SAÚDE DO CORAÇÃO

DR. JOÃO JOAQUIM DE OLIVEIRA

DR. JOÃO JOAQUIM DE OLIVEIRA é especialista em Medicina Interna e Cardiologia, Assistente do Serviço de Cardiologia e Risco Cirúrgico no Hospital das Clinicas – Faculdade de Medicina / Universidade Federal de Goiás (UFG) – Goiânia-GO; membro Sociedade Brasileira de Cardiologia; e, estudante de Filosofia.

Contatos: joaomedicina.ufg@gmail.com. Acesse: www.jojoaquim.blogspot.comwww.jjoaquim.blogspot.com.br

A mudez da internet

O mundo tecnocientífico em que vivemos nessa terceira década do século XXI tem nos imposto profundas alterações nas relações sociais quando se compara com os idos de 30 ou 40 anos atrás. Nessa época (anos 80) a informática e internet estavam apenas na forma de embrião, em compassos bem rudimentares. Essas transformações, propiciadas por tantos avanços das ciências e das tecnologias da informação mudaram positivamente a rotina e a vida das pessoas em todos os níveis, seja no trabalho, no comércio, na indústria, no âmbito jurídico, na esfera social, afetiva, etc.

Não há dúvida de que frente a tantas conquistas de bens e aparelhos, sejam estes para melhorar a produção industrial ou mesmo o exercício de cada profissão, a vida e a produtividade do homem tiveram um salto de qualidade. Na área de lazer, recreação e entretenimento então, são amplos e notáveis os resultados de tanto progresso. O que há de se lastimar é que as classes menos abastadas, de baixo poder aquisitivo, continuam à margem dessas conquistas, sem desfrutar de tantos utilitários eletro-informáticos e outros equipamentos e insumos, sejam para o trabalho ou para diversão ou mais importante: na formação escolar e cultural.

Tantos ganhos e alcances, em termos de aparatos tecnológicos que trouxessem impacto na sociedade, seja na esfera de produção ou diversão, é natural de se esperar igual impacto no âmbito das relações sociais, da ética, das obrigações civis ou jurídicas das relações familiares, da educação, entre outras.

Sem acirrar sobre tamanhas e tantas mudanças desses tempos da era digital faço algumas reflexões sobre a temática educação, em especial, lato sensu, as relações pais/filhos e alunos/professor.

Aqui expresso minha opinião como pai de um casal de jovens e cultor incondicional que sou da boa educação como fator decisivo na formação do bom caráter e moral do indivíduo. Este, aliás, um conceito defendido por Aristóteles na Antiga Grécia. No quesito educação o que presenciamos é que a qualidade dos valores culturais e formação educacional de nossas crianças, adolescentes e jovens caminha em sentido inverso ao pregresso tecnocientífico.

Quando menciono valores culturais e formação educacional, refiro-me não apenas à formação escolar da criança e jovem no conhecimento das disciplinas básicas ensinadas nas escolas, mas sobretudo o amadurecimento moral, social e ético como “pessoa humana”.

As tecnologias de hoje, em especial, as de mídia (celular, internet, games) vêm subvertendo a importância que sempre se deu a sentimentos e atributos quase inatos e que sempre foram cultivados e ensinados ainda no berço, no seio familiar. Ou seja, o amor, a generosidade, a fraternidade. Estes parecem não pertencer mais às relações humanas. Hoje, fala-se tanto em direitos das crianças e adolescentes que sugere uma inversão de valores. Filhos não respeitam ou cumprem orientações de pais ou responsáveis e educadores. Nossos adolescentes e jovens perderam completamente o sentido e o valor da hierarquia pai/filho e professor/aluno. Fica a sensação de que, se respeito houver, este deve ser do pai ao filho, do professor ao aluno, do idoso ao jovem.

Exemplo de tanta mudança, domínio e força nesta era digital e da internet foi a edição da lei “palmada” que diz: se um pai ou mãe desferir uma palmada mais forte na punição ou correção do filho, poderá haver processo, contra o genitor, se denunciado pelo filho. Se esse castigo, mesmo leve, ocorrer na relação professor/aluno, poderá haver exoneração, processo e execração pública do educador. Ou seja, tornou-se desestimulante e um risco a indelegável e santa missão, a de educador.

Necessário e urgente se torna que as famílias, os educadores e as políticas educacionais repensem valores e ensinamentos de ética, civismo e moralidade nesses tempos modernos. Do contrário criaremos uma geração de pessoas embrutecidas e empedernidas que são tocadas e sensibilizadas apenas por máquinas e computadores. O ser humano foi concebido não apenas para repetir e copiar o que está pronto. Precisamos formar e educar pessoas pensantes, criativas, críticas e que possam inserir, mudar e melhorar o seu meio social, o mundo que queremos melhor. Para tanto, precisamos também de pessoas melhores.

Hoje já vemos muitos desses jovens que no domínio desses objetos e utensílios de informática e mídia, parecem verdadeiros autômatos, alheios à natureza, às pessoas e à vida.

Crianças ainda em tenra idade, adolescentes em formação de personalidade e caráter, jovens e adultos estão perenemente plugados nas tecnologias da modernidade. Todos se encontram ocupados e conectados com suas mídias, ninguém mais vive sem o celular, sem os smartphones, sem os notebooks, sem desgrudar das Redes sociais. As pessoas não falam mais com as pessoas, elas falam com as máquinas.

Até aonde chegarão estas transformações, este alheamento? Isto dá medo! Até onde? Até quando?

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