PAINEL CULTURAL

DR. ABILIO WOLNEY AIRES NETO

DR. ABILIO WOLNEY AIRES NETO é juiz de Direito titular da 9ª Vara Cível de Goiânia-GO.; graduando em Filosofia e em História; e, acadêmico de Jornalismo; autor de 15 livros de história regional, poemas, crônicas e Direito; ocupante de cadeiras no Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG), Instituto Cultural e Educacional Bernardo Élis (ICEBE), na Academia Goiana de Letras (AGL), Academia Goianiense de Letras (AGnL), Academia Dianopolina de Letras (ADL), Academia Aguaslindense de Letras (ALETRAS); e, membro da União Brasileira de Escritores (UBE-GO) – Seção Goiás; e, do Gabinete Literário Goyano. Contatos: @AbiliowolneyYouTube

O ALCANTIL

Em crista altíssima, levanta a Serra Geral

Cortina de muralha s’erguendo monumental

Tumultuam-se morros em píncaros centralizados

Altiplana a cordilheira, em muros desmantelados

 

Coliseus em ruínas avultam em planalto

Abrindo em cavernas, precipitam do alto

Aprumam-se vértices em formosos albardões

Em passagem expandida aos ondulantes chapadões

 

Muralhas outras em blocos de granito

Aformoseiam o cenário ao contrate do infinito

Lembram ruínas incas, que se alteiam dominando

Mina o brejo na fonte como se fosse chorando

 

No tablado dos gerais, o contraste belíssimo

Belos píncaros se assentam em tronos de granito

Arremete o cerrado no fastígio das montanhas

Medra o pasto viçoso na campina das savanas

 

Severo e majestoso, abre o extenso vale

Tendo por pajem esculturas belas, espetaculares

A pique, o belo anfiteatro em muralhas

Palco em preparo de espantosas batalhas

 

O revés é o contraste…

Movimentos marciais, o rufar de tambores

A rataplã das tropas, o Buraco dos horrores

O areal da estrada branqueia a resvalar

O buritizal em coleio leva o regato ao mar

 

Em um prado sinuoso silva o estampido

O burro de Vicente empaca exaurido

Mais tiros estalam ao prenúncio do arrebol

A tropa avança pelos lados do paiol

 

Miragem surda em solidão madrugadeira

Ao coice darmas vão levando a bandalheira

Porradas, coronhas, singultos, aflição

Expira o velho chefe sangrando ao rés do chão

 

A paisagem da noite, silente, amortalhada

Vai aos poucos cedendo e pela manhã devorada

 

Magotes chafurdam ao sereno no canavial

Desfraldam os pendões ao vento matinal

A bruma da manhã vem ao cerco sitiado

Na tulha Ele é salvo pelo próprio soldado

 

Fita o céu e a serra, alcantilada e selvagem

Rochedos fulvos em socalcos de viagem

Ausculta o passado na tela da memória

Bate em retirada, almeja uma vitória

 

Sonhou com as alturas, a política, a paixão

Visionário batido nas vascas da escuridão

 

Vila Boa fechara-se-lhe como um poente

As dobradiças seculares rangendo dolentes

Para trás o púlpito, o Congresso, os discursos

Adiante a vingança, a chacina, os apupos

Desce o sol no penhasco rochoso

Incendeia no horizonte – espetáculo formoso!

Por ali, a lua beija a beleza da amplidão

Em balizas fincadas nos pródromos da criação

 

Por ali medrou o pasto na estação

Na face do morro a angústia do verde

Fenece o capim como louro em penedo

Adiante o areal que desdobra o alcantil

Do outro lado é o mundo, a hipótese, o cantil

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