SAÚDE DO CORAÇÃO

DR. JOÃO JOAQUIM DE OLIVEIRA

DR. JOÃO JOAQUIM DE OLIVEIRA é especialista em Medicina Interna e Cardiologia, Assistente do Serviço de Cardiologia e Risco Cirúrgico no Hospital das Clinicas – Faculdade de Medicina / Universidade Federal de Goiás (UFG) – Goiânia-GO; membro Sociedade Brasileira de Cardiologia; e, estudante de Filosofia.

Contatos: joaomedicina.ufg@gmail.com. Acesse: www.jojoaquim.blogspot.comwww.jjoaquim.blogspot.com.br

O pecado da glutonaria

Pecaminosamente, as pessoas, muitas e milhões de pessoas continuam morrendo pela boca, à semelhança dos peixes. Esses que comem voraz e insensatamente. Peixes não pensam para comer, comem até iscas e outros peixes contaminados com mercúrio e outros venenos. O que se sabe é que eles, peixes, só pensam em comer. Já viram peixes fazendo outra atividade, contemplando as belezas de rios e mares, as algas, as flores aquáticas? Quando olham outros peixes é na intenção de os devorar. Vorazmente, e de forma inclemente. E para afugentar êmulos, concorrentes e predadores, eles possuem agilidade e até espículas, mal-cheiro e venenos.

Quando se fala em comer de forma pecaminosa não é exagero porque a gula, a glutonaria, a popular gulodice, ela está no rol dos sete pecados capitais: avareza, inveja, gula, luxúria, orgulho, a ira e a preguiça.

Mas, o progresso veio e a humanidade inteira perdeu esse temor que era metido na consciência das pessoas. Adeus medo da punição. Tome o caso da avareza, quantas pessoas doam parte de seus bens e alimentos para os mais famintos e sem nada. Tanto que criaram os grupos dos sem. Sem-terra, sem teto, sem emprego, sem perspectiva. Esses são os deserdados de tudo. Porque há também os outros sem. Sem escrúpulo, sem ética, sem solidariedade, sem empatia. Esses são os com tudo, bem possuídos. Muitos vivem bem domiciliados nos casarões, castelos e palácios de Brasília.

A inveja. Esse pecado caminha pari passu com a sociedade, principalmente com aquelas pessoas que só pensam no supérfluo e fútil. A luxúria. Ah, luxúria! Quantas pessoas só pensam nisto e naquilo. O orgulho, vai dizer que existe alguém que nunca teve um pouco ou muito! A ira, basta ver os motivos de uma guerra. A preguiça! Ai, que preguiça, basta ler Macunaíma, de Mário de Andrade.

E então ela, a gula. Ao que parece para muita gente a vida se redime ou se resume em comida. E aqui vale alguma defensoria. Pública ou privada defesa, em favor da comida, dos nutrientes, da nutrição e alimentação (ato de ingestão). Primeiro, que a comida é essencial à vida de qualquer ser vital. Vegetal, animal, humano. Segundo, porque a comida, os nutrientes de toda ordem são fontes de energia, de força, de anatomia, de beleza e felicidade. Todavia, alto lá! Porque vêm as ressalvas e condicionantes. O substantivo aqui expresso, a felicidade, decorre dos outros atributos da comida, dos nutrientes.

Entendamos melhor, quando ingerimos uma garfada de arroz, nos grãos dessa gramínea estão contidas algumas vitaminas, sais minerais, amido, etc., trata-se de uma massa palatável, agradável às papilas gustativas? Sim. Mas, não é para o glutão comer a lá Pantagruel ou a la Gargântua (vide obra de François Rabelais). Ou à maneira de como fazia os sapiens das cavernas. Por que dessa condição? porque na janta haverá mais arroz, feijão, vaca e frango.

Data venia, penso que Deus podia ter nos concebido com algumas outras características digestivas, outros reflexos, à maneira mesmo de outros animais e mesmo outros reflexos em nosso organismo. Pensemos, por exemplo, em dois animais inferiores, o cão e o gato. Ingerida a porção de ração a eles disponíveis, eles de pronto se tornam anoréticos e saciados. Nenhum grão a mais. Sob pena até de vômitos e regurgitação. E por que nesses quadrúpedes assim se sucedem tal reflexo de saciedade e limite nutricional? Porque eles trazem o instinto ou reflexo do limiar nutricional, muito além do limite da saciedade.

Tomem-se dois outros exemplos dos humanos. A ingestão de água para saciar ou mitigar a sede. Além do limite, só se for como terapia para lavagem digestória. Outro belo exemplo, quando se tem a repleção vesical (bexiga). Nada se compara à satisfação de aliviar esses dois órgãos quando repletos do conteúdo excretório.

Assim, também poderia se dar no ato de se alimentar. Atingido o limite (ou limiar) nutricional, o alimentante ou glutão ou comilão, não importa; ter ele a sensação de náuseas fisiológicas, náuseas do bem. Ou mesmo empachamento prandial e não comer além do necessário e ir se repimpando de gorduras e obesidade em toda extensão territorial, isto é, por todo o corpo. É isto, o que se há é esse pecado capital, comer de tal jeito, que uma hora a fatura chega. E chega com nocividades, diabetes, hipertensão, fadiga, artrose, colesterol e outro rol de comorbidades de dar medo e temor de todo modo.

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