visto de uma constatação empírica, as famílias obesas que geram descendentes no mesmo perfil, filhos obesos.

A doença se mostra tão complexa que até a obsessão por comida, o estímulo sensorial para ingerir mais e mais comida, guarda certas conexões hereditárias. Filhos de comilões tendem a serem comilões. E nesse useiro e vezeiro gesto e compulsão alimentar, entra um fator de grande significado, a educação ou hábito alimentar de mãe, de pai, de babá, de avó, de cuidadores e tutores da criança. A comida no cenário do cuidado, da guarda e monitoração da criança exerce o lenitivo, o engabelo, a recompensa do choro, da irritabilidade, da energia da criança. Vêm então as guloseimas, os doces, as balinhas de açúcar, o chocolate.

Esta criança assim educada e criada, assim recompensada, está sendo treinada em ter na comida, um subterfúgio, um prêmio, uma gratificação na contenção de suas energias, de seus choros, frustrações, rebeldia e desprazer. Existe o vício da ingestão alimentar, o treinamento do apetite voraz de se comer sem necessidade ou carência nutricional. O cérebro de crianças comilonas será um cérebro adulto comilão.

Comida acalma. Esta memória se perpetuará na vida adulta. Diante de uma ansiedade, uma depressão, uma frustração qualquer, o lenitivo ou calmante imediato sãos todas as formas de comidas e bebidas a que muitos obesos e obesas buscam na solução transitória e enganosa para todas as suas formas de infelicidade, privações, desilusões, insatisfação, conflitos sociais, familiares.

Uma outra questão fundamental na manutenção dos excessos de peso das pessoas vem de dois sistemas vigentes pós era industrial. Capitalismo e consumismo. São dois sistemas que exploram essa debilidade mental e cognitiva das pessoas. O capitalismo é representado pela rede industrial. Fábricas de alimentos. O consumismo está embutido de tudo quanto é manufaturado de alimentos e bebidas. Há um mercado com seu imperativo e poderoso marketing, do quanto mais e melhor comer, mais poder e status social detém uma sociedade e o indivíduo. Vivemos um mundo em que a pessoa se mostra quem é pelo que ela come e bebe. Status medido pelo consumo alimentar. Quanto mais coloridos, saborosos, estéticos e belos as fotos dos pratos, divulgados nas redes sociais, mais importante e realizada é a pessoa. Existe nesse gesto e iniciativas a vaidade das comidas. Está pronta a mesa e o buffet? Antes, deixe fazer umas fotos para o Instagram.

E mostrando debilidade e animal de manada, de seguir um slogan, uma tribo, um sistema, uma indução e persuasão, a sociedade, as pessoas são levadas a comprar, a comer, a ingerir o que os dois sistemas impõem. Indústria/capitalismo de comida e consumismo/marketing de alimentos. As propagandas dos melhores pratos, das coloridas das iguarias, os apelos aos prazeres digestórios. Os prazeres pelo prazer é o que convencem os consumidores e bons “garfos” a comprar e consumir muitos alimentos!

Grandes tribos e famílias, pessoas de todos os estratos sociais e “culturais”, cada um de per se, tem na comida uma fonte de realização. Vivemos uma sociedade e tendência em que a centralidade da vida de muitas gentes está na comida, na “boa comida e boas bebidas”. Existem as disputas, as porfias, os certames, as exposições de quem (comércio, restaurantes, pizzarias, churrascarias) oferece as comidas mais apetitosas, mais capitosas, mais saborosas. As bebidas mais inebriantes, etc, etc, etc. Mostrando sua sandice e animal de manada e com reflexos e pulsões ancestrais de tempos de caverna e culturas primitivas (leia queda do antigo Império Romano),* o sujeito vai para um rodízio de carnes ou pizzas. Come a la Pantagruel ou gargântua, e sai dos cardápios estufado de comida, vaca, porco, doces, chocolates, bebidas. Bêbado. Por vezes tripudiando de ter comido além do preço pago nesses rodízios. Um indicativo de debilidade mental e civilidade. Pouco previsto se depois, terá três dias de enxaqueca, intoxicação alimentar.

Ora, de forma sintética, pegando as referências deste artigo: o indivíduo obeso, a pessoa que não está, mas, é obesa por constituição e educação, se acha estimulada em todas as suas vias sensoriais, olfato, visão, tato, paladar; em comer e sempre comer. Não basta alimentar, o bom gourmet há de se empanturrar, porque a comida, o se ingurgitar e repimpar de vaca, atolada ou solta, galinha, massas, cervejas, bebidas, Coca-Cola; esse gesto se tornou uma fonte orgástica e orgíaca de viver. Não vale o gesto de nutrição, existe o gozo e ter o instinto digestivo em plena satisfação. Oh céus, oh vida, oh azar! – Lippy e Hardy.

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