SAÚDE DO CORAÇÃO

DR. JOÃO JOAQUIM DE OLIVEIRA

Nutrição – O centripetíssimo da comida

Mais e mais evidências vêm surgindo a propósito do apego exacerbado, orgíaco e orgástico de muitos grupos de pessoas à comida. Para uma melhor compreensão desse comportamento, faz-se útil e esclarecedor buscar lumes e deslindamento em estudos, ensaios sociais e psicológicos. E mesmo em pensadores como um Michel Foucault, Herbert Marcuse, Domenico De Masi. Por que desses luminares das ciências e da filosofia? Porque envolvem comportamentos e preferências dos indivíduos afeitos a esse frenesi, a essa azáfama e neurose ou “noia” degustativa.

Para se convencer do que dizem os ramos do conhecimento dessa relação que as pessoas estabelecem com os gozos, os prazeres, os chamados regozijos e regalos da boca e do baco. Torna-se bastante convincente estender um olhar crítico (de forma analítica e científica) aos espaços de alimentação. Começa-se pela nominação a esses recessos e recintos oferecidos pelo mercado do consumo. Nome: praça de alimentação. Atentem os leitores e leitoras com um conceito intelectual e interpretativo, nessa criação. Os shoppings e restaurantes apresentam suas praças de alimentação. Campos de comida e bebidas.

Quem já leu, deve melhor relacionar: e quem ainda não leu deve ler Consumos alimentares em cenários urbanos – múltiplos olhares. Pode ser baixado de EduUERJ. E vale a pena essa reveladora análise, da fixação que as pessoas, sem nenhuma racionalidade nutricional, estabelecem com as comidas. Não vale só repimpar de vaca, mandioca, carneiro, porco, farináceos, arroz, tutu, picanha, costelas, e mixes de sacarose, caramelo, chocolate; de saideiras.

O que se deixa de tintas e noções desses conhecimentos científicos e filosóficos é que muitas são as pessoas que se revelam no que elas são de cabedal e padrão civilizacional e ético, social e preferencial, ao se refestelarem desses expedientes orgíacos e de gozo com a comida, cervejas, refrigerantes como Coca-Cola (o nome já diz tudo da intenção de seus criadores e industriais, meu Deus!). Engodos, engodos, iscas, iscas, ardis e armadilhas; e os bobinhos e hebetados (as), são idiotizados e doutrinados de forma irreversível. O mercado e indústria de alimentos impõem sua ideologia e doutrinação da comida! Status.

As comidas para esses consumidores comilões, frágeis intelectuais e clientes gástricos e digestórios, representam a centralidade, “o motor imóvel maior” de suas vidas. Os expedientes e gestos digestórios a la Pantagruel e Gargântua desses grupelhos e tribos de pessoas, são sua realização existencial. Já que poucos miram e fitam em alguma essência que os tire do estado de hebetismo e enésima Zeferina em que se encontram. Comer, comer, comer. Empanturrar, repimpar, refestelar: eis o escopo único e maior, semana a semana, mês a mês. E só.

Mas, não basta esses regalos, gozos e regozijos. Há ainda um complemento não menos fútil que frívolo, o de postar tais cenas risíveis e gozosas comemorações em suas inanes e ocas redes sociais. O Instagram para esses e essas, são os seus murais virtuais da futilidade, infantilismo e idiotices. Conforme uma ONG britânica, dedicada ao que as pessoas buscam de evolução social e intelectual; no Insta de cada pessoa se vê o seu curriculum de frivolidades, infantilismo e vacuidades. Como um tambor, que soa, soa. Mas, soa por ser vazio. E acreditemos ou não há os seguidores e seguidos desses tais e quantos indivíduos. Todos decíduos dos atributos de racionalidade e superiores. Arre! Valdevinos, boca farta, ridentes. Morangos, morgados e benjamins. Vamos ler um cardápio mais de John Dewey, Martin Heidegger, Herbert Marcuse, Günther Anders e Hannah Arendt.

O físico Albert Einstein ao afirmar que: “O espírito humano precisa prevalecer sobre a tecnologia”, evidencia a necessidade de mudanças nas atitudes humanas frente ao desenvolvimento tecnológico, pois o espaço ilimitado da internet tem gerado a proliferação de discursos carregados de ódio e preconceito.

Este ensaio pretende pôr em evidência a noção de existencialidade da comida em uma relação de oposição à de racionalidade nutricional (VIANA et al., 2017) ao considerar a alimentação como expressão do projeto existencial subjetivo constituído no mundo dado, em meio a outras presenças. O esforço encontra justificativa no exacerbado modo de pensar e agir derivado das atividades científicas que culminaram na atual configuração do campo científico da alimentação e nutrição (BOSI, 1994). Como causa e consequência da intensa cientificização do processo alimentar, a racionalidade nutricional, acredita-se, estaria em descompasso com o processo existencial envolvido no cuidado de si (FOUCAULT, 2006) ou, por outras palavras mais específicas, no ato de alimentar a si mesmo e ao outro. Esse capítulo está publicado no livro Consumos alimentares em cenários urbanos – múltiplos olhares disponível para download gratuito no site da editora EdUERJ.

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