SAÚDE DO CORAÇÃO

DR. JOÃO JOAQUIM DE OLIVEIRA

DR. JOÃO JOAQUIM DE OLIVEIRA é especialista em Medicina Interna e Cardiologia, Assistente do Serviço de Cardiologia e Risco Cirúrgico no Hospital das Clinicas – Faculdade de Medicina / Universidade Federal de Goiás (UFG) – Goiânia-GO; membro Sociedade Brasileira de Cardiologia; e, estudante de Filosofia.

Contatos: joaomedicina.ufg@gmail.com. Acesse: www.jojoaquim.blogspot.comwww.jjoaquim.blogspot.com.br

Pais e filhos

Cada vez mais eu me convenço da Teoria dos Empiristas britânicos e/ou irlandeses. Afirmam esses notáveis pensadores que ninguém nasce sabendo alguma coisa, além dos instintos naturais e comuns a todos os animais. Além de não sermos ninguém não somos nada ao nascer. Tal tese ou eterna verdade basta se espelhar na condição de um surdo-mudo, antes da criação do sistema Libras, Língua Brasileira de Sinais. Antes desse idioma específico a esse grupo de pessoas, elas estavam condenadas ao analfabetismo absoluto e permanente.

De encontro ao empirismo (John Locke, David Hume, etc.) tem-se o racionalismo que defende a ideia de o ser humano trazer internamente, inatamente, informações intelectuais. Tal suposição soa um tanto esdrúxula no estágio em que se encontram as Ciências da Natureza, as tecnologias de toda ordem e tantas pesquisas da psique e mente humanas.

Imagine-se como exemplo, absurdamente porque tal experiência é contrária à dignidade e aos direitos humanos. Imagine-se uma criança ser isolada em uma ilha ou uma redoma. E a ela ser oferecido apenas os alimentos e higiene. Nenhum ensinamento a mais. Atingidos os 20 anos de idade, ela teria as mesmas características intelectuais e cognitivas de nascimento porque não passou pela experiência do aprendizado. Estas aqui consignadas notas são apenas para dar entrada em outro tema educacional dos mais profícuos e eficazes.

Fala-se da Escola familiar. Da missão nobre e responsável ou ao reverso, do papel vil e negligente da família, de uma mãe ou pai na educação do (a) filho (a). Ou na ausência dos pais, dos responsáveis pela guarda, pela criação e instrução e formação intelectual, escolar e social de uma criança. Porque que fique claro este conceito: criar, se cria um cachorro, um gato, um porco. Educar se faz com gente = criar, educar, instruir, pôr limites, formar cidadão. Neste grupo de agentes cuidadores e formadores da criança entram avós, outros parentes, instituições (creches, abrigos, casas) por esses menores e incapazes.

A educação de filhos vem se transformando em matéria muito sensível e espinhosa para especialistas, para educadores e escolas com padrões éticos, culturais e sociais mais rígidos e construtivos. Muitas são as famílias, os pais e mães que vem caindo nas esparrelas dos excessivos direitos humanos, dos ausentes deveres humanos. Há como que uma norma ou regra única na criação dos filhos: Tudo pode, é proibido proibir..

A relação dos filhos, dos pais com educadores e escolas se faz regida pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC) – Pagou, passou. Se quitadas as mensalidades e taxas de matrícula, o aluno obtém o direito de pular de Série. Igual princípio se faz nas escolas públicas porque trata-se da garantia dos direitos humanos. Ninguém pode ser constrangido de não ter aprendido o básico, nota cinco de mínimo.

Muitas são as demonstrações, as manifestações sintomáticas do descalabro e esparrela em que caem os pais na criação e canhestro jeito de educar os filhos. Basta ter em conta o excesso de proteção, de isolamento, de bens supérfluos que possuem essas novas gerações de filhos e filhas. São mimos, são brincos e brinquedos, objetos de mídia, smartphones, tablets, computadores. E aqui, ao se referir a tais mimos e pertences digitais, eles são oferecidos às crianças de baixa idade, cinco anos, seis anos ou menos. Essas crianças já crescem hábeis e ágeis em usar os dedinhos no acesso aos games, aos joguinhos, aos aplicativos, a todas as futilidades do mundo virtual e sem virtudes. Essas crianças são expostas a essas mídias, a essas teletelas sem nenhum critério de tempo e qualidade.

A própria linguagem dos pais com os filhos, os pronomes de tratamento são outros sintomas da desconstrução dessas crianças, adolescentes e jovens como futuros cidadãos, como sujeitos autônomos, como futuros profissionais e cidadãos produtivos. Os excessos de mimos, de brincos e afagos começam na nova nomenclatura de tratamento. São os filhos, os filhões, as filhonas, os príncipes, as princesas, os presentes (os filhos) de Deus.

Fica a pergunta: que mundo futuro e melhor e mais civilizado e bem gerido eu quero com essa nova geração de filhos mimados e dependentes e protegidos? Muitos dos quais não sabem sequer cuidar de seus quartos de dormir e dos sanitários que usam a toda hora.

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