Filhos príncipes
Neste breve texto dedico-me à questão das relações sociais. De forma genérica, pode-se dividir as relações sociais em macro relações e micro relações, e para melhor compreensão, nada melhor do que exemplificar o que seja uma macro e uma micro relação social. De macro, as relações que o cidadão estabelece com o Estado, com grandes empresas, com grandes agremiações esportivas, grandes sociedades de classes, profissionais, culturais, etc. De micro relações. Nenhuma melhor do que a família, uma pequena sociedade corporativa, uma classe de aula, um grupo social com poucos membros para os fins diversos, de trabalho, cultural, de entretenimento.
Vamos denominar essas relações de unívoca e biunívoca, ou numa compreensão mais singela, como deve se estabelecer as relações de cada pessoa, cada indivíduo nesses segmentos sociais, os macros e os micros grupos. Nessas relações pode-se aplicar alguns atributos ou cláusulas dessas relações. Ou em outros termos, em todas as relações; corporativas, jurídicas ou pessoais, há princípios que devem nortear ou regrar essas interações. Assim, de fundamentos naturais ou de bom senso, ou mesmo por convenções humanas, as condutas e expedientes das pessoas devem ser guiadas por ética, civilidade, solidariedade, cooperação e fraternidade.
Algumas ligeiras noções sobre esses atributos ou modo de conduta humana. Ética, como ideia a mais simples é fazer o bem ao outro, é promover o bem-estar e felicidade de outra pessoa. A melhor visão ética é aquela conduta ou ação que possa receber uma aprovação universal. Dessa forma, a simples prática do bem, mesmo que não a mim destinada me faz bem porque estou promovendo o bem alheio. Fazer o bem é se sentir-se beneficiário deste próprio bem. Civilidade envolve a ideia de um convívio harmônico, estético e mutuamente benéfico; é uma expressão forte do humano, do homo sapiens. Solidariedade, na origem é uma convivência em que um fortalece o outro, é o sentido de todos por um e um por todos e não cada um por si e Deus por todos (ideia de egoísmo, contrário à solidariedade).
Cooperação e fraternidade são sentimentos e expedientes que se fundem e se confundem. São estados de ânimo e de espírito de uma relevante humanidade. Essas disposições de espírito nos definem como animais sociais. E mais, diferenciados, tidos e aceitos como superiores aos irracionais e aquinhoados de alma e intelecto. Tome-se como teoria as ideias de Plotino (esse discípulo póstumo de Platão). Disse este pensador: na constituição do universo há o supremo ser, o Uno, depois o intelecto ou espírito, depois a alma e a constituição corpórea. O homem, continua Plotino, é a criação mais perfeita do Uno, essa energia criadora. Bem compreensível e aceitável, essa tese do neoplatonista Plotino.
E então conclui-se este artigo com a mensagem e finalidade central e fulcral. E aqui fala-se sobretudo aos pais, pouco importam as gerações destes, fala-se aos educadores, aos tutores, aos cuidadores e pedagogos, aos paraninfos, aos avós (investidos nos cuidados de netos e crianças). Fala-se de igual modo aos jovens, ou mesmo já adultos, não importa a educação que tiveram. Como acima referido, o mote inicial foi as relações humanas, no modo macro ou micro. Não infrequentemente assistimos, tais cenas são encontradiças, presenciamos e vemos muitos pais e mães, ou cuidadores responsáveis superestimando os dotes físicos, graciosos e habilidades de filhos e filhas. Quando na verdade eles são normais e padrões como os outros de suas igualhas e de mesma idade e habilidades.
E como melhores demonstrações dessas construções ilusórias e falsas dos filhos e filhas, eles (filhos) recebem até títulos, carinhosos nomes honoríficos de príncipes e princesas. Ou nomes de heróis e heroínas. Muitos dos filhos e filhas recebem indumentárias dos fictícios personagens de filmes infantis e juvenis. Mais demonstrações são as apresentações desses privilegiados filhos e filhas a outros pais, a outras mães, a parentes como se príncipes e princesas fossem. E essas receptivas pessoas (avós, tias e tios, padrinhos) entoam em coro essas elogiosas atribuições.
Com o resultado indelével na mente e lembranças dessas crianças, adolescentes e jovens, de que eles são de fato melhores, privilegiados e mais belos e preferidos do que os demais. Assim, não é incomum, se tornarem adultos com esse arranjo em seus conceitos de ética, de moral e civilidade. A esses tais e quais quase sempre são destinados o primeiro pedaço do bolo ou torta de qualquer aniversário, de Natal e Ano Novo. Existem diversos estudos de humanidades, Psicologia, Psicopedagogia e Sociologia na interpretação dessa relação pernóstica, nociva e infantilizadora dos pais com seus filhos. São assim, candidatos a serem adultos perenemente fragilizados, dependentes, improdutivos; com uma diátese e peculiaridade aos chamados distúrbios da boa convivência e estabilidade da vida relacional, entre outros achaques de adaptação aos grupos sociais, vida conjugal e corporativa.
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