Carlos Henrique Alves do Rêgo (Carzem) lança livro, sonho acalentado por quase duas décadas, motiva colegas das escritas também fazerem o mesmo, lamenta falta de melhor sintonia entre os escritores e comenta situação da Academia Uruaçuense de Letras (AUL), entidade presidida por ele e que carece de estruturação. Saiba sobre a obra, lendo a reportagem, inclusive a entrevista.
Narrando à reportagem ser “a realização de um sonho de pelo menos uns 18 anos” Carzem sublinha que o resultado final do livro Mais de um pensamento, “com a mesma foto da capa de agora e em tom vermelho”, não se trata do mesmo pensado no início dos anos 2000, haja vista que “com o passar dos anos, é natural que a gente evolua e, assim sendo, algumas escritas deixaram de ser primordiais e outras foram compondo o novo livro, que ora foi lançado”.
A escritora Sandra Rosa comenta, na orelha do livro, revisado por ela: ‘É uma seleção de letras de músicas, frases e poesias, sobre temas variados, escritos a partir dos anos 1990, que vão fazer o leitor refletir’. Nas composições, por exemplo, produções de Carzem feitas especialmente para banda local Frutos do Vício, com a qual mantinha sintonia plena, mais as amizades com os integrantes Rhalder, vocalista; Marão, guitarrista; Roberto Robson (Robinho), baixista; Duda, baterista; mais Harley Diniz, no apoio.
‘Em ANONIMATO, Carzem nos lembra o drama da existência humana, expondo a essência do seu pensamento’, escreveu doutor Mariano Peres, advogado, escritor e poeta no prefácio do livro.
Profundezas
A veia poética da humanidade, da dedicação, do amor é uma característica de Carzem e quem lê o livro (que é de fácil e dinâmica leitura) depara com esse fato em ocasiões de distintas páginas. Três trechos, como exemplos aqui estão.
Em Dona do meu coração, o autor crava:
Quem ama não mede esforços,
Não mede esforços, não.
Só mede o peso
Do amor do coração.
Enquanto isso, em A música não pode parar (1992), está:
Uma banda eu vou formar,
FRUTOS DO VÍCIO vai se chamar.
Guitarras vão se tocar,
E a música nunca vai parar.
Já em Minha mãe, é apresentado:
Aquela que muito me amou,
Deu-me nome, lar, educação.
Iluminou minha vida!
Alzira, minha mãe. [Nota da Redação: Carzem foi criado pelos humildes e saudosos avós maternos Dona Alzira/Senhor Epaminondas, pessoas da mais alta honra e dos mais graduados bons princípios
Entre as frases, no final do livro, tem essa de 1999:
Estou me recuperando do ‘veneno’ de algumas ‘cobras’ que eu criei.
Lançamento
Lançado dia 17 de maio, durante a realização da 19ª Semana Nacional dos Museus, realizada pela Secretaria de Cultura e Turismo de Uruaçu, a obra de 112 páginas detém trabalhos produzidos em diferentes faixas etárias e fases comportamentais de vida do autor, que, entre 1991 e 2001 ganhou visibilidade considerável editando periódico de circulação na sede do Colégio Nossa Senhora Aparecida (CNSA), onde estudava; nas casas de colegas de unidade de ensino; nos então agitados e bons bares, lanchonetes e afins, nas vias públicas, além de serem enviados pelos Correios.
A cena noturna de uma Uruaçu agitada – inclusive as efervescentes, saudáveis festas promovidas sucessivamente nas casas dos organizadores –, ganhava espaço no Jornal Intellectus, mimeografado em papel sulfite. Época em que o mesmo aproveitava e veiculava poesias e composições dele próprio e de alunos contemporâneos, com todos ganhando espaço.
Antes, em parte de 1991, suas escritas eram através do idêntico Jornal Pirata, também cria de Carzem.
Lembrando a saudosa escritora Áurea Celeste Martins, Carzem pontua que a professora/escritora deixou “legado de cinco livros de poesias publicados numa época que não existia aqui para nós nem computador! Uma salva de palmas para essa grande poetisa, tão injustiçada por muitos que não reconheceram nela o merecido valor! Publicar um livro, dizem alguns que é como ter um filho. Eu não tenho filhos, mas comungo dessa afirmação”.
Além de presidente da Academia – trabalho voluntário –, Carzem é funcionário do Banco do Brasil, em Uruaçu. No jornalismo, trabalhou, entre outros, nos jornais Tribuna do Norte (extinto) (sediado em Uruaçu) e Diário do Norte (cuja sede atual é Goiânia).
Na Universidade Estadual de Goiás (UEG), em Uruaçu, cursou Ciências Contábeis, quando novamente voltou tempo para a edição-geral de periódicos estudantis: Jornal Coração de Estudante (1997 a 1998) e Jornalzin’ do D.A. (1999 a 2000).
Pela então rádio Educadora (que depois teve nome mudado para Lago Dourado), extinta posteriormente, atuou em duas fases, com participações especiais em programas apresentados por Jota Marcelo, editor do JORNAL CIDADE; e, Ferreira Santos.
Durante um ano e um mês atuou na área da Comunicação Social da Prefeitura de Uruaçu, quando do mandato inicial da prefeita Marisa Araújo (2001-2004), saindo para trabalhar nos Correios, via concurso público. Em 2007 e 2008, respectivamente, criou e passou a editar o Site do Carzem e o Blog do Carzem.
O currículo de Carzem é extenso e de qualidade. Pode ser conferido em duas páginas iniciais da obra.
AUL
Espontaneamente Carzem decidiu em agosto de 2017 ajudar organizar, estruturar a Academia Uruaçuense de Letras, missão difícil, tamanha a quantidade de deficiências apresentadas pela representação. Desde o início do desafio, é visível o esforço do presidente, mas, também o fato de que ele precisa de apoio, começando da parte dos membros acadêmicos.
Fundada em 22 de maio de 1998, jamais a AUL conviveu nesse tempo com o lançamento de tantos livros de talentos residentes em Uruaçu ou de ligação com a cidade.
“Uma pena que, assim como acontece com a cultura em geral em nosso Município, os autores e autoras de livros não sejam uma classe mais unida”, observa Carzem, alertando sobre o desgarramento existente entre os escritores da cidade do Norte goiano.
[Leia entrevista com o escritor Carzem
Carzem: ‘O livro tem como foco o meu estado de espírito’
“Teve vezes de eu acordar no meio da noite com uma ideia, ou uma frase que seria parte de uma poesia, ou mesmo com a poesia toda pronta na minha cabeça. Tinha que anotar ali, naquela mesma hora…”, relembra Carlos Henrique Alves do Rêgo (Carzem), sobre o conteúdo do livro Mais de um pensamento, lançado recentemente.
O que representa poder lançar seu primeiro livro?
A realização de um sonho de pelo menos uns 18 anos. No ano da morte de meus pais adotivos, eu tinha conversas bem adiantadas sobre patrocínio para publicar, já naquela época, o livro Mais de um pensamento, com a mesma foto da capa de agora e em tom vermelho… É lógico que não seria o mesmo livro! Com o passar dos anos, é natural que a gente evolua e, assim sendo, algumas escritas deixaram de ser primordiais e outras foram compondo o novo livro, que ora foi lançado.
Comente um pouquinho sobre o foco da obra.
Poesias ou letras de música, o livro tem como foco o meu estado de espírito: feliz/triste, motivado/desanimado, alegre/enraivado… Teve vezes de eu acordar no meio da noite com uma ideia, ou uma frase que seria parte de uma poesia, ou mesmo com a poesia toda pronta na minha cabeça. Tinha que anotar ali, naquela mesma hora. Senão, a perderia para sempre.
Como vê o fato de escritores locais ou de ligação com Uruaçu lançarem tantos livros ao mesmo tempo (algo jamais visto)?
Quem primeiro me chamou atenção para essa realidade foi o Belchior Cabral, então secretário municipal de Cultura, no governo da prefeita Solange Bertulino [2013-2016]. Ele, que é de Uruaçu, mas vive e trabalha cultura há anos em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, ficou admirado com a quantidade de escritores com obras publicadas em Uruaçu, sendo considerado um número altíssimo, proporcionalmente falando. Além de outros tantos que ainda não adquiriram condições, como patrocínio, apoio cultural, para publicarem suas obras. Eu acho o máximo! Fico muito feliz por estar inserido neste contexto!
Qual é a sua avaliação sobre o patamar de interatividade da categoria?
Uma pena que, assim como acontece com a cultura em geral em nosso Município, os autores e autoras de livros não sejam uma classe mais unida, ou mesmo corporativista entre si, eu diria. O ideal seria um lendo o outro. Um comprando o livro do outro. Um dando dicas de projetos ou patrocinadores para o outro. Vejo e ouço muito mais críticas – algumas até com o complemento ‘construtiva’, enquanto de construtiva não tem nada –, da obra do outro, quase que visto como um concorrente ou um adversário. Temos a Academia Uruaçuense de Letras [AUL], que vem tentando ‘abraçar’ todos os escritores de nossa cidade, no sentido de ser um campo neutro de julgamentos e um ‘oásis’ para os que necessitam de recarga, paz, etc.
Lançar livro é uma vitória…
…Lançar um livro é uma vitória, sem sobra de dúvidas! Fico imaginando, por exemplo, a saudosa Dona Áurea Celeste, ilustre poetisa de nossa cidade, deixando para nós o legado de cinco livros de poesias publicados numa época que não existia aqui para nós nem computador! E-mail deveria ser coisa de ficção científica. E ela, com seus manuscritos ou, quando muito, textos datilografados, partia para a editora e trazia livros de poesia. Uma salva de palmas para essa grande poetisa, tão injustiçada por muitos que não reconheceram nela o merecido valor! Publicar um livro, dizem alguns que é como ter um filho. Eu não tenho filhos, mas comungo dessa afirmação…
…Dedica a quem essa conquista?
Meus parceiros para a realização dessa vitória foram o Rodrigo Kramer e sua esposa Larissa, que escreveu o projeto para mim. Professora Nilde [secretária municipal da Educação uruaçuense], que, enquanto esteve na secretaria de Cultura do Município, foi uma grande incentivadora e entusiasta minha. Professor Jean Ribeiro, então gestor do Fundo Municipal de Cultura, outro incentivador. Professor Castelo que, dentro da Comissão que avaliou e deliberou os projetos, foi aquele que aprovou o meu. Doutor Mariano Correia Peres, presidente fundador da nossa Academia Uruaçuense de Letras e renomado escritor de nossa cidade, que prefaciou a obra. A escritora Sandra Rosa que mora em Goiânia e fez a revisão do livro e a orelha. Não nos conhecemos pessoalmente, mas ela foi um encanto de pessoa desde o primeiro contato! O Felipe Barros, meu contato, elo com a editora Kelps [Goiânia].
Deixe seu conselho para quem deseja lançar livros.
Não desistir. Pode parecer clichê mas é muito importante isso. Conheço um monte de gente que tem livro pronto para publicar e ainda não conseguiu. Não é fácil publicar. Já foi bem mais difícil! Eu esperei, cerca de 16 anos para publicar Mais de um pensamento. Quem não tem dinheiro, precisa ter parceiros, contatos, agarrar as oportunidades, como editais, projetos… Às vezes, até tendo dinheiro, se não tiver contatos ou articulação, não tem bom êxito!
Ter boa orientação é importante nessa causa. Correto?
Temos a Academia Uruaçuense de Letras, que ainda não está redondinha do ponto de vista organizacional, mas que pode dar algum suporte, tipo indicar caminhos, intermediar contatos. Também temos a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, hoje, na pessoa do Moacir Galdino, atual secretário com sua equipe que está lá no Museu Dom Prada, orientando, informando e, na medida do possível, ajudando a todos os ‘fazedores de cultura’. E, por último, temos o Conselho Municipal de Políticas Culturais [CMPC], órgão fiscalizador, consultivo e deliberativo das políticas públicas de cultura, com 12 representantes, sendo seis do poder público e seis da sociedade civil.
Você porta experiências variadas na comunicação social. Imaginava tudo isso lá na época de Colégio Nossa Senhora Aparecida (CNSA)?
Jamais! Naquela época, com a impetuosidade da juventude, eu achava que poderia – e iria –, mudar o mundo. Meus primeiros escritos traduzem bem isso: as letras de músicas Pátria amada e Dark, eu vou ser. E, e as poesia Sonhos de mocidade e Aqui jaz…. Não que eu tenha deixado meus valores e princípios de lado – o espírito ainda é revolucionário! –, mas a gente vai sendo lapidado.
Como está a questão da regularização da documentação da AUL?
Apesar da nossa aparente normalidade, pelo menos do ponto de vista do que é visível – estarmos abrigados dentro do prédio do Museu Dom Prada –, nossa Academia, em sua parte legal/estrutural, está capenga, necessitando dos nossos cuidados e esforços. Aos fatos: a Academia não tem Ata de fundação, não tem registro no CNPJ e não tem ficha dos membros. Com a intenção de atender a legislação vigente, precisaremos ampliar nossa diretoria e temos uma extensa pauta para atualizar: 1º) Aprovar a Ata da reunião anterior. 2º) Aprovar o estatuto. 3º) Aprovar a logomarca da entidade; e, 4º) Preencher ficha dos acadêmicos. Infelizmente, para piorar a situação estamos vivenciando esta pandemia do Covid-19, que tem dificultado de nos reunirmos presencialmente em Assembleias.
Mais alguma observação?
Estou com uma coletânea de poesias para ser publicada pela Academia Uruaçuense de Letras. Espero que seja ainda esse ano! Essa coletânea conta com aproximadamente 100 autores, todos de Uruaçu – único requisito para participar –, com três poesias cada um. Além disso, quero agradecer a todos os amigos que têm comprado o meu livro e a vocês – Jota Marcelo e Márcia Cristina –, pela oportunidade de divulgar esse trabalho nas páginas do conceituado JORNAL CIDADE!
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(Jota Marcelo e Márcia Cristina)