SAÚDE DO CORAÇÃO

DR. JOÃO JOAQUIM DE OLIVEIRA

DR. JOÃO JOAQUIM DE OLIVEIRA é especialista em Medicina Interna e Cardiologia, Assistente do Serviço de Cardiologia e Risco Cirúrgico no Hospital das Clinicas – Faculdade de Medicina / Universidade Federal de Goiás (UFG) – Goiânia-GO; membro Sociedade Brasileira de Cardiologia; e, estudante de Filosofia.

Contatos: joaomedicina.ufg@gmail.com. Acesse: www.jojoaquim.blogspot.comwww.jjoaquim.blogspot.com.br

O fracasso das dietas

Entre os cuidados com a saúde, muitos são aqueles tratamentos com suas características de sucesso ou fracasso. E nessa natureza do êxito ou não ao prescrito pelos profissionais, uma participação do paciente se chama adesão ao tratamento. De forma prática e sumária, o que vem a ser o comportamento de adesão? É a predisposição e desejo do paciente em assimilar, cooperar e seguir fielmente as recomendações, a terapêutica proposta, os medicamentos prescritos, a mudança de atitudes no chamado estilo ou hábitos de vida, o cumprimento de horários para a prática terapêutica, dieta, os exercícios recomendados, a fisioterapia, as sessões psicoterápicas, entre outros compromissos com o tratamento.

Nesse artigo falemos das práticas terapêuticas mais comuns, para ilustração de matéria. A terapêutica mais encontrada onde se aplica a adesão do paciente é o uso de medicamentos. Quantas não são as pessoas que não seguem corretamente a prescrição dos medicamentos feitas pelos médicos? Milhares. A doença mais maltratada, subtratada e não tratada é a hipertensão arterial. E porquê dessa não adesão correta ao tratamento? Primeiro porque ela não dói, não traz falta de ar ou fadiga, não tira o sono, não gera impotência sexual ou frigidez. Esses dois itens fariam o paciente tomar melhor os remédios, mas a hipertensão é uma doença silenciosa, assassina silenciosa porque, na surdina, ela vai corroendo os órgãos vitais da pessoa (coração, rins, cérebro).

A segunda morbidade mais difícil de se tratar se chama sedentarismo. Porque também não dói, não gera impotência sexual nem frigidez feminina. E atividade física e privação de alimentos cheirosos, capitosos e saborosos não são atitudes a que a maioria das pessoas está disposta a tais sacrifícios. O prazer, o gozo e a satisfação gustativa constituem uma das “formas de felicidade da humanidade”. Leia sobre epicurismo e hedonismo, a propósito de prazer e felicidade (filosofia de Epicuro sobre o prazer).

Uma outra forma de terapêutica nem sempre com eficácia alta e curativa são as psicoterapias. E façamos aqui algumas considerações a respeito. Muitos distúrbios trazem suas raízes na formação e construção educacional do indivíduo. Na origem da palavra, dis, prefixo de intensidade e turbare, confundir, perturbar, inquietar, desorganizar. Muitas das doenças mentais, a ansiedade, a depressão, têm suas raízes no formato da criação e educação dessa criança, desse adolescente e jovem. São exemplos os indivíduos que foram primariamente e predominantemente crescidos e engordados (amadurecidos fisicamente) com muitos mimos, regalias, poucos limites de ética e convivência. Quando adultos, eles enfrentam as regras e exigências de madurez da idade. No íntimo e instinto animal, querem continuar adolescentes. E então haja depressão, haja desadaptação social e ao trabalho. Sobram então as tentativas dos terapeutas, dos psicólogos, dos antidepressivos e antipsicóticos. Muito fracasso. É natural.

Por último uma forma terapêutica da pior adesão no planeta se chama dietoterapia. Porque a palavra em si lembra o que? Restrição, regime, proibição, privação. O consulente já sai de casa para ir ao nutricionista (médico ou não) com esse sentimento negativo, com a certeza de que seus hábitos serão contrariados, proibidos, alterados. E aqui façamos também algumas considerações sobre os termos empregados (eufemismo, minimização) entre a realidade e a concepção de pessoa assistida e o próprio profissional. A maioria das pessoas desses consultórios não está obesa, a maioria é obesa e morrerá obesa. Existe uma enorme diferença entre ser e estar. A doença é multifatorial, familiar por herança genética e comportamental. Por isso a maioria incurável da condição. Existir e ser difere de estar acima do peso normal.

Observem essa cena repetida e muita deparada: o homem ou mulher resolve que precisa perder peso. Muitos já não fazem adesão à prática continuada de atividades físicas. Razões variadas, falta tempo, insegurança de fazer caminhadas com chuva e no escuro. Então há o recurso do nutricionista. Vão às consultas, entrevista, balança (ai, balança mentirosa!). “Acho que estou meio inchado, doutor!”. O profissional diz: “Você está com retenção hidrossalina! Vamos usar um diurético!”. E usa mesmo, perde água e até peso temporário, porque desidrata a pessoa.  Vem a dieta, uma lista do chamado “pode e não pode”, com moderação e livre, e proibido. E a pesagem dos alimentos, compra de balancinha de precisão, dosagem, tamanho dos bifes, dos pães, das massas etc, etc. Essa adesão costuma durar três semanas, um mês. Depois, adeus dieta!

A maioria fracassa, porque os instintos, o prazer gustativo, o prazer e a felicidade que descem pela boca são imperativos e eternos vermes interiores que coçam e cobram sua cota de participação. É como aquele mito de rolar uma pedra montanha acima (dieta) e despencar e começar de novo, de novo, de novo. Desadaptação à prescrição, não adesão, fracasso, nova consulta, fórmulas para obesidade, eterna obesidade, ser obeso. E assim sobrevivem os não adesistas às terapêuticas e, assim, fazem sucesso os médicos e nutricionistas. Ufa! Que fadiga!

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