SAÚDE DO CORAÇÃO

DR. JOÃO JOAQUIM DE OLIVEIRA

DR. JOÃO JOAQUIM DE OLIVEIRA é especialista em Medicina Interna e Cardiologia, Assistente do Serviço de Cardiologia e Risco Cirúrgico no Hospital das Clinicas – Faculdade de Medicina / Universidade Federal de Goiás (UFG) – Goiânia-GO; membro Sociedade Brasileira de Cardiologia; e, estudante de Filosofia.

Contatos: joaomedicina.ufg@gmail.com. Acesse: www.jojoaquim.blogspot.comwww.jjoaquim.blogspot.com.br

Não se ajuda a quem não quer ajuda

Dois são os sentimentos quem bem caracterizam e descaracterizam o homem (gênero humano). O altruísmo ou generosidade é um sentimento muito peculiar ao homem “humano”; já o egoísmo é um sentimento que descaracteriza o homem (gênero) “desumano”. Simplificando: altruísmo e egoísmo são sentimentos e valores antagônicos, contrários na expressão e efeitos. O altruísmo é o sentimento de levar o bem ou virtude ao outro; o egoísmo é o sentimento de pensar no bem e benefício próprio.

Vamos desenvolver aqui a seguinte questão: o sentimento do altruísmo ou empatia, o desejo ou vontade espontânea de fazer o bem ao outro é muito variável de pessoa para pessoa, e tem razões constitucionais como a personalidade, o temperamento, a cultura, a educação, crenças e convicção. Tem a ver também com a ética, e lembrar do ensino de Aristóteles de que ética é um sentimento que se aprende da infância. Não se nasce ético, a criança é aética e amoral. A ela precisa ensinar e treinar os preceitos éticos, morais e de honestidade. O altruísmo, o desejo de levar o bem ao outro entra nesse pacote da educação.

Há uma noção ou senso coletivo de que ajudar o outro faz bem para os dois lados, ao ajudado e ao ajudador. Entretanto, sob a consideração existencial e mesmo espiritual, muitos são os pareceres e teorias de que os benefícios material e espiritual vão depender da receptividade da pessoa ajudada. Noutras palavras: deve-se ajudar quem quer ser ajudado. Existem pessoas que se recusam e sentem até repulsa e rejeição, resistência com certas ajudas, tidas por elas como desnecessárias, indesejadas, reprovadas, não de seu gosto e apreço. Nessa circunstância, quem ajuda não recebe os benefícios desse bem, dessa ajuda, dessa empatia. Não há reciprocidade nesse gesto e ponto final. Estamos a falar aqui de outro sentimento de quem não quer ajuda, a ingratidão. Existem pessoas que são indiferentes, ingratas com ajudas.

Dentro do expediente ou práticas de ajudar o outro, do exercício da filantropia e voluntariado, vale a leitura ou resumo do que nos ensina o pensador e filósofo Santo Agostinho, no seu livro Confissões. É o conceito de livre-arbítrio, ou livre vontade para fácil compreensão. Ao homem foi dado a prerrogativa de ou viver sob as graças divinas (o bem, as virtudes) ou a pessoa seguir sua inclinação, e correr o risco das escolhas. É um determinismo inerente ao homem, como animal inteligente, superior e racional. Cada pessoa tem essa inarredável capacidade de saber o que é certo e bom, do que é incerto e duvidoso para o seu bem agora e no futuro, e até para as pessoas ao seu redor, um filho, irmão (irmã) ou pai e mãe, etc. Escolhas.

Nesta ora discussão bons exemplos são o quanto pode ser como enxugar gelo ou apagar incêndio com gasolina, em propor ajuda ou tratar um dependente químico de maconha, cocaína, crack, álcool. Em se falando desses viciados (adictos recalcitrantes e malcriados e intragáveis), o índice de recuperação dessas pessoas é desprezível, quase zero. Alguns podem entrar em programas de vigilância! Entretanto, o cérebro deles nunca esquece a droga. Ao se tentar ajudar essas pessoas, quem ajuda vai se desgastar, se frustrar, se enervar, se sentir até rebaixado, diminuído, fragilizado e adoecer junto com esse dependente químico, recalcitrante, intratável, intragável e ingrato. “Não quero ajuda, e pronto!”. É o ditado: “Pode-se conduzir um burro até a beira do rio, mas não se pode obriga-lo a beber a água do rio”.

Em se discorrendo sobre a natureza e personalidade dessa pessoa que não quer ajuda, resistente, recalcitrante. Esse indivíduo é um legitimo exemplo do praticante do chamado livre-arbítrio, ou livre escolha, conforme sua vontade. O usuário de maconha, de cocaína e outras drogas, o alcoólatra. Ele ou ela, não foi enganado (a), não foi vítima de fraude ou fake news ao iniciar o vício. Especialmente pós era de televisão, celular e internet, quando as pessoas têm nas mãos as informações e estatísticas dos danos, dos agravos e malefícios que o vício traz a si próprio, à família, ao seu bem-estar social, afetivo, familiar e profissional. Foi uma livre escolha, uma decisão autônoma, vontade! A desgraça e infelicidade desta escolha é que ela vai lesar e agredir as pessoas do convívio, especialmente os familiares próximos e coabitantes!

Grandes nomes das ciências e pensadores falam sobre essas questões do livre-arbítrio e livres escolhas, do altruísmo levado a quem quer ajuda e dos que não querem certas ajudas porque são contrárias aos seus desejos e opções. Quer saber mais? Leiam Sigmund Freud, Auguste Comte, Santo Agostinho. Quer ajudar? Ajude a quem é receptivo, grato e quer ajuda! Já a quem não quer ajuda, a escolha e danação de sua vida é da pessoa. Livre-arbítrio. O curioso e instigante é que muitas dessas pessoas, quando está em sofrimento ou risco de morte elas pedem ajuda! E acreditem! Passado o susto a ameaça, a ingratidão permanece! É dos humanos!

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