PAINEL CULTURAL

DR. ABILIO WOLNEY AIRES NETO

DR. ABILIO WOLNEY AIRES NETO é juiz de Direito titular da 9ª Vara Cível de Goiânia-GO.; graduando em Filosofia e em História; e, acadêmico de Jornalismo; autor de 15 livros de história regional, poemas, crônicas e Direito; ocupante de cadeiras no Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG), Instituto Cultural e Educacional Bernardo Élis (ICEBE), na Academia Goiana de Letras (AGL), Academia Goianiense de Letras (AGnL), Academia Dianopolina de Letras (ADL), Academia Aguaslindense de Letras (ALETRAS); e, membro da União Brasileira de Escritores (UBE-GO) – Seção Goiás; e, do Gabinete Literário Goyano. Contatos: @AbiliowolneyYouTube

LIGIA

Findava julho, quando tudo começou

A cidade dormia no sonho de um beijo fugaz

De plangente o violão antecipou ao amanhecer

Vara a noite rua antiga, terno idílio a acontecer

 

Ontem o galanteio frustro quedava o bardo

Insinuante e servil quis cativar-lhe ao tato

Entre nãos mora o sim, foi apenas um sumário

Castiçais em noite alta, círios belos, lampadário

 

Do outro lado é o mundo em destino embrionário

O firmamento desce-lhe aos seios em brilhante escapulário

Qual pontos de estrelas-lume do cruzeiro do sul

Arqueia-se o dossel no crepe de escuro zênite azul

 

O meu canto se derrama no jardim a céu aberto

Dedilhado em cordas que harmonizam o universo

São acordes do amor galopando a viajar

Sua trança é cordilheira que esplende ao luar

 

O parque chão na madrugada ao empíreo se atrela

Na perspectiva dos dois céus um pêndulo da lua e estrela bela

O brilhante nos teus olhos, as cavinhas no teu riso

Na baixada espelha um lago, quero ser o seu Narciso

 

Depois o Leblon, olhos castanhos, anjo do sol

No espectro seus cabelos descem às espáduas num arrebol

Na manhã és arco-íris, seu verão hífen de luz

Canta o mar com chuva e vento tua beleza que seduz

 

Do menestrel ao cancioneiro, seu poeta resistente

Recosta ao luar no mármore fulvo, nas esquinas canta o tempo

Porquanto o vate da noite é fogoso corcel

A lápide é a história na noite dos véus

Mas o poema é a flor do alabastro cunhada a cinzel

 

Depois a Argentina, costa ocidental do Rio de prata

No teatro Colón, Maio é quem nomeia a praça

Do Boulevard 11 de Julho aos bosques do Palermo

Do funeral da Recoleta às artes do Museu Moderno

 

E de tango e lago põe-se a fronteira

Por Caminito chegamos ao Puerto Madero

Na Casa Rosa a alma de Evita a bradar contra a ilusão

Na praça ainda grita o povo o mesmo mantra do refrão

 

Mas regressemos ao Brasil de Taipu

Altiplanos da Bahia ao Estuário de Maraú

A península se desdobra entre rio e braço-de-mar

Na planície em tabuleiros vertem campinhas ao luar

 

Ali desce o mar e agiganta-se o coral

Deita a musa bronzeada na planura do areal

Pois se a vastidão faz do Atlântico um gigante fluvial

De lava o olimpo fez Ligia bela deusa em litoral

 

Qual musa horizontal nos braços da manhã ridente

Postal do crepúsculo na púrpura do oriente

Porque um rastro de ternura desce às belas sirenas

De labirinto a madrugadas meu dilúvio de falenas

 

Fim.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Conteúdo Protegido!!