‘O DIÁRIO DE Abílio Wolney’ [AGRADECIMENTOS, DEDICATÓRIA, SUMÁRIO, PREFÁCIO e INTRODUÇÃO
[Em diferentes edições e capítulos, o JORNAL CIDADE publica O DIÁRIO DE Abílio Wolney, livro do articulista Abilio Wolney Aires Neto, lançado pela editora Kelps (Goiânia-GO.), em 2009
AGRADECIMENTOS, DEDICATÓRIA, SUMÁRIO, PREFÁCIO e INTRODUÇÃO
AGRADECIMENTOS
Agradeço à estimada prima, Maria Póvoa Leal, neta do protagonista, que me deu os próprios originais do Segundo Diário de Abílio Wolney, hoje em meu acervo.
Agradeço ao escritor, Prof. Jacy Siqueira, pelo livro Expedição Histórica nos Sertões de Goiás, na reedição que fez da obra do Escrivão da Comissão do Duro, Guilherme Ferreira Coelho, com atualização ortográfica, do qual faço transcrições neste Diário.
DEDICATÓRIA
Dedico este modesto trabalho aos meus pais Zilmar Póvoa Aires e Irany Wolney Aires, com o mais puro amor e gratidão.
À memória de Maria Margareth Wolney Aires, irmã que nos deixou na metade do caminho desta existência.
Ao meu irmão Voltaire Wolney Aires*, escritor e acadêmico, autor, dentre outras, da destacada obra Abílio Wolney, Suas Glórias, Suas Dores, adotado em vestibulares da UFT-Palmas-TO. Foi ele que me passou as cópias do Primeiro Diário de Abílio Wolney, intitulado Razão e Lembranças, franqueado pela minha tia-madrinha Doralina Wolney Valente.
*Voltaire Wolney Aires é escritor e membro da Academia Tocantinense de Letras (ATL). Membro fundador da Academia Palmense de Letras (APL) e membro correspondente da Academia Gurupiense de Letras (AGL). Membro fundador da Academia Dianopolina de Letras. Foi vereador em Dianópolis-TO (1993-96). É Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Tocantins – UFT. Pós-graduou-se em Direito Civil e Processo Civil pela Fundação Universidade do Tocantins – UNITINS. É advogado e funcionário do Banco do Brasil S.A. e tem as seguintes obras literárias publicadas: Mensagens e Poemas do Além (espírita); As Origens e os Principais Eventos Que Deram Origem a Dianópolis (histórico): Sertão Hostil (regionalista): Abílio Wolney, Suas Glórias, Suas Dores (histórico romanesco, adotado em vestibulares da Universidade Federal do Tocantins-UFT) além do mencionado livro Colégio João d’Abreu – Amor História Educação. Tem inéditos os livros Os Garimpos da Amazônia e História de Tocantinópolis.
PREFÁCIO
Prefaciar o Diário do meu pai é uma oportunidade maravilhosa, que me vem justamente do meu filho dele homônimo, redobrando-me a satisfação em poder contextualizar esse momento, ainda a caminho.
Não vivi os dias mais difíceis da primeira quadra da vida dele já que passei ao seu convívio efetivo em 1946, quando ele já se aproximava dos 70 anos de idade, ainda bastante lúcido e determinado. Até então eu morava com minha mãe Filomena Teles Fernandes de Miranda, natural de Conceição do Norte, que também era parenta dele por parte de sua mãe Mariazinha, filha de Custódio José de Almeida Leal e de Ana Benedita Teles Fernandes Leal, meus bisavós paternos.
Recordo-me do que, naquele ano, ele estava prefeito em Dianópolis, e, findo o mandato, retomou suas atividades de farmacêutico licenciado, sempre trabalhando, inclusive, advogando para quantos o procuravam, alguns vindos de cidades vizinhas.
Em 1934, quando nasci em Barreiras-BA, ele era o prefeito daquela cidade. Na época eu gozava da companhia de minha avó materna, já viúva, que também morava em Barreiras com seus dois filhos, Filomena e Herculino.
Ele me queria desde logo, todavia o amor de minha mãe foi maior, além de que, estando ele recém-casado com Eufrosina Santos (D. Goiana), minha mãe não a conhecia para me confiar a ela. Com o falecimento de minha avó Josina Teles Fernandes de Miranda em 1937, minha mãe viajou para a Cidade da Barra-BA, levando-me, aos quatro anos de idade, e ali fui alfabetizada por ela mesma, que me ensinou a ler e escrever.
Mas o tempo se incumbiu de tudo. Meu pai se preocupou com a distância que nos separava e foi até a casa de seu primo José Anísio, sabendo que ele estava de viagem para Salvador-BA e que, na volta, passaria na Cidade da Barra em barco a vapor. Entraram em combinação, ficando acertado que tio Zuza me traria com minha mãe e meu irmão para morarmos em Dianópolis.
No município de Dianópolis, distante 18 quilômetros da Cidade, meu pai fez a sede da Fazenda Poço Verde, com muito gado e plantações de cana, mandioca, milho e feijão. Lá cresci, ajudando na fábrica de queijos e oficina de fazer farinha, sempre lembrando de minha mãe, a quem um dia o destino me uniu de volta, pois, sabendo-a doente, meu pai mandou buscá-la para morar conosco na Fazenda, onde ela faleceu em 1949, deixando-me a saudade como um elo que nos unirá até o reencontro.
Saudade viva também dele. É como se o visse lendo os seus livros de medicina nas horas vagas e viajando para as outras fazendas. Na garupa da sua mula, muitas vezes, fui ao Açude e ao Jardim.
Na época dos festejos do padroeiro São José, ele procurava ficar informado do dia que a procissão ia passar na sua porta, pois acompanhado de sua cadeira, ajoelhava-se ao lado desta em reverência ao padroeiro da Cidade das Dianas.
Não me lembro de tê-lo visto deitado numa rede a balançar. Apesar de sua idade avançada, ele estava sempre envolvido em qualquer tipo de atividade. Era um político apaixonado, a relembrar o seu currículo na vida pública parlamentar, não obstante as peças e peripécias que a vida lhe aprontou. Nada o fazia abaixar a cabeça.
Nossa casa vivia repleta de visitas de parentes e amigos. Suas palestras agradavam muito às pessoas inteligentes, principalmente quando se tratava de mineração.
Ele não gostava de relembrar os fatos da Chacina de 1919, pois se emocionava, e por uma vez, me disse que ainda ouvia a voz do seu pai gritando por socorro no canavial da Fazenda Buracão.
Tive seis filhos com o meu querido esposo Zilmar Póvoa Aires, com quem estou casada há quase 45 anos. São eles: Voltaire, Pery, Abílio, Zilmar, Norman e Maria Margareth. Assim que o terceiro nasceu, meu pai pegou nas mãos da criança e, fitando-a, disse-me:
–“Este é dos troncos velhos. Que bom que você se lembrou de mim! Espero que o meu nome não traga para este menino a mesma sina, com a sorte dos sofrimentos que já padeci”.
Optei, desde então, em educar os filhos sugerindo-os um caminho que não fosse o da política, mas ensinando-os a cultuar a memória do avô e os seus feitos honradamente. Afinal, ele nunca se arrependeu de suas atitudes.
Embora sem ensino superior, meu pai sabia se portar como uma pessoa de cultura avançada. Vão neste livro registros importantes de sua existência, muitos relatados por ele, de próprio punho, e assim o leitor terá um panorama da sua história, da firmeza do seu caráter.
Na última visita à Cidade de Goiás, comovi-me ao caminhar pelas ruas de pedra da época da escravidão e ali rever o palácio Conde dos Arcos, a Assembleia Legislativa, vivendo a retrospectiva de todos os anos do percurso do meu pai na vida pública até o compasso de espera em 1918, no Barulho da vetusta São José do Duro.
Dianópolis, dezembro de 2002.
Irany Wolney Aires2
[1 Irany Wolney Aires é escritora e membro fundadora da Academia de Letras e da Academia de Artes de Dianópolis-TO. Exerce o cargo de Suboficial do Cartório do 2º Ofício de Notas de Dianópolis. É autora e compositora das canções religiosas “No Horto das Oliveiras”, “A Vinda de Jesus”, “Três canções a Nossa Senhora” e da poesia “A Natureza em Festa”, esta musicada e interpretada no CD Meu Deus é Rei, gravado por Mônica Póvoa. Tem dezoito composições em estilos que variam de valsa e bolero, todas no seu livro Meus Versos e Canções.
INTRODUÇÃO
Na história, aquilo que foi escrito, de próprio punho, por Abílio Wolney veio a livro, selecionado dos seus Diários, apontamentos e cartas, e os trechos mais pertinentes com os fatos de que cuidam, tendo sido feita, tanto quanto possível, a atualização ortográfica.
Propõe-se deixar que também outros participantes dos episódios que, adiante desencadeariam as ocorrências de 1918/1919 contem, eles próprios, os fatos pertinentes à proposta do livro, na pretensão de ser um trabalho narrado, em parte, por quem viveu os acontecimentos, como é o caso do Escrivão Guilherme Ferreira Coelho, do Escrivão Aristóteles Leal, do Coletor Sebastião de Brito, da viúva Rosa Belém e de outros personagens, alguns com depoimentos trazidos do processo judicial, cujos autos estão transcritos na íntegra no livro O Barulho e os Mártires, do autor.
A crítica não me perdoará, e não me é pretensão supor despertá-la.
Começo a escrever na certeza de que minhas palavras serão recobertas de preconceito, por ser neto do protagonista, a quem devoto amor e admiração profunda, como se tivéssemos vivido juntos, se é que não estivemos na esteira dos tempos que constroem o espírito da consciência humana.
Todavia, a par dos diários do protagonista, trago à colação documentos oficiais e textos de autores respeitáveis, que se aprofundaram no estudo dos movimentos políticos ocorridos em Goiás, principalmente, entre 1894 e 1930, com o crivo acadêmico que a pesquisa lhes exigiu.
Aos que virem neste estudo uma mera justificativa da atuação de Abílio Wolney (antes e depois da vida pública) lança-se o repto para que apresentem argumentos fundamentados em fontes fidedignas, com o condão de demonstrarem a propalada acusação de que “os Wolney no Duro eram mandões, acostumados a ver suas ordens acatadas, a ter privilégios e a cometer arbitrariedades. Os acusadores que se baseiam no fato isolado de 1919 e nos recontros decorrentes, quando a força da Polícia dos Caiado gerou o desforço, que culminou numa chacina oficial, que tomem conhecimento das causas para analisarem a reação natural dos atores da lei de sobrevivência. E, nesse passo, verão, a partir de 1923, a continuidade da luta, sob a atuação da 4ª Companhia de Polícia do Estado, tendo por esbirro o Capitão Siqueira, achacador e comissionado para matar Abílio Wolney. Enquanto não consegue, vai despojando-lhe de todos os seus bens que pode levar.
***
Responsabilidade tremenda a do investigador da História.
Se, de um lado, não se pode esculpir Abílio Wolney num monumento aos heróis sem jaça, de outra parte, seria injusto relegá-lo à crônica dos vencedores na arena política da época, que a rigor, não sobrepõe-se ao que há de verdadeiro na maior parte da literatura a respeito. Objetiva-se apenas mostrá-lo como “uma voz, uma única voz que se levantou, de forma aberta contra os impulsivos sátrapas, a do Deputado do norte de Goiás, Abílio Wolney, o que foi, nesse dia, um ato heróico […].”
A mais, supõem-se não esteja ele nas esferas dos céus imarcescíveis da Divina Comédia [2, nem no inferno – territórios mitológicos dos maniqueístas.
Sua alma firme e magnânima não estacionaria nas trincheiras do ócio contemplativo, nem do mal pelo mal ou da covardia. Por certo, também não habita o Purgatório, alegoria medieval das antigas crenças, na lentidão dos que trafegam a encosta da montanha almejando o Paraíso.
Ainda é cedo…
Por enquanto, é vê-lo no bronze, nos logradouros, encarnando a estátua da história, como a dizer que o tempo não o corrói. Mas também aí não está vitorioso, visto como a injúria do tempo danifica as glórias e enxota as notoriedades, nas palavras de Pedro Ivo. Ademais, as honrarias do plano dos homens são tão provisórias como os próprios.
Melhor enxergá-lo, então, em reflexos luminosos a me seguirem os passos, na existência de agora, “mas os nossos espíritos se encontram unidos pelos laços mais fortes da vida maior e o sentimento afetivo que me impele para ele parece ter raízes na noite profunda dos séculos” [3, certo que à nossa frente desdobra-se a eternidade.
Apesar da sua trajetória magnífica no Parlamento (1894 a 1912), sofreu – em consequência – toda sorte de revezes nos embates de poder do mundo, onde vigoram as grandezas efêmeras, que duram por um dia fugaz! Com algumas glórias, a história não registra um só ato seu de violência durante a sua atuação na vida pública, inclusive nos períodos em que foi Prefeito de Barreiras (1931-37), e depois em Dianópolis (1946).
Os que o viram em pessoa recordam-lhe os passos lépidos, uma certa benemerência e bondade até o seu desenlace em 1965. Olhar curto sob os óculos nos janelões do ‘Casarão’, no mesmo ângulo da praça do largo, onde plasmava-se o retrato assombroso da “Chacina de 1919”.
Do mesmo Duro onde viveu tanto, sofreu mais ainda, onde amou, foi traído e amou novamente”. [4
A verdade é que Abílio Wolney veio de tempos que não chegaram ainda e viveu como uma história que se entendesse sobre a vida…
Grande orador de sua época, soube exercer a política como um apostolado.
Na Tribuna e na Imprensa, arrostou o império de sangue e impunidade que reinou no início do século XX, fazendo-se a vibração sagrada de resistência aos desmandos da ditadura oficial instalada em Goiás, cujo ocaso se deu com a subida de Pedro Ludovico ao Poder na Revolução de 1930. O mesmo Ludovico, que também se viu obrigado a armar-se com homens contra aquela gente que veio da aristocracia ancestral e encarnava as elites em Goiás.
Justo, honrado e destemido, Abílio Wolney dignificou Goiás e o sempre Tocantins numa legenda de lutas oposicionistas à oligarquia mais violenta do Brasil, gravando-se na memória dos justos como o grande defensor da sua região esquecida.
Deixou esta vida e entrou para a história aos 89 anos de idade.
Morreu naturalmente no ‘Casarão’. É como se ouvisse o povo contar: Lá ia o cortejo no seu último itinerário… “Coberto de flores, desceram-lhe à tumba molhada com o pranto dos que o amaram”. [5 Em Anápolis – cidade à qual havia sugerido o nome entre 1894 e 1900 – reponta o seu crânio num busto, entre as flores do paço municipal, por onde passo ao cair da tarde, quando deixo o prédio anexo ao Fórum, na certeza de que ele continua também aqui, distribuído na praça pública, como semente de multidões… [6
Para Carlyle, “a história do mundo não é senão a biografia dos grandes homens”.
E há homens que já nascem póstumos.
[2 Obra de Dante Alighieri.
[3 Frase emprestada de Emmanuel a Chico Xavier.
[4 Trecho da carta do jornalista José Leal ao escritor Nertan Macedo.
[5 Paráfrase de Shakespeare
[6 Praça Deputado Abílio Wolney, no cruzamento das Avenidas Brasil e Goiás em Anápolis-GO.
–O Paço Municipal de Barreiras (BA) ostenta destacada a sua fotografia na galeria dos ex-Prefeitos.
–Em Dianópolis, há o Grupo Escolar Cel. Abílio Wolney e a Rua Cel. Abílio Wolney.
–Em Novo Jardim (TO), a praça principal leva o seu nome.
–Em Águas Lindas de Goiás, temos a biblioteca pública Dep. Abílio Wolney, com destacada fotografia do seu patrono.
–Em Palmas (TO), o Museu Histórico do Estado do Tocantins, conhecido como “O Palacinho”, registra com grande destaque em uma de suas paredes internas a seguinte inscrição, ao lado da fotografia de Abílio Wolney e dos nove mártires no tronco: “No abandonado nordeste goiano, hoje sudeste do Tocantins, mais precisamente em São José do Duro, surge no começo do século a liderança de Abílio Wolney, jovem Deputado que fez tremer o chão de Vila Boa com seus discursos em defesa do povo dessa região. Temendo o poder político dos nortenses, os velhos coronéis de Vila Boa apelaram para a violência, enviando a São José do Duro uma tropa fortemente armada para subjugar as famílias Aires, Póvoa, Rodrigues, Costa e Leal, culminando com uma chacina oficial de nove nortenses, filhos dessas ilustres famílias que apoiavam Abílio Wolney” (Texto do Des. Marco Villas Boas).
–Na entrada do Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins, em Palmas, estampa-se, num grande painel cerâmico, o drama vivido pelos nove reféns na Chacina Oficial de 1919. A honrosa iniciativa teria sido do Des. Marco Villas Boas, durante a sua gestão como Presidente do TJ-TO. Nele se veem os pés dos mártires na presilha de madeira do ‘tronco’ e a cavalaria da milícia goiana (Veja fotografias no livro O Duro e a Intervenção Federal).
[Continua na próxima postagem quinzenal, com a publicação do Capítulo I
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